quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O Homem de Okhotsk


I
O cárcere de pedra é gélido às margens do Mar de Okhotsk. Apenas um estreito feixe de luz invade a escuridão do espaço. O homem, no canto mais seco, luta contra a umidade e a neve: com uma espécie de agulha negra entalha desenhos complexos em seu corpo. Diante da sombra, a tinta é a única forma, ele pensa, de se manter aquecido e desperto.
O homem inicia a criação de paisagens em seu corpo; sua pele é deserta e vazia, o sopro de gelo entra pelo espaço das frestas e mesmo sem um agasalho ou idéia das cores, ele começa a pintar-se pelos pés com uma seqüência de oito praias escuras que acompanham os intervalos entre os dedos e que seguem para o interior dos pés como uma vegetação de arbustos e espinhos até converterem-se em uma densa selva tropical nas coxas e virilhas. A partir da cintura, a floresta criada pela agulha em seu corpo passa por uma transição até tornar-se uma savana aberta que se espalha sobre seu abdômen até a desnivelada aridez das serras que ele entalha nas costelas.
Sobre toda a parte inferior de seu ventre ele delineia um grande e calmo mar interior abastecido pelas águas de dois rios que nascem na ponta de seus mamilos. Fontes, lagos, regatos e riachos são criados acompanhando alguns setores do sistema circulatório e o homem contorce seu corpo como um circense para poder cobrir todo o resto de seu tórax com uma vegetação agreste alternando tundras e desertos.
.
II

São poucas horas sem o vento gélido no rosto; é preciso aproveitá-las para corrigir imperfeições, redefinir nuances: Nos pés, beirando as praias e baías, o homem cria uma nova cidade portuária cercada de bosques de palmeiras e bambus. Em seu rosto entalha uma espécie de taiga siberiana, onde eventualmente se destacam contornos de leopardos brancos ou ursos do Himalaia.

Nas fronteiras de seu pescoço tatua uma série de planaltos e glaciares se estendendo até as orelhas, onde ergue indistinguíveis precipícios. O frio domina todo espaço da cela e uma espécie de cerração glacial impede o homem de sentir com clareza a grande área de charcos em que se afundava seu braço esquerdo durante um breve momento de desatenção, mas é tempo suficiente para seu braço torna-se um campo fétido e infeccionado e ele então, como que para proteger-se de uma desventura térmica, se põe a drenar seus braços com diques e canais.
.
III
Amanhece outra vez embora ele não perceba a pouca variação da luz no inverno ártico; o homem reúne suas tímidas forças e se força a começar um largo projeto de irrigação que planejara na véspera: acabar com os áridos contrastes de seu tronco, transformar seu abdômen e as costas em um mosaico de culturas que produzam de vinhedos, queijos, trigo e mel até laranjas, rosas e resinas. Nas nascentes de seus mamilos cava poços e minas d'água e agora manadas de cavalos e gado atravessam anualmente seu tórax para serem vendidas no sul ou nas fazendas do dorso.
Às margens do mar interior de seu abdômen costura com a agulha um próspero centro de veraneio onde espalha hotéis sofisticados, boutiques de luxo, quadras de tênis e um belo cassino de tapetes aveludados. Esculpe seu pênis como um furioso vulcão cercado por florestas de pinheiros em cujas encostas se espalham ruínas de antigos templos destruídas pelas seguidas erupções de magma branco.
Em sua nuca o homem consegue criar, mesmo absorvido pelo sismos e pelas temperaturas de Okhotsk, uma suntuosa cidade-estado de avenidas largas, plátanos em fileiras, restaurantes nas calçadas; e mesmo tendo já perdido a sensibilidade nos dedos, ele entalha com precisão na cidade, clubes de campo, escolas de música, academias de arte, bibliotecas, hipódromos e na enorme praça central de sua capital ele desenha uma suntuosa gare.
.
IV
O homem sente um estranho formigamento nas extremidades na data em que começa o grande projeto da expansão corporal ferroviária. Primeiro, constrói a locomotiva que liga as vilas caiçaras na planta dos pés, atravessando as selvas, até as cidades das colinas localizadas nos joelhos; depois um custoso empreendimento conecta este primeiro ramal da estrada de ferro à tímida estação de trem situada nos ducados estabelecidos às margens das águas do umbigo.
Da capital desenhada em sua nuca projeta uma enorme ferrovia que seguindo os montes de sua espinha dorsal, atravessam seu corpo de norte a sul, passando por campos e vinhedos que se estendem pelas encostas de sua dorsal e bifurcando-se na altura do cóccix. Um dos ramais da ferrovia segue até as aldeias de pescado e estanho do pé direito e outro atravessa um enorme túnel sob o joelho esquerdo seguindo até o porto localizado no dedo maior de seu pé, onda agora já se destacavam armazéns, feiras e atracadouros.
Delineia então dois novos grandes vales, dos ombros à cintura, entre a cordilheira da espinha dorsal e as serras da costela e batiza os dois rios paralelos com os nomes de Tigre e Eufrates e então irriga suas costas e cria uma miríade de cidades-estado.
.
V
Quando terminou de tatuar cada centímetro do seu corpo com precisão pensou se já não era hora de desenvolver um pouco as cidades, aumentar a produtividade nos campos e o homem resolve então diminuir a área que concede às paisagens e cria novas colônias agrícolas, assentamentos rurais, serrarias e decide furar poços de petróleo em sua virilha e promover uma plena industrialização de seu corpo. Criou então um pólo industrial em suas nádegas onde concentrou toda a indústria pesada incluindo metalurgia, petroquímica e fábricas de tratores.
Com febre e rangendo os dentes em espasmos de frio ele fura em seu corpo a luz das lâmpadas nas antigas paisagens intocadas, fábricas de curtumes, gás e tinturarias; com fortes espasmos das agulhas em fúria, entalha motores em seu ventre, fornalhas, caldeiras e guindastes, estaleiros; sobre a natureza tropical de suas pernas, ergue grandes complexos minerais de borracha e ferro e o homem triunfante em seu tremor de artista, tenta pelo menos penetrar fisicamente a indústria em seu abdômen, a agulha lhe fazendo um excesso de carícias pelo corpo, ele rasga a própria carne para sentir os perfumes do óleo e do carvão.
O homem estabelece então uma breve divisão política das partes de seu corpo e estabelece uma Monarquia Constitucionalista ao redor da grande cidade-estado na nuca, nas pernas estabelece regimes presidencialistas, nos pés crescem prósperas repúblicas mercantes, nas nádegas estabelece uma confederação de feudos estabelecidos em torno de palácios fortificados, nas costas imperadores-filósofos lambuzam-se no bálsamo dos grandes rios.

Para seguir industrializando seu corpo, o homem pensa ser necessário grandes provisões de combustíveis e matérias-primas, então cria minas de carvão e ferro nas costelas e nos cotovelos, e estabelece uma guerra entre os diferentes estados que criara em seus braços. A campanha militar é desastrosa para os habitantes do antebraço, a resistência deles, desesperada, contra os generais dos ombros usa o método da terra desolada e irresponsavelmente tudo que há no caminho entre o ombro e os pulsos do homem se queima. Sua pele é destroçada ao longo de uma retirada apressada, mas o processo de industrialização ganha impulso na região das nádegas com a crescente demanda por armamentos.
.
VI
Na hora se de deitar, sua mente passeia desde as colinas e pampas dos peitos até a garganta, as praias do abdômen, os capoeirões da cintura. Ele treme como um electrocutado e conforme treme ele sangra de suas repetidas investidas nos mesmos pontos; a taiga de seu rosto sangra em cascas, os campos de sua espinha dorsal sangram em placas, suas serras na costela em hemorragia e na umidade da cela só o que ele faz é misturar o sangue à tinta e à terra e ele, trêmulo e cansado das turvas feridas de suas paisagens, resolve refazer as cidades de forma que eles voltem a parecer justas e harmônicas e não aquela sujeira de poluição e lama; para isso saneia os rios contaminados pelos metais, moderniza as docas, urbaniza os cortiços e demarca parques para proteger os poucos esboços de paisagens ainda intactos em seu corpo.
.

VII
Suas mãos deveriam ter permanecido como os últimos pontos intocados de seu corpo, era somente ali que o homem sentia ainda sua própria pele como a paisagem, mas as agruras do clima levaram suas mãos ao desastre do frio e o homem para aquecê-las se pôs a pintá-las com as agulhas como se fossem verdadeiros fiordes e então, desiludido com o desenvolvimento irresponsável das paisagens em seu corpo, com a insuficiência das medidas que tomara para conter a podridão, amargurado pela dor das indústrias que misturam tinta e terra à sua carne, ele resolve por fim promover um grande dilúvio em seu corpo e assim acabar com aquela imundície. Com a agulha começa a grande inundação e as águas negras vão tomando tudo desde seus pés, subindo pelo tronco e a última sensação que tem, antes do frio apagar sua sensibilidade, é sentir uma luta feroz entre um cachalote e um marlim gigante na cavidade funda e vazia de seus olhos.

.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Arrogância

.
For Bunny

I
.
Luis XIV dizia: "L' État c'est moi"

Gustave Flaubert afirmou: "Emma Bovary c'est moi"

Eu digo, de antemão: "Le Kanon c'est moi"


II
.
Que quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser Kanon na vida.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sim, nós temos pradarias

.
.
O rio segue a formiga que segue o garimpeiro que avança logo ali na escada; melhor: bactérias escutam notas de piano e vão dançando de ilha em ilha como cachalotes ao sabor dos tiros

Mais uma?!

Como pensava o ostrogodo na trincheira sob o rebanho da aviação aliada se a passagem entre o Negro e o Orinoco era ainda uma paranóia das revistas de viagem que , de alguma forma, ajudam a entulhar ainda mais de documentos esse nosso estúdio-quarto sete por dois?



PS. Ainda outra? ok

Respondi na data: Sim, nós temos pradarias, disse isso lançando mão do incêndio que duraria até as chuvas torrenciais: yes, nós temos pradarias

(...)

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Lembretes

.
1- Marcar Vistoria Detran
2- Encaminhar documentação apartamento
3- Pressionar editora
4- Peça / Crockette
5- Ler a C. dos Tamoyos
6- Mitologizar a semana

.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Edifício Manhatã

.


Faltou o tio que roubava cobre nas estradas de Friburgo, que levava nos cadernos tudo que escavava, em sua engenhosa urdidura de arqueólogo:
.

“ Tirem-me de Samarcanda
Arranquem-me as carvoarias
Deixem-me surdo, as chuvas,
várzeas arrasadas,
pele?
(...) ”

.

Distraidamente aquela tarde inteira ele correu até alcançar e dizer:
.

“Espere.
Não deixe que
esse vai-se ver
e não vê-se
sem
idade, o sol
queimando ao
redor das
olheiras,
a noite

enunciando
lógicas de
caramujo,
não deixe.
.

No ensaio

de prosseguir,
prossiga."


e o old man searching for a hotel found sua cama numa bottle de martini

.

sábado, 25 de outubro de 2008

Fumo.

.

Fumo.
.
É uma maneira
de dar sentido
ao vento

.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quand

.

seremos

.

somos

.

ou teremos sido

.

?

.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Insulares

.

ser

de

ilha

.

da

.

ilha

de

ser

.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Milésias Ficciones

.


a Aristides de Mileto e Menipo de Gandara

.

(...)


O taxi parou bem em frente à portaria para trazer a mensagem:


“Guiarias um carro de guerra ou lhe parece melhor a idéia de liderar os arqueiros?”


E Tseu-lou pensou em voz alta: “Eu colocaria ordem nas fortalezas”

.


(Naquele trecho do rio inferior os pescadores

bebiam vinho em quantidades inverossímeis.

Era tida como uma terra de casarões nas barrancas) ..

.

Além de rico comerciante,
era também dono de cortiços
companhias de arrendamento

um velho imbecil

.

.

A verdade é que já não havia mais ninguém em volta


Só alguns olhos de perversa inocência, cebolas arrancadas sob um sol de espetos, o burro, de vértebras rijas, curvo sobre as dunas, e eu olhava a estrada, os calangos, as água de poço sem fundura e pensava que jamais alcançaria o acolchoado.

.

Foi o dia em que trepei na marquise :


um sétimo andar na zona portuária

.

. chovia a cântaros

.

a luz circular do refletor
sobre o colchão improvisado .

.


e eu queria seguir avançando
apesar da franca desvantagem

..

..

mas ela retrucou, precisa: ..

..

Mostre um milagre qualquer

e então desapareça

.

enquanto estiverem todos

surpresos

.

.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Baque Revisited

.
de sair
de dizer

de gritar
aos cadernos:

Vai Carlos, Coragem.

O Baque é macio
no tempo

.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

04:00 a.m.

.
I
Quando olhei
no relógio
as quatro horas

me veio o
imperativo de
deitar-se:

Aguardar
ansioso o
retorno

de mais
uma
madrugada.

II
Instauremos um dia de 120 horas:

- 24 hrs de manhã
- 24 hrs de tarde
- 24 hrs de noite
- 48 hrs de madrugada

Aí sim
surgirá
a nova

poesia
.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A

.
Retorno:

o que
o coração aguarda
a todo instante


Mais que o tempo


a

asa

.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Areh ianoh ventoeh lishah

.
........Semin eralizarse,.......
........fendana srochas,.......
........penet rarof óssil,.......
........lodod asfor mas.......

............prim evas.........

.


terça-feira, 30 de setembro de 2008

Estio

.
Assim,
sem qualquer
clima verbal
de recriar
uma epopéia
de casais separados
barcas
sem motor
implorando
generosidade
às velas

Assim
de secura
extrema
nas entranhas
sem nem
vinagre para
cerrar as
janelas
sem uma
donzela
pra comprar
uma caixa
de cerejas
alguma seta
para indicar
o caminho de
Aleppo
.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

do Ofício

.

"O coração vota

e o dever dita: escreverei."

Maiakovski

1.

Questão:

.

Se

as palavras

do poeta

são a sua

ressurreição

.

então a arte

consiste

tão somente

em saber

utilizar

.

a palavras alheia?

.

2.

Breve exemplo saqueando o cronista português do século XV, Fernão Lopes:

.

"E dois

de seus

escudeiros,

com temeridade,

resolveram

roubar

um judeu

que pelos

montes andava

vendendo

especiarias

e outras

cousas.

.

(e foi assim,

de feito,

que roubaram-no

de todo,

e (o pior)

mataram o

homem."

.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

da Ópera dos Fortes

(...)

"Tive de ser a cada vida, cidade na ponta dos bombardeios, velho canhão na ópera do forte

dizia adeuses, das inocências das portas do limbo, anjo sobre carruagens nas rotas do quarto vizinho

da velhice passada nas galés, estalagens na estrada provinciana, salvo das vagas pelo olhar furioso

nao mais o falso especialista em cartografias, homem da visão nos números, príncipe dos jogos de azar

não mais vagabundo de guerras vagas"

(...) 

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Abissínia - Carlos Andreas

Lançamento do livro Abissínia de Carlos Andreas nesta quinta agora, dia onze de setembro
Aguardo a todos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Açoite

..
.
"pela manhã, que nos depara a
ilusão de um princípio"

Jorge Luis Borges

I

era o início do
grande caminho
quando parei
para interrogá-la

mas ela era
incapaz de responder
e já não havia
rastro de

ninguém

II

deixa então na
imensidão que
enxergas

e segue com
a claridade

como um
farejador
de patas

III

e lhe perfumou
a espada
aquela investida
dos cães
junto aos
camelos

ante o
frescor das
tempestades
de granizo

IV

criadas no conforto
gazelas conduzem
sem rédeas as
manadas para oeste

seguem-na as
formosas dádivas
ao primeiro
garanhão que
cruzar a
linha das
pastagens

mas no charco
a lasca de
vidro ainda
atacava
em cirurgias

mesmo nos
afligidos de
inflamações

nos olhos

V

galhos quebrados
amontoados de
entulho ruidoso

o vale confuso
nos arvoredos
de espuma

a soma das
tribos
nas margens

castigados
por um
açoite

permanente
de
torpezas

VI

apavorado
após cansaço
e suor
buscando

refúgio
no
mastro
do timão

perto de
onde
dormiam

o caldeirão
e a
vala

.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Basra VIII

.

Diversas
danças e jogos
e ensaios de
beligerância e ele
nos bailes aos
pares e ela
com certo receio
nas estampas
como da fama que
alguns carregam
a vida toda e

ele dono
dos campônios
na cintura a mania
e o propósito
dos saques
não negava-se
o prazer da
caça acreditando
que saber
profetizar o tempo
é ver a própria
dissolução e
cortejar o
próprio

fim

.

domingo, 10 de agosto de 2008

Basra II

.

Simples a
percepção de
cair na
lembrança e
perceber o
hoje há
cinco milhões
de anos
atrás

e o

mesmo exato
do tempo
olhando sem
ver aquelas
idéias que
eu
não sem
claridade
sou incapaz

de roubar

.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Basra V

+ um tango do cavalo apeado


1.
e
no último capítulo, com pesar do desterro,
o dia inteiro anteontem e passando
por um velho que de laboriosas
feições inundava seus contos

e de fronte assim meio
ofendido talvez por
eu estar à frente
um pouco à
sua frente

no palco

2.
depois
a noiva
a irmã da noiva
a primeira dança da noiva

o rancor no bairro
as zonas de meretrício

ás as às

3.
antes
as certezas valentes
nos bancos da igreja

as certezas valentes
de farmácia

4.
aqui
a festa:
jagunços
na porta
escutam
um velho
bolero
de ilha

5.
suas selas
sem estribos

com descuido
esquecem freios

e aí tudo se perde

como um grande
pranto

de arreios


.

Basra IX

.

1.
o Adão desgarrado

olhos como brasas
na pata das cebolas

2.
o mesmo, mesmo diante da
velha palmeira abatida

3.
e pisar na
terra num ar
tão feliz como
navio risonho
em vista de final
de paisagem

4.
de obsceno
aconchego
o ladrilho
na embriaguez
da solidão

no banho


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Basra XXI

.

Mais alguns

lances no

terraço circular

mais alguns

três mil

homens na

defesa do fortim

mais um tanto a

profissão de

roubar tecidos

descuidar

das pedras

mais de outros bustos

nas rachaduras

persistência indigna

das pérolas

mais uma escada

que levasse ao interior do forte

brisa noturna

que nos levasse os

parágrafos


.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Basra IV


Quarenta e sete capitães arrebatados pelo jogo nos bordéis, e outras figuras enfileiradas no salão. o de caudalosos juncos que iluminava, na luz, os soldados, o qual com um vigor de sonolentos trotes. do cavalo apeado, sem cortesia sem lamentos sem cartas, os meses na consciência, o olho de fio aguçado. verbo de amplificação e montanha,

...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Basra XIX

.

O alicerce sulcava a

montanha mas

não era da

trilha visível

além do

que as gretas

trabalhavam para

distrair o viajante


só que refugiados

ignoravam as

regras do governo

provisório e

não me

surpreenderia se

envenenassem os poços

se pelo menos

refizessem as

portas

quando lá alcançaram

atrasados

um agrado

que jamais

me lembrava

o som daquelas

gotas no ar

condicionado

subterrâneo

da gruta e

o granito no

piso como

uma espécie

de consolo

para os órgãos

contra uma

reprovação que era

quase remorso de

havê-los destacado

e o último

capítulo pode

ser uma ponte

com o sétimo

mas talvez

ficasse melhor

com o terceiro

pelo significado

de serem

partes que

consumiram soldados

enquanto as outras

partes que transcrevi

falam do

último capítulo


de perto o mais

curioso daquele

que professei

o que assino


( levanta-se

testa a voz

com descição

na mesa) e


a rotina era

como se

esperasse de

um convidado

qualquer hostilidade

que justificasse

mostrar o punhal

mesmo que soubesse

que na frente

da mulher de

cabelos cacheados

estaria suado

e a prata não

reluziria tanto


então

chamar o

forasteiro que

dorme na

cocheira e

pelo braço

em lágrimas

a moça vê sua

torre de vertigem

à vista de todos

a moça vestida

a moça descalça

conforme o

plano o

movimento das

ruas arrefecia

mesmo sabendo

que seria um bom

dote para

o casamento

mas um estampido

chamou de volta

a atenção da

tropa e as

coisas não

passaram exatamente

como conto

as cores vivas

sem cessar

há dois anos

um após outro

e não me

surpreendi de

conversar com

eles na tarde

em que encontro

todos que sejam

alguma lembrança

e lutar um

ato só é

mais que todas

as horas dos

homens mais que

os homens

cujas pernas não

atravessaram o

campo de batalha

mais que

uma língua

secreta um

destino

um acaso que

toda negligência

deliberada

não ouvindo

clamor no

telhado subiram

para ordenar

mantimentos e

quanto mais

recordavam mais

nada se

compreendia

e os atos dos

loucos apareciam

como primores de

sensatez

e nas cavidades

onde se revezam

o túmulo e

florista e

o clima

demorava

numa grosseria

de léguas e

de madeira

pintada cantavam

os pastores

com seus

vocabulários de

palmeiras e

com pesar

a escrava de cabelos ruivos

desaparece

no solo da rua

e o microcosmo

do pensares

e as milhares

de aparências

segundo o

entendimento da

treva entre

o ser faminto

e o pedaço

de carne

na mesma baixa

lógica das

marés a

perder-se do

lado de cá

numa baía de

tais estranhezas

que nem o homem

das areias

nem o vizir

nem o de fama de covarde

nem o contrabando

e eu

disse-lhe: “falta

pouco para terminar

a obra, necessito

um último

adiantamento”

e ele responde

deixa que

inflem as

velas que aqui

concluirás esta

obra e assim

as autoridades

obedeceram

sem queixas

e Basra como

personagem central

pensou se a

sua inverossimilhança

seria de total

intolerável?

..:



.

sábado, 5 de julho de 2008

Basra XV


.

é estávamos chegar

aos ouvidos do

quarto

precisamente chegar

sem arreios lendo

quase um sido

simétrico

e atirei-me fosse

ter num que

enganei sobre

o que riscou

o exato lugar

do novo parque

de artilharia

na ilha ocidental

.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Basra XVII

.

quase tudo até

quase até a

memória

quase olhava sem

ver mas

recobrou o que

a princípio

lhe interessou


e eu que

não sem claridade

por um breve

catálogo mental

de balbuciante

grandeza

incapaz de

sair mesmo

com a umidade


.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Dicionário da Estepe - Citações do Dicionário Kazar

.

“Apenas trabalho com uma espécie de dicionário de cores e é o espectador quem cria, a partir desse dicionário, frases e livros, ou seja, imagens. Tu também poderias proceder do mesmo modo escrevendo. Não se poderia oferecer ao leitor um dicionário cujas palavras constituiriam um livro, deixando-lhe a tarefa de compor um conjunto a partir dessas palavras:”

Atlas

“... e sua pele, curtida e encadernada, como um grande atlas, foi instalada em lugar de honra na corte do califa em Samara; ela subsistia como uma enciclopédia viva dos kazares que...”

Babel

“Sabiam desde a infância que os pássaros de Salônica e da África não falam a mesma língua, que as andorinhas da Albânia e as do Nilo não se compreendem e que só os albatrozes se exprimem em toda a parte com a mesma linguagem”

Compreender

“Então o Arcanjo Gabriel falou:

_Preovibed Potasta se Oslobiti...*

E o monge compreendeu que o arcanjo se expressava saltando os substantivos. Porque os substantivos são para os deuses, e os verbos para os homens pois”


n * Tendo atravessado bebentes enfurecer-se

(e (Em eslavo eclesiástico)

Despertar

“Para se acordar completamente basta escrever qualquer palavra, pois a escrita é em si mesma, um ato sobrenatural e divino, não-humano”

Ensino

“...Mas Metódio deu a recompensa ao pior; e disse: “O mestre ensina aos bons alunos em pouco tempo. É com os piores que passa mais tempo. Pois é o destino dos mais rápidos passar rapidamente...”

Estilita

“E os turcos o colocaram no alto de uma coluna grega e três arqueiros miraram-no com suas flechas”

Fronteiras

“foi quando uma testemunha viu um grupo de pessoas que carregavam enormes pedras, perguntando: “Onde devemos depositá-las:” e eram as marcas fronteiriças do império Kazar”

Futuro

Disse que o caminho mais seguro para chegar ao verdadeiro futuro (pois existe também um falso futuro) é ir na direção em que teu medo cresce, e pintou os doze apóstolos em tartarugas vivas e soltou-as na floresta”

Grupos étnicos

“Os kazares têm o encargo de defender o estado e sua unidade, devem proteger o reino e defendê-lo, enquanto os outros naturalmente, os judeus, os árabes, os gregos, os godos e os persas instalados na Kazária, puxam cada qual para seu lado, para o seu país de origem”

Homem

“Este espaço entre seus passos é mais estreito do que a garganta mais estreita do mundo, ou então enganamo-nos, como todos aqueles cuja visão serve mais à lembrança do que ao chão sob os pés...”

Ícones

“e sabem ler as cores como notas de música, letra ou números, quando entram numa mesquita ou numa igreja, ao verem os afrescos e os ícones, soletram lêem ou cantam o que está pintado e representado; são a prova de que os antigos pintores praticavam essa arte secreta e contestada”

Itil

“Mas há também um lugar em Itil, a capital kazar, onde duas pessoas (mesmo desconhecidas) que se cruzam podem trocar, como chapéus, seus nomes e seus destinos, e continuar assim sua vida num novo papel”

Jornada

“E com uma nova identidade atravessou o lago Meot e a porta Cáspia dos cimos caucasianos, onde foi acolhido por um enviado do Kaghan que depois conduziu os missionários bizantinos até Samandar, no Mar Cáspio, a residência de verão do Kaghan, onde se realizava a polêmica”

Leitura

Seu discurso dizia assim:

“Ao ler não absorvemos tudo que está escrito, nosso pensamento tem ciúmes de um outro, e a cada instante ele o encobre, porque não há em nós lugar suficiente para dois odores simultâneos”

Localização

“Vivem junto às tribos que chicoteiam o vento, têm relva na cabeça ao invés de cabelos e cujo pensamento é glacial, na Panônia, às margens do lago Balaton, onde os cabelos gelam no inverno e os olhos sob o vento tornam-se como uma colher pequena e uma grande”

Mulher

“Que desvario entre os abissínios,

Os gregos, os turcos e os eslavos

Quando me aproximo de suas mulheres...”

Náusea

“Ele os observava limparem os narizes com os dedos, comendo o catarro e sussurrando preces, lavavam os pés sem se descalçar, cuspiam na comida antes de engoli-la”

Oração

“ e suas mulheres davam à luz suspensas no ar, penduradas na árvore santa; domesticavam os peixes na lama dos pântanos e mostravam ao estrangeiros um velho que rezava tirando um peixe da lama, e deixando-o alçar vôo da palma da sua mão como se fosse um falcão caçador”

Pierre Menard

“Sem dizer uma palavra, o velho mandou-o entrar numa cela e mostrou um jovem pintor, ele olhou a imagem e ficou atônito. O jovem mexia as sombrancelhas como se fossem asas, e pintava tão bem quanto Nikon; não era nem melhor nem pior do que ele, era o mesmo "

Poética

Num cântaro,

o que não é

o cântaro,

na alma,

o que não é

o homem

Escutai, então, vós

que vos alimentais

do silêncio:

Questão

“Um exército comparece ao chamado se não compreende o chamado do clarim?”

Riso

“O risco é simples quando o homem ri de uma única coisa de cada vez, dizia, é o mais barato; em compensação, o riso provocado por duas ou três coisas ao mesmo tempo é bem mais caro; mas este riso é raramente encontrado, como tudo que é caro”

Significados

“E o lugar permanecera por um ano virgem de toda sonoridade e ele explicou-me cada palavra de oito maneiras diferentes: o sentido literal e o sentido espiritual, a linha que é modificada pela precedente e a linha que modifica a seguinte, o sentido secreto e o duplo sentido, o particular e o geral”

Tempo

“E em ambos os anos se embaralham os dias e as estações como cartas de baralho, misturando dias de inverno aos da primavera, e dias de verão aos de outono, eles acreditam que um peixe sem olhos vive nas profundezas do mar Cáspio e que, como um relógio, marca o único tempo exato do universo”

Tradução

“E fez um outro alfabeto com letras gradeadas, prendendo como um pássaro essa língua insubmissa”

Universo

“Da hierarquia das diferentes mortes, na verdade, o único contato possível entre todos os níveis da realidade, onde as mortes, como ecos entre ecos, respondem-se infindavelmente...”

Visão

“ O olho é um alvo para os objetos que estão à nossa frente, são eles que miram o olho e não o contrário, é uma ilusão achar que nossos pensamentos estão dentro de nossa cabeça, a cabeça e nós mesmos por inteiro estamos dentro dos nossos pensamentos, não sou eu que misturo as cores mas teu olho”

Zero

“assim ele cria todo o universo a partir de si mesmo, depois o engole e mastiga tudo que é velho, cuspindo um mundo rejuvenescido sendo que a diferença entre dois sins pode ser muito maior do que a que existe entre um sim e um não”

.

terça-feira, 24 de junho de 2008

`Abd ibn Rawahah

.
A tatuagem nos olhos
a corda nos papéis
e a parede
arranhando os olhos
os olhos em tom
menor que a própria
rua aos pingos
nos olhos e a rua
com o tráfego
de repetições
na passagem
o papel
na queda do corpo
o corpo em que
o outro
brilhará
sozinho

.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Al-Musta'sim - 1258

.

"Vivo adormecido morto cansado,

de serra a coragem

de olhos a valentia"


.

..

domingo, 22 de junho de 2008

Gustavo Sampaio Street Blues - por Pedro Bastos

.

Mendigos

São Budas

Bêbados vagabundos & tristes

Crianças felizes


A luz que irradia nos une

Procura

Não procura

Quem procura

Se perde


Não procuro

A luz

Deixo pro escuro


.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

terça-feira, 17 de junho de 2008

domingo, 15 de junho de 2008

domingo, 8 de junho de 2008

Paisagem - por Paulo Renato Porto Filho

.

A Manoel da Silveira Porto Filho


É pequena a humana vi(n)da,

rápida visita aos monturos do tempo largo

rio espesso

de profundo calado.

É susto-chegada,

ensaio do fim

Breve como o suspiro da moça

e a mentira da flor.

Seria uma concha?

Nesga que se alarga ao vento

e ao calor do vário movimento.

Promessa de cosmo, o corpo

não é invólucro da alma

Tem sua verdade

Tem seus líquidos e subterfúgios,

sua pressa.

Quem existir saberá ter-lhe sido

Mas é preciso algum desprezo,

alguma corda a se soltar antes que arrebente.

Mas quem sabe

quem lhe saberá o ritmo, marítimo segredo?

É sutil a humana brisa,

fôlego dos astros

na passagem.


4 de Junho de 2008

sábado, 7 de junho de 2008

.
* Dança de extinção no tempo


* Equação impossível da escolha


* Matemática tediosa da espera


.

Noite véspera da manhã

.

Banhada por canais

concêntricos

sobrevoada por pipas

de cidade grande

as pessoas

não me reconhecem

nas ruas

com o

guepardo

na coleira,

mesmo

aqui entre

os pórticos

onde por acaso

me abriguei

da chuva

.


segunda-feira, 2 de junho de 2008

Oswald in Bahia


.

Bahia

mãe das canoas

sala dos remadores

verniz encrespado

das águas

tingidas


saveiros

ao relento

campos de

pesca ao redor

do sargaço

mar de galegos


veleiros criados

para o encontro

dos mestres

das saudades

de acesos

faróis nas fachadas


as árvores em

caldeirões de barro

cozendo as vísceras

dos ancestrais

e as ladeiras


.

domingo, 1 de junho de 2008

Enquanto

.

das coisas cativo


de hábitos de

imemorial enquanto


dos modos mesmo a

escala intempestiva


no trilho tempo cortante

o tempo corda de arco


lentamente


.

sábado, 31 de maio de 2008

Quarteto Bororo

.
Acompanhamento das vozes
e chocalhos feitos da cabaça verde
do cascalho-caingá e o corifeu
enchendo de pancadas secas o silêncio

modulando em crescendos e
decrescendos os dançarinos cegos
em alternâncias de vibrantes cantos
de língua baixa de articulações pesadas

de velha viúva sustentada em graves
horas a fio sobre o luto de cinco maridos
e do tempo feliz em que jamais lhe faltavam
a mandioca o milho a caça e o peixe

.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Canção dos Brutos (XVIII)

*
O Caos
.
de noite com os reis e os grandes,
as pedras transmutadas em gente,
o banho quente às onze,
rubro nos olhos, unhas
quebradas, e o que faremos
amanhã, Narses?

Que faremos jamais?


Caso chova lá em casa às cinco
.
Narses, que embuçadas hordas são essas
aos olhos de um horizonte arrasado?
Que cidades com substância de anjo largo,
que sendas de azul violáceo,
que único mar no castelo da
senda ao lago frio?
.
Se o o alfaiate disse ao rei da China
que o jovem continuou correndo
mesmo enquanto o barbeiro corria atrás dele

e leve era o peso, era diverso,
leve talvez era o vagão quem dera
o peso, leve talvez tenha alcançado a
linha secundária da
great eastern railway

Leve, talvez, girar, na porta uma vez
e apenas
uma vez

a chave na qual pensamos, cada qual na sua
prisão

deitados sobre telhas
sob o lume do espaço,
coragem,

ante o baque macio
do tempo
.
.
e se aqui houvesse rocha
Que água fosse
E água u
ma nascente
Uma poça entre as rochas

Se ao menos aqui se ouvisse um sussurro de água
.
a T.S. Eliot..
...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Dinastias

.
Se anestesiados não estamos vivendo e é só fechar o corpo ou entorpecer-se, se afeto é força vazia de significado e nós como os avós cobríssemos de linhas as paredes, se com o tempo fôssemos com essa boca enorme pelos caminhos que levam ao fim e o professor, os vizinhos, o pastel e se os mapas do mundo ainda guardassem as crendices e o cabo das tormentas fosse a boa esperança, se ciência fosse a viagem, e metodologia, a estrada, se a linguagem como esporte das cavernas e a história marcada na carne como dinastias, se cada objeto, cada frase ou enunciado, se a vida como milagre, noturno pátio sem silêncio, se o sol é grande o fogo breve, se na lapa um beco onde demoliram a casa, de lá e de cá só desamparo
.

.
Desamparo

Desamparo

Desamparo

Desamparo

Desamparo

domingo, 25 de maio de 2008

O Homem

.

Desde o escudeiro combativo das terras áridas da ibéria até a garçonete esnobe de um pub em Newcastle desde o homem das fendas, das grutas o homem dos balões dos mares o homem da península da roça da cidadela das armaduras de couro e gibão desde o homem das belas damas de copas nas mangas das serras inatas bárbaro dos lajedos nômade rubro-amarelo

Padres e imperadores santos e carrascos estupradores e eunucos: cirurgião-barbeiro-paladino mestre dos clarins irmão dos clãs na noite boreal escravo mouro das lendas de cavalaria reles recruta no mar do mundo novo lírico como um homem talhado nos cedros da armênia lira para as bestas no inferno o mendigo podre a se masturbar na porta do teatro o estadista heróico a empreender suas grandes marchas de lamentos o vaqueiro manco sem lanternas lanceiro pesado raquítico & vaidoso buda em ascensão sob a figueira viciado em pico e chantagem

*

A roupa que vestimos em vida é apenas um desses mesmos disfarces que se repetem pelos séculos dos séculos; maquiagens dos nossos pobres caracteres designados desde antes; somos escravos desta mesma encenação, marionetes ingratas que desfilam nos palcos como entidades automáticas

*

O que acontece:

Chegando à vida senti saudades do passado épico que me precedia; não haverem mais terras a serem descobertas, não haverem mais grandes tesouros para serem revelados, grandes manadas a atravessar as pradarias, não ser mais o mundo tão aventuresco e obscuro como outrora (a foz dos rios repletas de hipopótamos), e como encarnar em vida, hoje, um corajoso personagem épico, cruzar fronteiras ao sabor do destino, entregar-se irresponsavelmente aos caprichos da nômade senda?

E é aí que entra a literatura com elemento de potencializarão matemática da experiência humana, é ela que torna possível ao homem dominar tempo e realidade, expressar as cartografias de seu imaginário, através do jogo de criação viver a alteridade, o impossível, o improbable, escrever é brincar de divindade mesmo quando arrefecido por uma ansiedade elétrica no quarto do apartamento

.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O vale


Enquanto a captura dos cafezais estava sendo consolidada, e o inverno subseqüente estacionava
seus frutos na pradaria, me surgiu claramente
a
oportunidade perfeita de ferver a água

(eram versos que soavam descendo
afora as espingardas e assim
terminavam as velhas
safras do
barão)


.

domingo, 18 de maio de 2008

Stio


Eu nunca quis pouco
mesmo que na passagem
dos desertos, sob a insolação
das grandes marchas mesmo
quando um filho das carroças


Nunca com a aventura histérica dos rebanhos
com o êxito dos seres em manadas nunca esse
elixir do gosto, o pasto, essas modas de alento gasto

Sim, à ânsia nova, nova e guiada por uma solução das roças
na pródiga cabana enfim apesar do tempo assim são as horas de

stio

.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Novíssima História Provisória (parte V)

III

843: império franco: divisão entre os três netos de carlos magno: os soberanos da grande morávia com desconhecimento das partilhas e amálgamas da linhagem dos carolíngios: nos principados lombardos: meia dúzia de cidades portuárias e trocas com os reinos da escandinávia:

VIII

Quando os daneses na pilhagem da inglaterra, ainda na exploração do curso inferior dos rios na rússia e também no saque das terras ao redor de bari, quando oleg, o grande, príncipe de novgorod através do lançamento de expedições de pirataria contra os varegues e os moradores da laguna em veneza, quando os hunos brancos e a descoberta de matilhas nas canárias, quando os coloniais sobre a última borda do mar de areia por Magnus Barfod, quando na caça às morsas na ilha de Baffin

XI

Se vladimir de kiev, são simão estilita no topo do centro dinástico, se o abade de cluny, despido da carga / se log (os portos de hedeby) - log (mar de azov) + log (alto dvina) = se exércitos turcos de mahmud de ghazni em embate contra o rei svend barba no Punjab wczoraj przedwczoraj si

XIV

Em 1014 o conde das órcadas no fracasso da tentativa de ataque a dublin e o reino armênio de vaspurakan, anexo dos bizantinos que com assinaturas com reinos normandos da grã-bretanha e o sultanato seljúcida mais as obras completas do Ésquilo no volga junto aos principados de smolensk sobre cápua-benevento conquanto os gaznávidas em recuo no afeganistão, os mesmos selêucidas pela gradativa conquista do irã e crescente, em bagdá, 1055; a parte muçulmana da transcaucásia em queda, na década seguinte cirenaica, trípoli, rabat &

XVI

Guilherme, chamado de o "bastardo", após a morte de canuto & guilherme, chamado de o "conquistador" depois da morte de harold & guilherme, no dia da coroação na torre, registro da aquisição da borgonha & guilherme, a catástrofe de manzikert, captura de toledo, camas da ultima versão antiga da fábula de esopo "as rãs que vontade de ser reis"

XVII

Na boêmia a essa altura com relutância os despachos de: "nicéia. sob os cruzados" e raimundo de toulouse e as tropas de boemundo carlomano na travessia das pontes de antioquia após dezoito meses ; se: atuação em conjunto ou seja os emires de mossul mais aleppo e damasco = esmagamento dos francos: que a abertura dos portões de jerusalém para os fatimídas como o desejo do imperador espanha de almorávidas sem convivência + perda de zaragoza para navarra & polônia em desintegração no báltico cruzada do norte de um segundo impulso & arenque tecidos de cobre com altos padrões em destaque & prata i

XIX

Alume, nishapur, alume! Alume, isfahan, salônica! Ele, carlos de anjou, do canato da horda dourada de frederico ii de hofenstaufen o primeiro, do piemonte em luta, senhor da itália rei de corfu da provença dos contrafortes da albânia o alexandre nevski alinhado aos mongóis nas ilhas baleares com um reino separado às vésperas sicilianas e carlos em graves apuros os noruegueses e a submissão dos islandeses em 1248 no mar cáspio dos povos khazares (se a questão dos três missionários) e o fim da religião ancestral dos templos, onde as pessoas, em trocas de ser com outras pessoas: "a partir de hoje e por uma semana eu você e você eu" e a troca em absoluto

XX

Ele, o flandres, excedente de mão-de-obra rural, ele o algodão e o açúcar as peles os centeios, mas ricardo iii que não aberto aos credores, ele os bardi os peruzzi (1343), que na ruína pela inadimplência do monarca, ele em hansa o constante superávit comercial de florins e genovinos: peso: ambos, 3,5 kg e teor comum de 100% lã cera couroferro trigo carvão e a epidemia 1346 ele o surto entre as marmotas ao sul da rússia cujas peles em venda a muitos mercadores da região, e na germânia a morte de um terço dos clérigos, de sarai à tana à caffa à constancia à messina à sevilha aos turcos cavaleiros de são petesburgo

XXII

Os francos em maus lencóis em poitiers o canato uzbeque a sério nas provocações do emir de karaman e carlos, o temerário, a vida ao canto libertas, a guarnição que com base em nancy, luiz xi, a vontade luiz xi, o matrimônio, luiz xi, o êxito, rei da princesa dos habsburgo, luiz xi, cinco os cardeais em recuo para avignon e então: papel para aos árabes através de samarcanda, os relógios de lugar na sala das estalagens; as bestas do século ii a.c. chinesas fábricas em aço na bavária; a imprecisão com blocos de madeira de johannes e a gana do marfim nos capitães-do-mato e bojadores, além da barra sul do loire de akan au guiné

XXIV

Tarim selênico de york, visby de nortúmbria, calábria selênica de gobi, holstein kola, said carlos iii, o simples, si, savóia, tashkent sri, a resposta. Ural esteps, cumprimento de rhodes, o tirol. Sahel, sri lanka, sahel, zanzibar neva, taurus. turingia niebla, nínive. Cosroes, cômodo a alarico? jutos, odoacro?

Domus haxix, a creta hagia de delhi & gibbon!


Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841