sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Apresentando Joaquim


Nômade, meu teatro dos caminhos,

círculo em vaivém desde a caminhada,

bois de carro não trafegam nestas festas

e é assim, de fábulas, minha única jornada



Poesia de Sistemas


1- SISTEMAS PARA ORGANIZAR FÁBRICAS

Podemos criar um sistema para fazer

Aviões; precisamos juntar o aço

E juntar também, dos aviões, os projetos...

E mais as ferramentas com que se trabalha

O aço ligado para os aviões

É preciso traçar e compor esses valores

Em combinações com os meios de fabricação,

cada vez mais fácil e mais rápido

por meio de processos e formas temporais

é preciso valer de atividades no tempo que passa


2 – SISTEMA PARA FABRICAÇÃO DE AUTOMÓVEIS

Necessitamos fabricar os automóveis;

A fundição de aço, lâminas de aço,

O estudo dos motores que movem os automóveis.

É preciso vidro, instrumentos.

Tudo se acerta também em relação ao tempo,

E se vai experimentado a medida que

Se vai montando as peças.

O sistema usual é pra conseguir

Colocar no comércio essa máquinas

Sem nenhum prejuízo.

E conseguirmos todos fabricados a tempo.


Joaquim Cardozo (1897-1978)
Poeta, dramaturgo, engenheiro calculista. Nasceu no Recife em 26 de agosto de 1897 Grande estudioso e conhecedor da matemática, em cujo domínio penetrou com grande sensibilidade poética, inovou os métodos tradicionais do cálculo estrutural. Viabilizou, assim, a execução de obras complexas da arquitetura moderna, como as de Oscar Niemeyer. Calculou, para o arquiteto, as obras do Conjunto Pampulha, em Minas e, em Brasília, o Palácio da Alvorada, a Catedral, a cúpula do Congresso Nacional e o Itamarati, entre outras.

http://www.joaquimcardozo.com/




segunda-feira, 26 de novembro de 2007

São Petesburgo



Porque tudo é farsa

Embuste, trapaça

Simplesmente uma grande confusão


Não se sabe quem

E nem o quê, mas,

Apesar de toda essa ignorância

E de todos os embustes

Continua-se a sofrer

e, quanto menos se sabe


tanto maior é o sofrimento!




Genealogia Revisited


Eram de eterno azul e cinza as formações de esquadra que atravessaram a história humana em silêncio?

Equilibram-se através dos séculos nas arquibancadas de rocha pura as canções de fundo oceânico?

Nuvens químicas voam em bandos sobre os portos tal como mil tambores rufando sobre pontes e baleias?

As aves singram os céus com heroísmo natural mesmo quando passam por ciclones ou chegam às manhãs sem ilhas?

A bordo do navio, contornando o Horn, eram fogueiras nas ilhotas?


A indolência da gaivota que atravessa os céus não é a mesma de um recife no canal que tangencia o rio?

Se cada pedra fosse uma pátria sombria de umidade e relva seria cada ilha um exílio de ossos dispersos?

Observando corsários, escutando alto-falantes, estão vestidos de tempos murchos os rochedos?

Nos sabemos prisioneiros da árida planície que é o tempo nessas terras de pesca e nuvens negras?

Quando ruflarem torres emborcadas nas horas de luz violeta e cisternas vazias, parecerá tudo um ar de estalos?




domingo, 25 de novembro de 2007

Os emigrados



O que os persas tentaram

Os árabes tentaram

Os turcos tentaram


Só os imigrantes puderam


sábado, 24 de novembro de 2007


As ambiciosas cinzas do cigarro

Mantêm sua integridade de sucata:

Basta uma breve erupção dos dedos

Ou um arfar dos ventos sem caráter



E veja só:


tudo

aquilo

cede

como

tal

.

Agora

soltas

condenadas

a


espalhar-se

sem

mais

como


voltar

aos
ninhos


frágeis

do

Maço

de


liquens

e


polens


de




onde





tudo






surge

.



.

.



Genealogia das aves migratórias


Monarquias do eterno céu azul e cinza,
à vós que como formações de esquadra
atravessaram a história humana em silêncio
dedico essas linhas que vos seguem


A caminho das Molucas o oficial imaginava escrever uma genealogia das aves migratórias, uma espécie de canção sobre o fundo incerto e oceânico das raças, uma grandiosa narração das dinastias ignotas a equilibrar-se através dos séculos nas arquibancadas de rocha pura sobre as enseadas.

Como nuvens químicas a voar em bando sobre os portos, a trocar sinais tal como mil tambores rufando sobre pontes e baleias, singrando os céus com heroísmo natural, mesmo quando passam por ciclones, ou chegam às manhãs sem ilhas, naus perdidas no Pacífico, à bordo do navio, contornando o Horn.

(Fogueiras acesas nas ilhotas)

Uma solitária gaivota atravessa os céus com a indolência absurda de um recife no canal que tangencia o rio; cada pedra uma pátria sombria de umidade e relva; cada ilha um novo exílio seco de ossos dispersos; cada recife um descanso estreito de água-furtada; mas um ritmo de governo, a respiração em uníssono, os mesmos pensamentos sem palavras, a íntima linguagem que nenhum vento pode irritar,

como anjos em pluma sobre montanhas de cristal e gelo, além das cidades que se levantam por trás das cordilheiras rubras, sobrevoando corsários ao largo nas Canárias, escutando alto-falantes nas ruínas em Colônia, descansando sobre prisioneiros mortos nos cordames dos Sargaços, vestidos de tempos murchos os rochedos, ruflando asas de torres emborcadas, nas horas de luz violeta e cisternas de cabeça para baixo quando tudo pareceria um ar de estalos

(Nos sabemos prisioneiros da árida planície que é o tempo posto em ordem, mas o que estará em ordem nessas terras de pesca e nuvens negras?)

Com tais fragmentos, por uma noite, o oficial a caminho das Molucas pôde escorar suas ruínas e descansar. Pois então também vos conforto. O oficial mais uma vez enlouqueceu nas Ilhas. Deixou apenas umas poucas palavras escritas em que dizia assim:


Datta. Dayadhvam. Damyata.

Datta. Dayadhvam. Damyata.

Datta. Dayadhvam. Damyata.


Shantih shantih shantih

.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Para a Realidade


Chora real!

Chora que nas letras estás morto!

Chora que esses versos são teus algozes!

Chora que és inatingível e não te reconheces!


Chora que nas filosofias estás pálido!

que não há tempo espaço ou dimensão!

que jamais serás reconhecido ao caminhar nas ruas!


Chora real!

Chora que és filho único de mãe desconhecida!

Chora que és um órfão abandonado pelas teologias!

Chora que não tens família, amigos e estás perdido nos escuros!


Chora que tudo que há de ti é pura representação barata!

que nem os laboratórios podem provar sua existência!

que teus gritos estão surdos para todos nós nos mundos!



Lavoura



Trago na palavra palavras

Todas as palavras deste mundo



quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sem Isqueiro



(O fósforo da casa acabou:

toda vez que quero fumar

tenho de viajar ao fogão


e quando volto


é sempre a mesma neurose:

-- Fumar o cigarro compulsivo

Antes que ele se apague outra vez)





sexta-feira, 9 de novembro de 2007

I

A fumaça no sertão

Fala como morte nos rios

sertanejos

Fala como os rios de um dia

reinos do amarelo

O sol em Pernambuco urbanizado

Murilo Mendes segue os rios

Ouvindo em disco Mariane Moore

A falar sério com as coisas

II

Museu de tudo

Esse habitar no tempo

Rios sem discurso, ele diria

O museu de Pernambuco na baixa Andaluzia

No bar sem um meio de transporte

Resolve então jantar com os desembargadores

O Sol no Senegal lembra as águas do Recife

E mesmo sem a luz isso não se explicaria

III

Doença do mundo físico

Número quatro da escola de Ulm

Pergunte a Joaquim Cardozo

Sobre a fábula de Alberti

Sobre romances de barbante

Sobre o níquel, o alumínio e o estanho

Diante da folha branca

Debruçado sobre os cadernos

Leio o ultimo poema de Elizabeth Bishop


terça-feira, 6 de novembro de 2007

Abreu e Lima



"Ao capitão Abreu e Lima
concederam estranha honra:
ele foi convidado a ver
fuzilar o pai, Padre Roma

O capitão Abreu e Lima
ante a distinção concedida
se foi de quem a concedeu:
o rei e o vice da Bahia.

Se foi para a Venezuela,
vestir a farda de Bolívar:
não era a sua, mas pregava
um independência com vida."


Homenagem de João Cabral de Melo Neto ao mais fascinante personagem da História Brasileira.


Sem Isqueiro


(O fósforo da casa acabou:

toda vez que quero fumar

tenho de viajar ao fogão


e quando volto


é sempre a mesma neurose:

-- Fumar o cigarro compulsivo

Antes que ele se apague outra vez)




segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Potomac River


No ataque sulista ao Fort Sumter, O exército da União era composto de apenas aproximadamente 11 mil soldados.

O exército da Confederação era ainda menor, por volta de seis mil soldados.

No final da guerra, o exército da União tinha cerca de 1,12 milhão de soldados.

O exército da Confederação atingiu seu máximo em 1863, quando chegou a quase 500 mil o número de soldados

As roupas eram precárias, feitas de crua, não processada, costumavam desfacelar-se na primeira chuva.

Muitos soldados também não recebiam calçados

Na Confederação a maioria dos soldados lutou descalça.

A maioria dos soldados usava rifles capazes de atirar apenas um tiro por vez, permitindo o acerto de alvos localizados a até 375 metros de distância.

Em muitas batalhas, os soldados caminhavam uns próximos aos outros, em formação, tornando-os um alvo fácil para os canhões inimigos.

Para cada soldado que morto em batalha morriam dois por causa de doenças como cólera, disenteria, febre tifóide, malária e tuberculose.


Aproximadamente dez mil confrontos militares ocorreram durante a guerra



Através de um bloqueio naval e do controle do Rio Mississippi e do Rio Tennessee, a Confederação foi cercada e dividida completamente.

Em 1861, a Marinha da União tinha cerca de nove mil marinheiros, 90 navios (42 em comissão) e um orçamento anual de 12 milhões de dólares. No final da guerra, esta Marinha tinha 56 mil marinheiros, 626 navios, dos quais 65 eram encouraçados, e um orçamento anual de 123 milhões de dólares.


Nenhum país reconheceu a independência da Confederação, com exceção do reino alemão de Saxe-Coburg-Gotha.


Em setembro, Rosecrans e seus 55 mil soldados atacaram Chattanooga, e Bragg foi forçado a recuar

Em maio de 1864, Sheridan, comandante de uma tropa de 100 mil soldados, por ordens de Grant, invadiu e conquistou grande parte do sudeste da Confederação.

Sheridan conquistou Atlanta ainda em maio, tendo enfrentado resistência de uma força confederada de aproximadamente 60 mil soldados soldados.

Sabendo que um ataque frontal e direto contra Richmond seria desastroso, Grant moveu suas forças em direção ao sul, ao sul do Rio James, para atacar Petersburg, um pólo ferroviário que abastecia Richmond com suprimentos.

Ao invés de um ataque direto, Grant preferiu cercar Petersburg e lentamente estagná-la com a falta de suprimentos. Assim sendo, cavou enormes trincheiras em torno da cidade.

Por um ano Petersburg ficou cercada, até que nos primeiros dias de abril de 1865, quando as instalações ferroviárias da cidade foram finalmente capturadas pelas forças de Grant.

Lee foi forçado então a fugir da cidade, e forças nortistas capturaram Richmond em 10 de abril.

A Guerra Civil Americana foi a primeira guerra onde balões foram utilizados com o propósito de patrulhamento aéreo.


quinta-feira, 1 de novembro de 2007

.

Essa ponte leva aos invernos químicos

Imensa narrativa inconsciente o raciocínio

Às avessas como máquina infernal sinfônica

Vou ao que provoca e alivia como Baudelaire:


O Navio a Vapor


Essa ponte leva aos invernos químicos

(Imensa narrativa inconsciente o raciocínio)

Às avessas como máquina invernal sinfônica

vou ao que provoca e alivia como Baudelaire:


O vapor de fumo escuro

atraca raso na maré

Dribla os vapores vazios rio adentro

E escorre os meandros sujos do Jacaré


O vapor desliza entre esses portos

Na Babilônia a deriva, escondido pelo Rio

Entre as pedras, fumando a ciência divina


exploram fazendas, afogam formigas

Atravessam estradas, inauguram agonias

Devoram oceanos mais velhos que os céus


Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841