quinta-feira, 26 de abril de 2007

- Soneto em sala de aula -

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Conto em vão no tempo
que lento demora e insiste
a hora do agora que prende
e inútil apressado desiste

Agüento contanto que seja
do lado de dentro onde mora
a párticula que move os ponteiros
dos romances de guerra que adora

Contando, os minutos não passam
Esperando, quando mando que venham
A morte que enuncia fracassos

Salas velhas figuras de lenha
Ansiosos no sistema de laços
Na sala de aula um calabouço de letras

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quarta-feira, 18 de abril de 2007

- O recomeço -



Doze de Abril de Mil Duzentos e Quatro

O

0 fim da última grande coleção de literatura antiga em Bizâncio

O fim da última grande coleção de literatura Antiga

0 fim da última grande coleção de Literatura

O fim da última grande Coleção

0 fim da última Grande

O fim da Última

0 Fim

O

0 Gênesis

O gênesis da Primeira

0 gênesis da primeira Parca

O gênesis da primeira parca Dispersão

0 gênesis da primeira parca dispersão de Ignorância

O gênesis da primeira parca dispersão de ignorância Atual

0 gênesis da primeira insignificante dispersão de ignorância atual em Vegas

O


Doze de Abril de Dois Mil e Sete



terça-feira, 17 de abril de 2007

- A providência -

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É tarde no sábado da cidade-satélite


Estou levantando a minha herança

Estou levantando a velha casa

Estou levantando a ruína dos bisnetos

Estou levantando numa cor ocre romana


Estou levantando


Sentado detrás do seu balcão prateado

o repórter elétrico anuncia em voz alta:


“A reunião do Copom aprovou hoje

- com unanimidade -

um aumento de 0,25 na taxa Selic”


O careca reclama, o motorista não liga, eu observo


Sozinhos a passos de trote

toxicômanos passeando nas vielas

esculpidos seus negros seios nos pós de giz

agredidos pelo mármore nas faces brancas do nariz

Cultuando deuses-espelhos


notas

cartões de plástico

giletes


riscos

meiotas

Filetes

alva antítese cromática dos homens de vício


(Branco para os hindus só se usa em dia de luto, no réquiem remoto dos astros vencidos, no açúcar disperso das esferas tingidas, marchando sob divisões Panzer do nordeste polar)

O espírito que tomba da antena

Em Beirute

O menino de cabeça rachada na Laje


em São Paulo

O corpo tombado na calçada quebrada

em Milwaukee


Ele Caído, um pouco abatido

Eu cá me levanto e ajudo


(Estou levantando)


- (...) ; (...) -


- Chega o domingo pronto na cidade-satélite -

- Chega um domingo pronto nascida de satélite -


domingo

pronto


- nacidadesatélite -




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segunda-feira, 16 de abril de 2007

- A foto perdida do Marechal -

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Em outubro de 1826 as Forças Patrióticas de Carleto firmaram o acordo de paz que definia os limites definitivos da República Carletiana. Ao norte a fronteira se estendia ao longo da margem sul do Paraguaçu, a oeste ultrapassava as serras e planaltos até oSão Francisco e ao sul seguia o curso sinuoso do Rio Doce.

- O historiador pernambucano José Inácio de Abreu e Lima no capítulo XII de seu livro, Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil de 1844, aponta o ataque a salvador como o estopim da crise no Exército Patriótico; tivesse respeitado o acordo e permanecido na defensiva por mais tempo, Marechal Carleto poderia ter, definitivamente, expulsado os portugueses do Brasil .


- A ruptura do acordo de paz fez com que os franceses retirassem seu apoio aos Patriotas e fortaleceu a aliança entre lusos e ingleses.


- Segundo Abreu e Lima, nas vésperas do natal de 1826 o Grande Exército Imperial Português, comandando por um obscuro Coronel Franklin e auxiliado por artilheiros ingleses, irrompeu nas margens do Paraguaçu.

O corpo principal das forças de Carleto se encontrava envolvido no ataque a Salvador e as tropas do Tenente Campos Bastos falharam em impedir a travessia inimiga sobre o rio.

O Marechal, em franca desvantagem, apressou-se em recuar tropas de Salvador e Itaparica até a cidade de Valença, já atacada na noite de reveillon pelos canhões e morteiros do exército Imperial. Diante da precariedade de suas posições, os Patrióticos demoliram todas as pontes da cidade e recuaram para a inacessível Ilha de Boipeba.

Abandonados pelas tropas, os habitantes de Valença foram trucidados pelas forças portuguesas: mulheres foram estupradas até a exaustão, crianças foram surradas e executadas, e os edifícios foram todos arruinados, ficaram de pé apenas a velha igreja amarelada de Nossa Senhora do Amparo, o cruzeiro na praça maior, as balsas de canoa, o reboco atravessado e os enxames.


- Carletistas ainda sustentaram a luta através de emboscadas e escaramuças nos mangues quw cercavam a ilha, mas no começo de abril os portugueses dominaram o canal de Tinharé e o todo o complexo labiríntico de rios e meandros que protegiam as Forças Patrióticas.

A ilha foi cercada, as tropas desertaram em massa e não restou alternativa ao Marechal: na manhã do domingo de páscoa, Carleto se entregava com seus oficiais às forças portuguesas e foi enviado num veleiro militar inglês para o forte do Morro de São Paulo e posteriormente para o Rio de Janeiro.


- Nas celas úmidas e escuras em que foi encarcerado, teve tempo suficiente para pensar e repensar toda sua vida centenas de vezes e após doze anos no cárcere passou a ditar suas memórias para mim que me encontrava preso por deserção na marinha.

Foram quatro anos em clausura vivendo sob o mesmo teto mofado.

Quando fui organizar suas memórias, já estava há alguns anos sem notícias do Marechal e morava novamente em Montpellier.


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O que torna muito complicado esse relato é poder distinguir a verdade histórica dos fatos narrados por Carleto, das lendas que ele próprio criava em torno de sua pessoa, até porque o próprio não aceitava que duvidassem de uma palavra sua.


Tentarei, portanto, escrever da forma mais imparcial que o meu discernimento e pesquisa permitem:


Segue então a história de Carleto Gaspar Simões:




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domingo, 15 de abril de 2007

- O Exílio -

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Estou só de passagem essa noite

Ficarei fora por um tempo

Mas volto de novo pra você e a amo


a amo


Musa das cartas escritas nos trens sobre os joelhos

- Lindo Capullo de Aleli -

Para a que de branco trabalha


Eu, buscando o inalcançável
Te vi ali sozinha, dançando sorrindo do outro lado
Amo o encanto que tão perto enxerguei naquela noite
Desesperadamente me pus a correr para alcançá-la

Você, a rosa mais brilhante, numa hora em que todo o resto se apagou
O movimento de seus pés, a aura de luminosidade ao seu redor
Sorriso só visto nas imagens dos deuses

De tudo que já escutei, você é a canção mais bela
Todo amor que já tive, perto desse tudo é nada
Esse universo antes sem graça se acende sob seus passos
Mundo novo, era de luz, benção divina que me alegra

És tudo sob o sol, a palavra mágica que não sei enunciar
A paisagem mais bonita pela qual já atravessei
Minha vida, meu tesouro, meu canto, meu amor encontrado
Própria resposta as preces que ergo desde menino

Alma indescritível que se entrelaça ao meu corpo e brilha
que se confunde com a realidade do mundo tamanha a mágica
Se espalha, cresce, inunda e me toma por inteiro
Reflete o desejo mais profundo, mais sincero e mais febril

Beijo de novela, incomparável, como dos casais que via em minha infância
Da vida não espero mais nada pois a profecia se cumpriu

Canção de amor da minha vida
mais linda que todas de Tom e Vinícius
Linda centelha de amor que se expande até o infinito

Santo
Deus!!!

É todo o céu que se apresenta diante dos meus olhos

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- As quatro verdades do Buda -

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Me inclinei para girar a torneira,
enchi o balde,
recolhi o tapete,
coloquei o balde no chão,
tomei impulso

e com um chute certeiro,
derrubei o balde com toda água que tinha dentro...

Peguei minha mochila,
chave e carteira

e fui pra Bahia.

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- Insônia - A.C.

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"Estou escrevendo versos sinceros,
versos a dizer que não tenho nada a dizer,
versos a teimar em dizer isso,

Versos, versos, versos, versos, versos...

Tantos versos...

E a verdade toda
E a vida toda fora deles e de mim!"

A.C.

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- Constantinopla -

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quinta-feira, 12 de abril de 2007

- Miscelânea -

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" Aqueles que já dominaram a arte de ler, o fizeram apenas pela metade se a ela não acrescentaram as habilidades ainda mais sutis de pular trechos e folhear. "

A.B.

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quarta-feira, 11 de abril de 2007

12 de Abril de 1204

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O fim da última grande coleção de literatura antiga em Bizâncio

O fim da última grande coleção de literatura Antiga

O fim da última grande coleção de Literatura

O fim da última grande Coleção

O fim da última Grande

O fim da Última

O Fim

O

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terça-feira, 10 de abril de 2007

- Sobre o Carletismo Histórico -

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A saga Carletista tem que ir até o fim; desbravar pântanos e planícies, cercar cidades como um Ciro ou um Bonaparte, reproduzir a voz iluminista que ecoa sobre os hemisférios rubros: uma nação independente do Império do Brasil com uma Constituição própria e uma bandeira. Carleto deve ser a síntese do déspota carismático, o que some e desaparece renasce acende e ressurge e seu vulto é sempre um mistério evidente Bárbaro cretino e arrogante que decreta leis a beira de rios remotos renuncia ao comando em poças de lama na selva abandona tudo por uma cortesã do teatro espanhol e desiste do mundo em Ilhéus.


REPÚBLICA CARLETIANA (1823-1835)


As referências históricas ao período Carletista na Bahia são praticamente inexistentes. Quase todas as fontes que mencionavam esses eventos ocorridos na Bahia entre 1823 e 1835 foram sistematicamente destruídas ao longo do período regencial e do Reinado de Dom Pedro II.

Tenho conhecimento de apenas dois autores que citam o nome do General Carleto:


1.

A Conquista de Salvador pelas Forças Patrióticas de Carleto em 1823, a serviço do Imperador Dom Pedro I, é descrita pelo historiador pernambucano José Inácio de Abreu e Lima no capítulo oito de seu livro, Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil de 1844:


“... General Carleto Gaspar Simões admitiu que teria de sitiar a cidade de Salvador. Ele reuniu canhões e batelões carregados de morteiros e, por seis semanas, a cidade foi bombardeada. O ataque foi tão intenso que a população fez recolher-se em cavernas sob as igrejas. Cercada e incomunicável, Salvador ficou sem alimentos e munição. Nos primeiros meses de 1823 as doenças matavam cada vez mais pessoas. Diante dessa situação, o Comandante Português permitiu a saída dos moradores e cerca de 10 mil pessoas deixaram a capital da província.

Os defensores imperiais mantiveram seus postos, mas Madeira de Mello via sua provisão de víveres reduzir-se cada vez mais, e seus homens começavam lentamente a esfaimar-se.

Em 3 de julho, sabendo que não tinha esperanças de socorro, o comando português pediu termos de rendição ao General...”


2.

O Folclorista mineiro João da Silva Campos, em sua Coleção de contos populares de 1876, curiosamente menciona uma marcante atuação de Carleto, ainda Tenente, numa refrega perto da cidade de Trancoso, quando protagonizara um curiosa intervenção num assalto aos acampamentos da resistência portuguesa:


"... e o homem sozinho e furioso de nome Carleto Gaspar caiu com estrondo sobre os homens e a soldadesca d'el-rei deu para trás com precipitação, ante os repetidos golpes do estranho soldado que, ao demais, parecia blindado contra as balas (...) Mais tarde explicaram os derrotados a causa de haverem cedido terreno àqueles...”


Sigo na Pesquisa.


A PAX CARLETISTA

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domingo, 8 de abril de 2007

- Canto Báltico IV -


IV


Tenho aqui


Um pote com Maná na Terra de Canaã

O ideal ortodoxo do Romantismo Alemão

Baianismo-Beat-Dionisíaco

Lírica persa em forma de paisagem

“ópios édens analgésicos”

A estética Plana oscilante do Orgasmo


Sob um tempestade de flechas gritadas das ameias

Invoco o Deus da Jericó Celeste:

A divindade surda ignora o chamado


Eu, colérico, impiedoso, cruel

Quase um Cesário Fracassado

Prometo o saque aos soldados,

Noite em que as provisões se esvaziam:


O fosso é largo

Os carros de boi exaustos


A linha de suprimentos enfraquecida

Os recrutas bebem tudo que acaba

Já não há para comer


O oficial não disfarça;

Reúne os homens e anuncia:

“Glória eterna ao primeiro que galgar as fortificações”


E os homens se enganam natos

Em meio aos destroços de setas e varetas

Em escadas quebradas nos tombadilhos trilhos e arautos

Galgando sobre o filho caçula da concubina assíria

Pedra sob os muros brancos e tostados da Tebas condenada

Erguida sob a pilha de homens desnudos sob telhas e carvão

O cadáver do menino como escada apodrecida para a Polis


Das sete portas cerradas sobram três


A Pedra de Palermo

O Papiro de Turim

A Pedra de Rosetta


O Canto Báltico das aldeias maias

Canto Cerrado das Agulhas Negras.


Canto amarrado entre a rede e a parede.



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sábado, 7 de abril de 2007

- Canto Báltico III -


III


.I.


No mictório de ladrilho azul-piscina

Um vômito de sensações intrusas

Jorrando um mar de caravelas lusas

No toilette imundo uma suína


Metafísica intestinal pós-eterna

Entranhas da humanidade encarregada

Ser cansado, meu ventre uma baderna

Sobre mim uma clarividência na golfada


Através de seus caminhos e atalhos,

ó senhor olímpico do mármore e do Cobre,

Cerdas vivas podres nos cascalhos

Chama de semente turva de alga nobre

Veredas e eclusas para os oceanos vastos

Escrotos lodos nos esgotos rodos pelos pastos


------------- // --------------

.II.


Caipora urbano das colunas de aço e montes de brita

Boitatá das vielas penumbras dos Bastos Bosques

O mar vermelho que se encerra, que se ergue aos toques

Carregamento de consolos apreendido na Serra das Antilhas

Animais extintos na Tasmânia desolada


A poesia é o consolo dessa criatura insone

Obcecada com guerras e epopéias

O jogador que sempre quer um pouco mais!

Viciado de veia em civilizações peninsulares

Colecionador de Rios e arbustos pragmáticos

Seduzido pela raça cósmica que esculpi divindades nas encostas

De um Tibet em Ramos ou Irajá


O suplício de Procusto, histórias de fantasma

Espaço tenebroso sob a cama esses tais mitos

Antigos matos escuros, laços dardos lençóis

Estradas turvas nevadas, igrejas ventos sem voz

Nunca o palácio de pedra bandido

O centro de sua nação em outra nação


Portugal ferido, com você uma última vez e

quero lhe falar de assaltos

Já não tenho Deuses para me salvar

Ao homem pós-moderno só lhe resta o ópio


Castelos nórdicos em mercados do Cairo

Festas da alta sociedade na Manhattan dos anos 40

O amor desgraçado na melancolia medieval italiana

A filha virgem do sultão da babilônia que jura por Alah

As matemáticas

Pólvoras

Astronomia etrusca


Cantando Édipo e Enigmas já devorados


Cantando a amaldiçoada lei da vingança privada.


Cantando os heróis mortos no cárcere


O excesso nas drogas

o suicídio


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terça-feira, 3 de abril de 2007

- Canto Báltico II -


II


O Herói Trágico escreve uma ode à sua amada

Bebendo água de poça e comendo papa de papel timbrado

Escreve versos com cera de vela derretida e pastosa.


Em trinta e nove meses na sombra da greta infuso

terminado o primeiro volume o mais selvagem

Em doze completo o segundo e derradeiro

Em mil a prosa de retorno ao estaleiro a estiagem


A autor morto recria a tradição e a obra

Glória das que se perderam e que nunca se acharão

O escritor recria os tratados que hoje são apenas títulos

Poetas altos do silêncio que pronunciaram senão duas frases


Angústia da Influenza

Algo sobre um Robinson Crusoé

Trancado num apartamento sem janelas

A beira do mar, mas sem o céu


Morto pela maré no cativeiro russo da Sibéria



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segunda-feira, 2 de abril de 2007

- Canto Báltico I -


I


No Garimpo além

Minha mãe é a Rússia inteira e mais a Ásia

Não há palavra a orar

Só o que me alcança é ver e prezar


O estrangeiro se recolhe no banheiro da pensão discreta

De rochas em pontas e pias papéis alface

Vinte metros até a próxima emboscada

O rastafari guarda

cantando segredos a pantera intrusa


Dois charutos magnos

Todos cantando Nice Time

O rastafari refrigera os peitos


Acende

Um fósforo

Uma fresta

A Fera foge ferida a ferro

E Segue cantando o fogo


Brigas de faca

Tocaia na curva oportuna

Cantando putas ensebadas

bebedeiras festas sujas

Dançando manhãs folgadas

Fortuna finadas faustos deslizes


Sulcos profundos insinuados nas dragas

Campeonatos de baralho nas paredes descascadas

Cantando Estátuas embaixadas, bares vícios pragas

Bastardos do esplendor das minas velhas

Arruinados nas florestas secas e etéreas


Mortos no Cativeiro sinfônico

Apodrecidos já nascidos

Crescidos fundo nos abismos

Mais velhos que os santos homens santos da Mongólia

Cantando decerto um Chico Buarque de Holanda das Estepes

Com Latas de Skol meio vazias meio cheias por toda Banda Oeste


Vai minha canção, vai por sobre as Serras do país!

Vai Sacro Império fantástico das tribos do semi-árido...

Narrativa de fogo e tempestade nas Bahias do agreste

Matita Perê imortal o Aleph Rosa da Cunha Sertão

Patroa descansando acesas velas cendidas no capoeirão

Velas pagadas em Pinhos de Riga manguezais e touros


"A crítica literária apenas mais uma triste ciência social"



H.B.



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Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841