terça-feira, 29 de abril de 2008

A vitória alada de Samotrácia

..

O rei de Assur convoca seus valentes:

Precipitam-se até as muralhas; instala-
se o abrigo. São forçadas as portas que

dão para o jazigo. A estátua é coberta,

retirada; suas servas, queixosas, são
levadas. Pássaros pousam nas cebes.

No tempo frio, brilha o sol.

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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Excursus - Por Luiz Coelho


A Isabel Diegues

Subúrbio, umidade relativa do ar: 75%. Um micro quarto, duas mariposas em torno de um corpo rígido defunto observam o silêncio mórbido. Não se sabe como procede a respiração das mariposas. Do corpo se sabe pouco: estático e impenetrável e sem respiração. Ao largo, na janela pequena, decerto um basculante, moscas entram e saem, no que parece, à espera, na espreita. As paredes caiadas contêm narrativas de infiltrações; sob mãos de tinta. Branca a parede absorve a luz lívida que ocupa os espaços que a fresta permite. O bocal sem lâmpada pende no centro do cômodo sem dar notícias do interruptor. Da rígida respiração dos cômodos, vazada por uma colônia de cupins, e da lixeira onde duas cascas de tangerina, antigas, liberam-se os amadeirados e cítricos perfumes. Discursos subjugados por uma membrana plástica desvelam a falsa quietude do álbum de fotografias sobre a escrivaninha empoeirada. Nenhuma melancolia a ser sentida, talvez nos recados em folha amarelada nos imãs da geladeira: telefones úteis, lembretes e uma receita de suflê. Não se tem certeza se aquela atmosfera atrai abutres, posto que a podridão é um estado. Ao derredor, a dor testemunharia sozinha sem deliberação explícita. Sobre a penteadeira o espelho repete o foco das tomadas permitidas por sua posição, intermediado por uma crosta de poeira é liberado de precisão e de credibilidade. Por goteiras o ritmo das estações é marcado, suas articulações denotam mudanças bruscas de tempo. A corrupção do piso subverte qualquer possibilidade de incêndio, o que em muito é vantajoso para as formas de vida que habitam o complexo. Não falta alimento. Traças se servem de uma diversidade de sabores: almofadas e livros; compreendendo em sua refeição a celeuma cultural e o descanso de outros corpos. Sob o corpo: um tapete. Sobre o corpo: pêlos persas. Entre os pêlos e o corpo: silêncio. Levanta-se a suspeita de que o cenário em torno do corpo pode deteriorar-se, embora seja próprio à ciência identificar, ao contrário do seu senso comum, fórmulas de sobrevivência. Dessa forma, nosso comentário elíptico sobre a brevidade da vida dos insetos fica em suspenso. Os rumores não levam a lugar algum, exceto ao comum: as paredes creditam a existência de antigas narrativas e afetuosidades, neste organismo arquitetônico, fato atestado pela presença de um corpo, apesar da inexistência de folhas em branco o que obstrui qualquer liturgia.

domingo, 27 de abril de 2008

Tempo de Estio

Nas arenas da Ilíria


I

Eu nunca quis pouco
mesmo que na passa
gem dos desertos, so
b a insolação das gra
ndes marchas mesmo
quando apenas um fi
lho das carroças

nunca com a
aventura histérica do
s rebanhos com o êxi
to dos seres em mana
das nunca esse elixir
do gosto o pasto essa
s modas de alento gast
o sim, à ânsia nova, no
va e guiada simples p
or uma solução, de de
pressão nas roças, na p
ródiga cabana enfim a
pesar do tempo assim
são as horas de
stio

.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

* Um (o) projeto

.

Serumgarim
peiro
comuma
ân siaen
orm
edesurtar
Nabir

mânia


.



Κλεοπάτρα Φιλοπάτωρ (69 a.C. - 30 a.C.)

Cleopátra Philopátor (69 a.C. - 30 a.C.)


"Estamos juntos

ainda que não

reconheças

minha voz


estamos juntos

ainda que não

sejas vidente

e não saibas.


Mas saibas que

estamos juntos.

Não hoje nem

em Roma nem


numa cidade ao

sol, Alexandria,

nem como,

deveras; só


saiba uma

vez

que estamos

juntos:


onde e como

sempre ainda

claro e tanto

e por pouco


não passamos

a virada

ou qualquer

prática,


ou reconhecimento.

Não é amor

não é qualquer

tipo de avesso


não é só estarmos

juntos

ainda que não

saibas, ainda que


não tenhas para ti;

e não penses, que

não tentes cavar

o fundo, não


tentes saber

o agasalho

não fales

não olhes,


não

duvides.

Estamos juntos

e é nada


nada pra dizer

que é isso.

Sem começo

sem tardes


sem causas

sem surgir

sem terminar

apenas


a história.

Estamos juntos

A partir da hora!

e vais ver


que uma vez

partindo

Não Paramos

Nunca, nunca mais."


Marco Antônio (83 a.C. - 30 a.C.)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Dorme Ponte


I


Mirar o laço frouxo

do vestido

Ater-se ao que se eleva

nos baixios

bater-se, a língua

prenha, e o baú dissecado

Temer ciências puras

e dialéticas da moral

ter-se como um filho

que nasce

quando dilaceram-se

os sapatos

comer as ondas

que escalam as muradas

honrar a botânica

dos fatos

tirar dos olhos

os ponteiros e

a lâmina

e assim passar

da faca o

fio

sem prender-se

deveras

ao ciúme


II


Atento

A pesquisar os gestos

Ciumento

Que dos rodeios

Não pode fugir

Covarde

Ela me olha

Eu não desvio

Atino

Não posso preescrever

A flecha

Tirano

Das sandálias

Não acompanho entresafras




quarta-feira, 2 de abril de 2008

Habitar!


A Whitman que nos lembrou
que todo andante é fábula
e Cabral que escavou em nós
a didática da rocha.

Mesmo agreste, o falar
compra das coisas
coisas que não são
o barro brando

da febre.
Trocar instantes como aritmética
forçada, nas atmosferas brilhar
o que folha branca não aceita,

levar, de casa em casa,
os telegramas
do gelo ler e habitar
a seita


terça-feira, 1 de abril de 2008

Route


I

Círculos de carvão seguem a rota dos veículos

Marcados no solo como um tango a parte

(Era tarde a chance de terem sido lamaçais)


II

Nada me ira, nada me erra, nada me faz

Desço o rio no vau dos pequenos canais

Atento a exalar moléculas de hidrogênio

tornado em transe, um metal.


III

Enxergar o que viram Borges e os gênios

Circular pelos manuscritos & opiários

Dançar boleros com putas na Birmânia

E andar e andar e cruzar e escrever


IV

Subir andaimes e escarpas:

Como um haxixe, estalar


Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841