terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

- ABISSÍNIA -

I

.

FUMO UM GUDANG DE CRAVO E ESTOU TONTO

CAMINHANDO MUITO CEDO DE MANHÃ
PELAS TELHAS DE BARRO
NOS CONFINS DE UMA CIDADE ESLAVA
OLHO O TANQUE ABANDONADO PELAS MILÍCIAS
SUJEITOS DECENTES, ESSES SÉRVIOS

EM TÂNGER, FALANDO DA MATEMÁTICA EUCLIDIANA
DESCREVIAM O CAMINHO PELO GANGES VIRANDO À ESQUERDA NO BRAHMAPUTRA E SUBINDO ATÉ OS MONTES DA BIRMÂNIA;
APÓS A QUEDA DE BIZÂNCIO NÃO TINHAM PRA ONDE IR...

UM MENINO DE QUATRO ANOS MARCHA ATRÁS DA SENHORA DE PRETO
MAL SABE ELE QUE A PRÚSSIA DECLAROU GUERRA CONTRA PARIS,
QUE O EXÉRCITO JÁ SE APROXIMA DA CIDADE...
STENDHAL PASSEAVA PELO CAMPO
E NÃO ENTENDEU AQUELA MOVIMENTAÇÃO DE CAVALOS EM WATERLOO...

BOLÍVAR,COM SALVO-CONDUTO, SAIU AFUGENTADO PARA A JAMAICA

FORA ESCREVER CARTAS E TRATADOS

AO LADO DO CANSAÇO NA MOCHILA
OS SAPATOS FURADOS DE COURO DE TEJU
COM UMA PEDRINHA NO BOLSO DAS MURALHAS DE CARTAGO
COBERTO PELO RENDADO VERDE E BRANCO DA SENHORA EM BOGOTÁ

DESCANSANDO SOB O CARVALHO EM BADEN-BADEN
O MOÇO
ARMADO DE UM MOSQUETE AUSTRÍACO
E O MAIS VELHO SONOLENTO
CASAS DE FAMÍLIAS RICAS E TEATROS
AS ARMADILHAS DO ÓPIO NAS ESTRADAS DO PALÁCIO

VIM PARA ATENAS E NÍNGUEM TOMOU CONHECIMENTO
ANTES SER DO BONDE SOM A POSSUIR TODO IMPÉRIO PERSA
CARLETO BRADAVA FURIOSO
"OS HOMENS AO FUGIR DA MORTE,
PERSEGUEM-NA. INSENSATOS;
TEMENDO A MORTE QUEREM ENVELHECER"

A CORAGEM FAZ PEQUENOS OS GOLPES DO DESTINO
“MEU IMPÉRIO JÁ BASTA”
O DESEJO DE TER MAIS DESTRÓI O QUE ESTÁ A MÃO,
COMO PARA O CÃO DE ESOPO

“A GUERRA CIVIL”, MEU BOM GENERAL, “É UM MAL PRA AMBAS AS PARTES,
POIS PARA VENCEDOR E VENCIDO A DESTRUIÇÃO É IGUAL”
“EU SEI DISSO, NOBRE CAPITÃO,
MAS EXISTEM PENSAMENTOS MAIS FORTES QUE NÓS
A LIBIDO É INTENSA AQUI NOS TRÓPICOS”.


AGRADÁVEL SAUDOSISMO LUSITANO
VARANDAS VERMELHAS DE FLORES NAS PRAIAS DE MADAGASCAR
CHUVEIROS DE ÁGUA QUENTE,
DE OLHOS FECHADOS E PENSANDO
PORQUE ESCREVER SE ISSO NUNCA TRARÁ O SUSTENTO

CONTO DEZENOVE BARCOS NAVEGANDO NA ENSEADA
JOGO O PIÃO NA AREIA E O DIA É FRIO E NUBLADO
LITERATURA, VÍCIO INGRATO
ANTOLOGIAS, COLETÂNEAS, CITAÇÕES, VERSOS
DESCUBRO O INVISÍVEL NO TRANSE DA SACERDOTISA EM DELFOS

EM ROMA
JURAMENTOS CONSAGRADOS À GUERRA
JUDEUS NEGROS DA ABISSÍNIA ENRAIZADOS NAS MONTANHAS
PETRARCA A COPIAR SONETOS DE UM COLEGA DE OFÍCIO
MARCO ANTONIO ATUANDO COADJUVANTE NA OBRA DE SHAKESPEARE

COPTAS NO EGITO CAVANDO SUAS IGREJAS NA ROCHA;


NA MINHA PASSAGEM DAS HORAS

COLTRANE BOB E CAETANO

MORERÉ GUARDA VEADEIROS

GRANDE SERTÃO E VEREDAS INEXPLORADAS


PAIXÕES VIOLENTAS EM NAVIOS A REMO
AS PONTES IMPLODIDAS AO LONGO DO DANÚBIO
NA PORTA DO CASEBRE MEU CORAÇÃO DECIDIDO

A VIDA INTEIRA POR UMA BEBEDEIRA EM CRETA


ROMA PERMANECE EM PÉ TODAVIA
COM
SUAS TORRES E TEMPLOS A ABRIGAR OS QUE MANDAM NO MUNDO
COM SEUS LIVROS DE GENTE MORTA A FORMAR ERUDITOS
SUAS PROMESSAS DE GLÓRIAS E IMPÉRIOS.

TIBERIS FLUVIUS


O SOLDADO SE DESPEDE DA ALDEIA, ADEUS FELICIDADE RURAL, ADEUS MENINAS, ADEUS
A BLIETZKRIEG TEM HORA MARCADA,
NO ALTO DA TORRE VIGIANDO...
É O HOMEM QUE SE DEBRUÇA NA JANELA COMENDO UM BOLO PASSADO
TODOS SABEM POR LÁ:
É IMPERATIVO EXPLODIR O QUE PASSA
O SEMPRE ADIAR TORNA SEM FIM AS AÇÕES..


VOLTO AO MEU SONHO
FINJO NÃO SABER O QUE DIZER PRA ELA
DESFAÇO O FEITIÇO DOS ÍNDIOS NO ALTO JAVARY
RENEGOCIO O TRÁFICO DE PUTAS EM SÃO FELIX DO XINGU..

SOU CANDIDATO POR SANTARÉM


INSISTO E NÃO SEI SE VAI DAR CERTO


MAIS COM OS VISIGODOS QUE COM MEU PAI
FETTUCINE A BOLOGNESA NA MESA
ESTOU NA CADEIRA QUE EU GOSTO
NUMA CABANA SOZINHO LONGE DO MUNDO
NUMA CABANA VAZIA LONGE DE DEUS
SEMPRE ALGUÉM POR TRÁS DA PORTA A ESCUTAR A VOZ
TIRO O ELMO PARA COMER O FETTUCINE
MANCHO A CAMISA BRANCA COMO QUEM DESPERDIÇA A VIDA

E FUMO O GUDANG DE MENTA PARA REFRIGERAR OS PULMÕES..



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II


O ATLÂNTICO À ESQUERDA


TRAZENDO NA MALA ESSA COLETÂNEA DE POEMAS

VOAR SOBRE O CANAL DO PANAMÁ
VER POR TERRA UM MAR QUE FOGE PRO OUTRO
ANJOS DEVORADORES OS OCEANOS
LIGANDO MICRÓBIOS E HECATOMBES

RESSOA O GRITO ANTIGO DOS GUERREIROS IMPLUMADOS

DO AÇO A DESTROÇAR AS LANÇAS DE LÁPIS-LAZULI
AS ACHAS DE OBSIDIANA

AS FACAS DE SÍLEX
OS MONGES NAS CATEDRAIS E SACERDOTES NAS PIRÂMIDES

CHITZEN-ITZA PALENQUE TIKAL UXMAL

GRIPADOS DE BOLHAS E MANCHAS PELO CORPO

COCEIRAS E FERIDAS NAS TRIBOS OCIDENTAIS

AS CASCAS DOS HOMENS DE CASTELA
PRA OESTE DAS MOLUCAS E ARÁBIAS

DESDE AS MATAS ESCURAS ACIMA DE VERA CRUZ
ATÉ AS ÁGUAS TRANSPARENTES DAS ANTILHAS HOLANDESAS
EPIDEMIAS, TÚMULOS DE ALDEIAS EM RUÍNAS

TARDES DE BALSAS LENTAS E LAGOSTAS MORTAS


À MESA COM FOME E CANSADO

DESCREVO PAISAGENS ANTES DA JANTA

ARRE ESTADOS DE SÍTIO, CALAMIDADES DA GUERRA,

CIDADES ABANDONADAS


RODES, MALTA E SIRACUSA

PULANDO O CARNAVAL DE VENEZIA DE BRAÇO ENFAIXADO

ENTRE DIAMANTINA, RECIFE E MONTEVIDÉU

UM RESTO DE CAFÉ NO COPO E O CIGARRO QUEIMANDO


ROMA, PENSAVAM OS HOMENS,

JAMAIS TERIA SEUS PRÉDIOS DE MÁRMORE INCENDIADOS

OS GERMANOS DE CUJAS CIDADES NEM SABEMOS OS NOMES

NÃO REFLETIAM MUITO SOBRE AS COISAS...

ERAM BÁRBAROS PORCOS E SANGUINÁRIOS..

NÃO ESCREVIAM SEUS NOMES

NÃO TINHAM LITERATURA

APENAS SE ENFASTIAVAM DE CARNE CRUA E TRIGO FERMENTADO...


PLANEJAVAM ASSALTOS...


MINHAS TROPAS SÃO COMO HUNOS

ATRAVESSAM COMO FOGO AS PAISAGENS

O MUNDO É CINZA POR NOSSOS CAMINHOS

“FECHEM AS PORTAS, TRANQUEM AS JANELAS E GUARDEM BEM SUAS CRIANÇAS!”


e tu...


GUARDA CONSIGO, QUERIDA, O BANCO DAS PRAÇAS PEQUENAS!

NÍNIVE A PÉROLA DO ORIENTE

NAS SAGRADAS LETRAS DE TUA GRAÇA

SE ORDENE O TEMPO DE MINHAS PALAVRAS

A UM DIA DE VANTAGEM, FELIZ, NO TOPO DA SERRA AO SEU LADO


Ó LINDA ADÉLIA PRADO:

“NEM BEM CHEGOU, FOI DIZENDO, OS OLHOS FIXOS EM MIM:

MINHA VIDA DÁ ROMANCE SEU CARLOS”.


ANOTANDO OS COMPROMISSOS NAS NOTAS DE SUPERMERCADO

A BOLSA UMA BAGUNÇA DE PAPÉIS AMASSADOS, CIGARROS RASGADOS E VIDROS DE PERFUME

ERA A PRIMEIRA VEZ QUE CANTAVA NUM TEATRO DAQUELA IMPORTÂNCIA


PRESO NO MUNDO ANTIGO IGUAL O MODERNO

NU NO QUE ME FAZ UM HOMEM BELICOSO

HELENA, A PUTA INSENSATA DAS PRAIAS DE HOMERO

O ÊXITO INQUESTIONÁVEL DOS DEUSES DA GRÉCIA CONTINENTAL


MAS É INÚTIL FALAR

NÍNGUEM COMPREENDE OUTRO TEMPO

O HISTORIADOR É SEMPRE UM DISSIMULADO

A HISTÓRIA SEMPRE FICÇÃO

DESDE ERAS DE IMEMORIAL COBIÇA

O MUNDO É FEITO PROSTITUTA

E O BÁRBARO É SEMPRE O IMPÉRIO

NO COMEÇO ERA O SANGUE NO CORPO VIVO DO CRISTO

HOJE É NAS RUAS, NAS CIDADES, NAS FAZENDAS

NOVAMENTE NA ANTIGUIDADE.

TODA HISTÓRIA HUMANA..

TIRO, DAMASCO, JERUSALÉM, STALINGRADO

O DONO DE UM BILHETE PREMIADO

O TAXISTA PORTUGUÊS

O PEREGRINO JUDEU

O SAQUEADOR DE DEPÓSITOS

A PUTA DIVORCIADA

O CRIADOR DE PAPAGAIOS

O COLECIONADOR DE ANTIGUIDADES

O ENGENHEIRO DE DILÚVIOS

O ESPECIALISTA EM FEBRES TROPICAIS

O ESCRAVO POR DÍVIDAS


O COVEIRO


UM DIA COM CHET BAKER

FUMANDO ÓPIO PARA BAIXAR A FEBRE

PROCURANDO LUZ NAS CANETAS NOVAS.

DISPERSO PELO ILÍCITO QUE CIRCULA EM MINHAS VEIAS *






domingo, 25 de fevereiro de 2007

- OS CLÁSSICOS -

"Não encontro repouso senão na leitura dos clássicos."

- O NAVIO -


WW.

Nada de trégua, bombas de sucção não vencem vazamentos...
O fogo avança pro paiol de pólvora,
atingiram uma das bombas...
Todos acham que estamos afundando.
Sereno, o pequeno capitão, não tem pressa
Não fala alto nem baixo
Seus olhos brilham mais que nossas lanternas.

Deitada e quieta jaz a meia-noite,
Dois cascos imensos imóveis no seio das trevas,
Nosso navio crivado de balas e afundando devagar...
Nos preparamos pra passar
Pro navio que conquistamos.

Capitão Pinheiro no tombadilho superior
Dando ordens com frieza...


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

- AS CIDADES -


Que tenha em mim um pouco de todas as cidades que tenho percorrido..

- AS NAÇÕES -

.

As nações todas são mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós

.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

- A RELVA -


Acredito que voltarei à terra daqui a cinco milênios
Bebendo hidromel numa taça de crânio
Fã de Shastas e Vedas
Batendo o tambor de pele de serpente
Aceitando os evangelhos e crucificados
Ajoelhado na missa
Em transe austero nos bosques
Eu, delirando e espumando em meus surtos de loucura.
Tenho biscoitos pra comer e chá

Vejo o bote chegando.

"Dromedaire Mon Amour"

A salvação..

WW.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

I

By Gibbon 2007


I

Verso Livre/ Norman Rockwell.


“Sol subiu: Trabalho

Sol desceu: Descanso.”

Ezra Pound


As nações todas são mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós

Tenho que viajar, sair

A rotina é a planície de Maratona pela manhã

Repetição, robótica, cansativa

A fuga de casa, silêncio de começo de mundo

Duas e quarenta e três da tarde num hotel imundo em Juazeiro

Sem conforto mas liberto..


Um Renault Clio, um Uno Mille,

Uma Lambreta, uma CG, 125,

Um fusca, um gol, uma bandeirante

É preciso ir por terra

(Novo jato da embraer)

“Q Q tu vai pedir?”

“Uma Coca Light, Por Favor!”

“Você não tinha largado esse vício?!”

“É... Traz uma Bohemia Gelada então”


E agora... Sobre o que escrever?...



( ... )

“Aeromoça, será que a senhora me pode me dar outra Bohemia?”

Hoje é quinta-feira a véspera do descanso

Sexta sábado e Domingo

Zaire Rondônia e Buenos Aires

Nada de livros, só quero ler revistas.

Boca seca, pé imundo, tarde da noite

Nem sinuca nem samba nem cinema


O Prometeu Acorrentado



II

.

Vai Lobato!

Pra escrever um livro é isso:

Joga no papel enrola e acende,

Depois escuta as vizinhas grisalhas nas janelas da Sabará Antiga

e aprende!


Cada dia é uma Pérsia que eu Conquisto

Mas segunda-feira a noite é imperdível, o Programa da Hebe é insuperável. Papo de correr do trabalho e chegar a tempo do programa:

“Hoje temos Negra Li, Marcelo Serrado, Sabrina Sato, Dinho Ouro Preto, Felipe Massa, Latino e Valéria Valença”.

Sigo a receita do escritor

Com a diferença de que não jogo no papel

Fumo direto no cachimbo

Me vêm assim a Assíria & Charlie Parker

A Guerra Civil em Angola & o Êre no programa do Chacrinha

A bacia hidrográfico do Rio Zambeze & o pescador na música de Caymmi

A sacada dos quartos de hotéis baratos & os jovens na tarde de procissão

A linha Vermelha interditada & as fábricas de sabão


Na Velha Havana...


“Vou dormir Legal!!!”

Mas tomo um café e é como o Renascimento na Itália

Abençoados cofres da família Médici.

Pudera eu ser o Aníbal da Presidente Vargas

Atravessar a grajaú-jacarepaguá como um soldado de Cartago nos alpes italianos

O Alighieri do Rio Cidade-Estado

Escrever em versos a Avenida Brasil e o Saint John Baptist

O Giotto dos muros da Central do Brasil e Leopoldina

Instaurar o classicismo na Francisco Bicalho.

Os trezentos de Esparta do Complexo...


Dia 2 de Feveireiro

No bearboug, no Bronx, no cais

no Chapéu Mangueira, no Leme,

e eu e eu e eu e eu e eu

sem me perguntar


No Leme

Lá por baixo

guiando a embarcação

Atracando em Óstia sem lanternas

Noite triunfal no Fórum de Adriano

A via Cavour parada para os dois navegadores

Da Gávea, Gregos gritam para Troianos:

“Abandonar o navio!”

Afundando a embarcação, me pergunto: Onde por acaso estariam os Cedros centenários da Fenícia??


Escutando Racionais, acordo e vejo o verão chegar

“Spinning, Ginástica Local, Tae BO, Gap, Musculação,

Step, Yôga, Pilates!

E eu querendo:

Lampião, Don Corleone,Pancho Villa e qual é mesmo o nome do Bruce Willys no duro de matar 1???

Ó deuses da Anatólia

“Tragam o colírio para aliviar”

No dia químico do meu hemisfério

Me sonho um James Bond medieval

Servindo Don Lorenzo, o Magnífico

Escutando o Jazz que nessa época era comer cogumelos

Dia 13 de Março em Santo Amaro na Praça do Mercado

Recitando Ovídio poeta latino

“A morte próxima num barco mouro em Cadiz”

O poeta em sua última noite.

As Mulheres escondidas me vêem passar da janela

“ah, que desatino entre os francos e etruscos

Quando passo por entre suas mulheres, que desatino”


Mundo Novo, mais nobre das missões

Caminho como exilado pela Avenida Nossa Senhora de Nazaré o Círio de Belém, até a basílica...

Ergo louvores a santa do Paraíba do Sul e à seus nobres pescadores

Enquanto o mundo acontece estou a vender gravatas no deserto

Descendo a vida toda até os Saltos de Paulo Afonso

Encontrando debaixo do travesseiro, numa pensão vazia,

As escrituras sagradas das sete quedas do Rio Paraná..

Rio Nilo, Noel Rosa da antiguidade

Horda Dourada nas festinhas de formatura

Villas-Boas das boates entupidas

Dom Quixote nas noites de falência

Dom Juan dos sambas e trapaças

Os palcos são anfiteatros e temos que chegar ao Ceilão antes das monções


A lareira de Circe queima a noite toda

Vou baixar todos os programas da Hebe no e-mule

Que ela me evoca as festas antigas nos Montes da Trácia

E esse haxixe, desconfio, não é o marroquino...

Me prejudica.

Ezra Pound segue me guiando

Seus versos são meus passos

E o saque literário é o gênese da poesia.

Moças fodidas e as bestas pesadas de sono


Bares Vazios na esquina do sinal

Festas nos portos perdidos em Macau

Terras onde o dia tarda mais que no ocidente

Guerras de bestas amansadas, de moças inocentes,

Terras de lenda de dilúvio,

Málaca, Valparaíso, Glasgow, a Tebas Hekantophylus

Na hora que rezo pra dormir

Transborda em mim todo o espírito rapace que aniquila impérios

e é sempre involuntário

Sou eu,

o que derruba as muralhas

O que implode os edifícios

O que assusta as crianças


Mato os cachorros que latem

faço arder as avós

Faço arder de tudo...

Todos os livros proibidos...

Faço arder...


Na verdade não faço...

Mando fazer!

.

III

Escrevo de um palácio Minóico

Uma casa Neocolonial com portas de leões de Bronze,

Muralhas de prata maciça

colunas dóricas

E uma capela bizantina.


No chão da capela

Ajoelho e rezo pro Deus cristão

E em sonho antigo de prece atendida

Escrevo num hotel em Nairóbi 1942:


Preso no hotel pelas milícias

Todas as fronteiras encerradas

Parei na cama e decorei as capitais do mundo

Acendo um cigarro, folheio uma revista

E qual é mesmo a capital da Mauritânia???


Palavras impronunciáveis

O tronco lingüístico do Lácio

Guerra Civil

Pai e filho César e Pompeu


“Fireworks”

Grita o dono do Ritz

Hilton, Othon, Marriott, Sheraton, Meridien, Plaza

Arre, Grandes Hotéis de Nova York, Genebra, Viena


De cavalo, tanque, Jipe, Fokker

Serra Leoa Etiópia Costa do Marfim Congo Eritréia

A África Central é um bordel de aventuras militares,

atos de heroísmo imbecil e justificado

de pesadelos coletivos..

Vivos como judeus libertos dos campos na Polônia

Desterrados em nações sem portos


Banqueiros, Corretores, executivos,

Oscilações e boatos no Mercado

Advogados, promotores, juízes

Acumulação de dívidas e cheques pré-datados

Camelôs, contrabandistas e assaltantes

6 parcelas no cartão ou a vista com 20% descontado


Quero um emprego, uma bolsa de estudos

No Cairo, em Bombaim ou em Bogotá

Sou um olmeca faminto nas matas do Tinguá

Se tudo der certo

Parto em peregrinação tonight

Vou beber cachaça

Em Santo Amaro ou no Kuwait


Sozinho ou com quem quiser partir comigo...








IV

Vícios são caros

Quero escrever o poema da história humana

Vícios são caros e vazios

Cantar em versos os desvarios e desgraças

Vícios são tudo

O frio assassino das terras do ártico

A noite calada dos desertos de pedra

O acender um cigarro quando a polícia passa


Vivem na confusão que sou

todos os gladiadores, assaltantes e profetas

Meu bom-senso é um anfiteatro lotado

Cercado por ursos pardos da Sibéria


Como numa transformação

Empurro todos que estão a minha frente

E a escada monumental que leva ao alto das muralhas

é todo o tempo que me resta

Os homens que caem, agonizando nos ferros e estilhaços

Aguardam em desespero a salvação final

Mato todos que estão a minha frente

Os vícios são caros e perigosos


Incendiar palácios

Derrubar estátuas

profanar templos de deuses pagãos

A manhã seguinte ao saque se torna a mais cansativa

Derrubar paredes com marretas,

arrancar dos tetos as telhas de bronze,

executar, julgar, prender, soltar, cair

Vícios são Bons companheiros


Me toma de assalto uma espontaneidade Viking

Quero queimar, queimar, quebrar e furar

e nada de fundar dinastias, produzir herdeiros.


Almejo ser um rei Vândalo

Derrubando muralhas de cidades virgens ao saque

Conquistar Egitos em semanas sem sol

Ser aclamado libertador nas novas repúblicas

Agora, a partir de ontem

Me declaro homem-santo

Os vícios devoram os homens

E tudo que sobra em mim

é a guerra.

V

Onde está o mundo das preces sinceras na província??

Onde fica essa realidade das eras geológicas??

Que fazer de um corpo que é um só?

Sou uma pedra portuguesa jogada na sarjeta

E saúdo a Deus o grande absurdo do mundo

Vivo um profeta Sumério

E escrevo em versos o futuro


Por onde quer que eu atravesse

Estamos sempre procurando abrigo.

Rio de Janeiro começa tudo de novo

“A vida é uma grande feira

E tudo são barracas e saltimbancos

Todos os lugares são o mesmo lugar

Todas as terras são as mesmas

Toda manhã que raia,

Raia sempre no mesmo lugar

Chove muito, chove excessivamente...

Chove

E de vez em quando faz um vento frio...

Estou triste, muito triste,

Triste como se o dia fosse eu”

A.C. 10/12

Subitamente uma febre me toma

lamento não ter estudado mais no passado

Hoje, quero ser puro como um monge tibetano

Levar minhas letras aos cedros do líbano

às palafitas de Belém

Ensinar a mitologia aos povos


Riachuelo, Maracanã

Mudando de estação no Estácio

A milícia embaixo do colchão faz vigília

Legionário, Hoplita, Hussardo

Sou o negro João Cândido a bombardear essa porra de cidade maravilhosa


a trair a cidade eterna

Era eu, abrindo as portas

Era eu


Pichei muros a vida inteira

E isso nunca foi sem razão

Mas por que faço não sei

Sinto as pernas cansadas

Já não canto e danço como outrora


Na linha vermelha

Atravessando o caju

A guerra é real pra toda mãe

De pixinguinha e Villa-Lobos ao Pagode com churrasco na Vila

“Skol 1 real!!!!”

E assim é a vida

Arregaçar as mangas

E cavar, cavar e cavar

Até encontrar o ouro no fundo


Luz e trevas nos charcos de Jequié

O trem apita em Corumbá madruga

Maré cheia em Mangue Seco venta

A chuva desaba e tudo é água em Sorocaba


Sem-Terras Invadem a fazenda do Senador no Alagoas

Piratas, movidos a ópio, manobram 30º para oeste

Franceses abrem fogo contra a vila de Santos

No forte distante, do Morro de São Paulo,

O vigia dorme.


São corvetas, escunas, saveiros,

São traineiras, lanchas, galeras

Amanhã,

Devo vender a casa

Doar os móveis

Ir pra algum lugar longe na Serra

Quem me dera, fossem todos os rios o Madeira

Fossem todas as baías ignoradas

Fossem todas as coisas areia


Oro pelos que migram

Pelos que vivem da terra

Rezo pelos quartos amarelos,

pelos papéis de parede

Pelos que me fascinam


Penso em ti no silêncio

E será o dia:

Você sorrindo à minha alma

Por fim

Abandono devaneios

Romantismos

Mato todos em volta

Conquistamos a muralha nesse meio tempo

Com um sorriso maligno

Levanto o estandarte da vitória

e sou atingido por flechas mortais


Morro pra dizer o que é renascer

Esse é o sistema do Universo

Subo as Agulhas Negras

E espero ser chamado de volta


Penso nos otomanos e em todos os povos das estepes

Nas pedras imensas da arquitetura Inca

Nas línguas esquecidas pelas ilhas do Pacífico

Nas epidemias, pestes e massacres

A conquista da Índia

As guerrilhas no Hindu Kush

As agressões no Moçambique português

Me enjoa esse cigarro de menta

Mas é a droga que eu disponho

Na ficção moram todos os meus êxitos

Amo samba jazz e música cubana

Velas, óleo de cozinha, gasolina e óleo dois tempos,

minha lista de compras...







VI

I

Aqui renascem as palavras

O dia triste já finda a esta hora

Passo a terceira marcha

e os sinais estão todos fechados


Por ironia, humor negro, ou desespero

Penso nos meus gastos, bem maiores que os rendimentos

Penso nos fundos de investimentos, nas taxas de juros,

Nas alíquotas do Imposto de renda, na flutuação do dólar,

nas metas de superávit, na política cambial, na queda da bolsa de Xangai

Tudo números

E dizem que pessoas de alta competência

devem estar cuidando para que tudo dê certo


- O Senado em Washington aprova o envio de mais vinte mil soldados para Bagdá

- Britânicos torturam traficantes de ópio nos estaleiros de Basra

- As tropas da Frente Etíope de Libertação já ocupam posições importantes nos subúrbios de Mogadíscio

- A China cresce 10,9% em dois mil e seis e as importações aumentam 72%

Puta-que-o-pariu


Tribunais, Liminares, Hábeas-Corpus

Mandados, Varas, Notificações, Inquéritos

Reconhecimento de firma, Júri, procuradores, detetives

Banco dos réus, defensores públicos, sentenças, apelações, instâncias...

Convencido de que a democracia e a República são formas de escravidão

Arrumo as malas e parto no Costa Fortuna para Ilha Bela

No dia em que parto

Ninguém mais acredita naquele, meu bom General!


Só nos resta o Rei

O inimigo avança pelas trilhas entre as montanhas

Temos que recuar

São Petesburgo: duzentos mil russos

- U-BOATS – V–2 – AK-47 – M-16 – RPG 7 -

- PANZER – CHINOOK –

- KRUPP – LITTLE BOY – ENOLA GAY –


Trincheiras no Marne,

Franco-atiradores em Sarajevo

Desastre em Gaugamelos

Indenizações do pacto de Versalhes

Campos sombrios da Alemanha oriental


- SARIN – EBOLA – ANTHRAX –

- HIDROGÊNIO –

Segue o jogo da bolsa ininterrupto

Restaurantes abrem aos domingos e feriados

Bancos fecham às

Espera um pouco

Deixa eu acender...

O fósforo ta um pouco molhado...

Pronto.


II


Me tele transporto.

Estou jogando pôquer num vapor, cruzando o São Francisco

Tenho no meu camarote a viola caipira dos rancheiros

E todo ouro e diamante que trago do Arraial

Entre Vera Cruz e Londres

Descanso vinte e quatro horas nas selvas do Pantanal


Crédito nos bancos da Filadélfia

Tesouros trancados nas cavernas da Bahia

Monto minha própria frota em Trafalgar

Coleciono borboletas nas horas vagas

Escrevo Romances Históricos depois da Meia-Noite

E nem em Harvard aprenderia o que essa cidade me ensina


Nesse exato instante

Morre o prisioneiro uzbeque que aguardava julgamento em Guantánamo

Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, Apollinaire...

Não li porra nenhuma

Dormia numa sinagoga em Gibraltar e fingia ser Judeu

Quando o rabino virou de costas,

roubei os saquinhos de açúcar e adoçante e enfiei nos bolsos.

Do outro lado das colunas de Hércules

Uma luz brilhava nos rochedos de Ceuta...

Imigrantes Argelinos atravessando pra Espanha...


Quero ir pra casa

Meu mundo não é de Oceanos

Sou o da vereda solitária

Do boi e da carroça

A estrela auto-existente amarela.


Um Ostrogodo que canta Bossa Nova

- Em7(9) C7M Am7(9) D7(13) G7M -






VII

Morreu numa quinta feira executado, após sobreviver à batalha de Maratona e ser considerado desertor.

Enterrado junto a seu cavalo, descansou três noites e partiu numa balsa para as águas do Ocidente. Foi viver entre os Hunos e Alamanos, passando anos desaparecido, a saquear e incendiar cidades.

Séculos depois em Constantinopla encontrou a Morte outra vez e teve que mudar seu nome para despistá-la.

Deus do Sal e dos sitiados, morria todas as décadas nos campos da Rússia e da Itália e vivo ou morto sempre foi e será o Deus dos que defendem muralhas.

- QUESTIONÁRIO -

- Em qual dos lugares abaixo você escolheria viver:

[ ] GRANDE LAGO DO URSO BRANCO

[ ] LAGO BAIKAL

[ ] RIO LENA

[ ] DESERTO DE GOBI

[ ] GROENLÂNDIA

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

- A FUGA -

Numa obscura clarividência noturna, decidiu fugir anônimo para a Europa e passou a juntar dinheiro escondido de seus oficiais

- VALES DO SÃO FRANCISCO -

O objetivo de Pinheiro era capturar as minas de diamante da Serra do Sincorá, avançando sem resistência pelos cânions do São Francisco.

- FÁBRICAS DE SABÃO -

Carleto argumentava que a industrialização era a única base para o verdadeiro Carletismo. Porém as indústrias existentes na Bahia, pequenas fábricas de cimento, vidro, papel, tinta, sabão, panos e velas de cera estavam completamente devastadas pela década de guerra.

Capitão Pinheiro, o comandante militar das tropas do ocidente, enviava cartas diárias, em que informava Carleto da situação no fronte ocidental, após três semanas de cerco a Juazeiro.

- A CARTA -

Lhe atormentava a idéia da derrota, aquela resistência enfurecia-o:

“Deixe-me ver a carta Lobato”

A noite não conseguiu dormir, contava de um a cem e dobrava o dedo mindinho; contava de cem a duzentos e dobrava o seu vizinho; assim por diante, até completar mil e ter as duas mãos fechadas. Lá de cima escutava os tiros distantes e as descargas de artilharia.

- O MAUSOLÉU -

No topo da serra ergueram um enorme mausoléu de mármore branco; e Carleto ordenou a execução de todos os envolvidos na obra, para que ninguém soubesse ao certo a localização de sua sepultura. Mesmo depois desse episódio, o Marechal se declarou morto diversas vezes e numa ocasião teve a oportunidade de acompanhar disfarçado, seu próprio funeral.

Quando seu navio foi afundado perto de Ilhéus, Carleto desapareceu por muitos dias e foi encontrado nadando perto de Corumbau.

- A PREFEITURA -


Na noite do natal, ele entrou na prefeitura da cidade com pouco mais de duzentos homens e caiu sobre o tapete vermelho do gabinete do Alcaide; saqueado, sem cortinas, móveis ou lâmpadas;

Lá permaneceu deitado até a semana anterior ao carnaval, quando apareceu pela primeira vez em público aquele ano, e foi ovacionado pela multidão numa cidade que já estava praticamente reconstruída e onde marchavam agora seus regimentos de crianças, velhos e adolescentes.

- A VARANDA -

"Bom dia”, lhe cumprimentaram da varanda as tias velhas.

- O BANQUETE -

Apresentava agora seus discursos no feriado nacional, num suntuoso cerimonial que exauria os cofres públicos com seus bordados de ouro, guardanapos de linho, talheres de prata e com as enormes variedades de vinhos, peixes e assados.

- A FEBRE -

CARLETO FUNDA O MAIOR JARDIM ZOOLÓGICO DA REGIÃO E ENCOMENDA QUATRO ELEFANTES INDIANOS.

Curado da febre da papoula, retirou-se para sua fazenda em Jequié e transferiu todos os ministérios e repartições públicas para a região. Vivia como um imperador e reinava absoluto sobre todas as terras compreendidas entre o São Francisco e o Oceano Atlântico. Seus cozinheiros eram franceses, seus alfaiates italianos e muitas de suas concubinas tinham sido trazidas do Rio de Janeiro.

- O QUADRADO -

“Marechal, é melhor procurarmos um lugar mais seguro para senhor” Uma tempestade se anunciava...

- O SANTO SEPULCRO -

A BAHIA DE SAUDADES HÁ DE CLAMAR: CARLETO!

Com suas insígnias de Barão de Caraíva, Carleto abriu caminho por entre as ruínas de Trancoso e foi o primeiro a adentrar os restos da igreja colonial.

Ajoelhou-se perante a santíssima cruz e caiu em prantos como os cruzados no Santo Sepulcro. Pediu a seus granadeiros pessoais, que trouxeram sua valise com seu maior tesouro: uma edição em grego da ilíada, datada de 1542.

- O INCÊNDIO -

Nada como depois da confusão do milagre na planície ensangüentada em que os vencedores se tornam fuga e abandonam para sempre as pastagens do sul. Nos mangues ao sul de Caravelas Carleto desistiu do avanço, evacuou a cidade e a incendiou junto com seus fantasmas.

- O ANCIÃO SOB A PEDRA -

Encontraram aquele ancião branco, curvado sob uma pedra nas profundezas da selva da Bahia; Estava imerso numa velhice tão avançada que lembrava histórias do século retrasado e já era muito idoso quando todos os avós eram crianças.

Vivia naquela posição há décadas e podia caçar sem tirar os pés do chão. Amigo da morte, comia carne crua e nos dias de chuva acendia uma luz fininha e seu cachimbo fumegava até o amanhecer.

Tentaram retira-lo dali algumas vezes, mas estava de tal modo agarrado a terra que se quisessem levá-lo dali teriam de levar junto a rocha imensa sob a qual ele morava.

Questionado sobre sua procedência, falou num português antigo; e hesitante repetiu umas poucas palavras da língua nova como quem fala um idioma estrangeiro.

Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841