segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Uma Canção



dentro da tarde há um céu
debaixo dos troncos e só

dentro do homem a tarde
casados dilúvios e nós

dentro da tarde um menino
vestindo uma espécie de rei

dentro do rei um fascínio
cantando a canção que guardei


terça-feira, 21 de agosto de 2007

Sobre o caiçara


O mar entre dois versos


se alarga e transborda os versos

os versos a soluçar se exilam;


O caiçara sem versos para viver

abandona a estrofe


e tudo vira mar


Uma ideologia


Só os excessos conduzem a sabedoria


Viver é morrer nas selvas do Cambodja

ou aos pés dos muros de Jerusalém


Todo o resto é mistério




segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Fragmentos Carletistas V


...Em homenagem ao visitante cantaram uma canção de final de tarde outra de quando o rio chega no mar e por fim uma sobre a primavera no São Francisco, quando a canção terminou selaram os cavalos e foram caçar raposas...


Fragmentos Carletistas IV


...

i

O combate já durava dias e Pinheiro se recusava a recuar de suas posições na margem norte do Rio Pardo.

Suas baixas já antigiam milhares e os reforços de Porquinho tardavam em chegar; Carleto jazia com febre nas ruínas de um hotel em Prado e a nova infantaria do Coronel Franklin avançava com seus carros de combate indiferentes ao fogo dos morteiros e canhões Carletistas.

Pinheiro resolveu recuar quando a névoa prevaleceu na escuridão do inverno baiano; com o auxílio do Coronel Campos Bastos, levou seus homens em balsas improvisadas até a margem oposta.

O contingente, no entanto, estava muito enfraquecido para deter o avanço de Franklin. Haviam poucos soldados sobreviventes da 5ª Infantaria Carletista; da 4ª Divisão Blindada de Belmonte e da 9ª Artilharia de Porto Seguro...


ii

Os campos Bastos eram charcos ao sul de Canavieiras

Chovia muito aquela madrugada e mesmo assim Pinheiro ordenou que seus homens avançassem através das planícies que cercavam a margem do rio. Sob uma chuva de balas e artefatos eles atravessaram o longo espaço que os separavam das últimas fortificações carletistas e ao anoitecer já se encontravam protegidos.

Carleto Gaspar alcançara seus homens em recuo pela manhã, e, enfurecido com a retirada, decidira lançar um contra-ataque imediato para reconquistar Canavieiras

Obedecendo as indicações de Carleto, a infantaria avançou até uma pequena depressão que margeava os charcos e do horizonte mudo surgiu o grito absurdo que antecede o fragor das batalhas.

Amanhecia e um sussurro surdo ecoava do lado de fora dos muros. Os soldados que permaneciam deitados no hospital da campanha, impossibilitados pelos ferimentos de levantar-se, acompanhavam com tremor os estouros e estalos e quebrantos que escutavam a distância.

“Chove fogo, gritos e sangue” gritou um deles com o evangelho nas mãos "Nínive sucumbirá sob seus próprios males" repetiu profético o aleijado. No campo, sob os olhos fatigados de um comandante desacreditado, o exército desmantelado penava uma fuga incerta; às pressas, tudo quebrado, os oficiais corriam e fugiam rio acima com botes já preparados e no meio da carnificina os homens pensavam que aquilo tudo era pior do que quando era normal a vida.

Quando a derrota já se mostrava definitiva, Carleto recuou em segurança sob a guarda de Pinheiro e por uma trilha discreta atingiu seu quartel-general em Belmonte logo ao entardecer. A noite, mesmo cansado, não conseguiu dormir, contava de um a cem e dobrava o dedo mindinho; contava de cem a duzentos e dobrava o seu vizinho; assim por diante, até completar mil e ter as duas mãos fechadas. Lá de cima escutava os tiros distantes e as descargas de artilharia e então começava a contar novamente...


Fragmentos Carletistas III


"De todos os vadios que andavam roubando os portos,

aquele tinha os dentes apodrecidos

e as gengivas vazadas pelo bolor dos mares"


Carleto Gaspar em depoimento ao Padre Roma, Salvador 1813.



Fragmentos Carletistas II


(Na estação em que as folhas começam a cair, vinha descendo o São Francisco uma triste e jovem mulher a procura de seu amado que partira pra guerra.

Em cada outono, quando os pássaros começam a contar os peixes nos riachos, esta bela jovem despedaçada tranca-se num quarto escuro onde permanece até que toda névoa se dissipe; retida num fio fixado em um lugar que só ela conhece. Naufraga mais a cada ano e pela mais egoísta das razões.)




Fragmentos Carletistas I


|| Am7(9) || ||F7M/9 E7/9+|| ||Cm7(9) F7(13b) || Fm7(9) ||


Enquanto caminhavam através das florestas escuras de Monte Pascoal, Carleto lembrava-se do primeiro tiro que havia escutado naquela mesma floresta durante uma tempestade em que havia se perdido dez anos antes; Passados tantos anos, cruzava aquele mesmo caminho acuado pelo peso dos inúmeros soldados que haviam tombado em seu nome. Ávido pelo sangue dos seus inimigos que se escondiam nas matas densas ao norte do rio Corumbau.


Ouviu-se na montanha o ruído de um machado batendo em um Jequitibá, pois o ruído é distinto se o machado bate em um Jequitibá ou numa figueira. Foi, de fato, a primeira e única vez em sua vida que Carleto Gaspar sentiu medo. Fazia frio demais e isso não era comum na primavera baiana. Carleto avançou a frente de seus homens através de selvas intocadas e de caminhos desconhecidos, até uma imensa gruta que se mantinha totalmente escondida pelas árvores centenárias.


(Na imensidão escura da caverna distinguiu-se uma luz longínqua.)




sexta-feira, 17 de agosto de 2007

- Carta ao Vesúvio -



No salão escuro do tempo
onde dormem altares dos
deuses esquecidos
um jovem conquistador
vêm refrescar a sua taça

lá dentro estão os foles
os poetas e os cantores
as margens e correntes
as cidades e os quartos
lá fora as ilhas urgem

Nos troféus ao fundo
se vêem os mares e esquadras
um enorme atlas do mundo
com todas trilhas e estradas
os dias passados nas pinturas

o homem e o conquistador
estão no breu
pelas estradas do mundo
bebendo fundo nas taças
vivendo nas margens ao centro

os enormes deuses e mapas
respiram foles
nos quadros
no salão escuro do tempo.
Em toda estrada do mundo

os homens estão no breu
em todo quadro nos quartos
o breu está nos homens
o homem e o breu
na escura escuta do tempo

os homens e o breu





quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Por um projeto estético:

!

por Clemente de Alexandria 254 d.c.


Ei de fundar ao final dessa era o neo-paganismo lusitano; uma fusão entre o pessimismo alemão e a mitologia babilônica, com sutis influências do barroco espanhol; a mescla entre a seiva bucólica do romantismo eslavo à vivacidade cruel das estepes asiáticas; a melodia da dramaturgia macedônica entrelaçada ao realismo minóico. A necessidade de que se resgate o ímpeto dionisíaco, aquele jovialidade helênica, as danças magyares...


Um neo-paganismo como um processo anacrônico, agregando à cultura dórica elementos estéticos lacedemônios e floreios sagrados da lírica persa...


(O ideário só virá a tona, quando resgatarem os escritos etruscos perdidos no fundo do Adriático e os documentos fenícios de Tiro e Cartago perdidos na costa ocidental africana pela frota do Faraó Pepi II...)



(segue adiante)

O califa de Samarra

.

O sonho da Pérsia é o Mediterrâneo

O Cáspio não lhes basta



o Índico não deslumbra os olhares como o mar ocidental


(...e dorme a velha literatura das canções populares...)



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segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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Foi tarde que percebi



que vosso mundo ainda é longe


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Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841