terça-feira, 26 de maio de 2009

O Caranguejo

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O imperador Tsuang-Tsue chamou o maior pintor da capital em seu palácio e lhe pediu que desenhasse um caranguejo.

O pintor respondeu: "Preciso de cinco anos e de um palácio com 120 empregados"

O imperador lhe concedeu o que pedia, e passados cinco anos voltou a chamá-lo no palácio.

Quando questionado sobre o caranguejo, o pintor respondeu: "Preciso de mais cinco anos e de outro palácio com 120 empregados"

O imperador novamente lhe concedeu o que pedia, e, passados cinco anos chamou-o de volta ao palácio.

Quando perguntado sobre o caranguejo, o pintor pediu uma tela em branco e, em poucos minutos, desenhou o caranguejo.

Era o mais belo caranguejo que jamais havia sido pintado.
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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Homero Again

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Comoveu-se o esposo e disse, fazendo-lhe carinhos: ‘Anjo sem ventura, por mim não faças sofrer teu coração; ninguém me fará baixar ao Hades; homem nenhum, porém, foge à Moira, desde o dia em que nasce. Agora volta para casa, cuida de tuas coisas, da roça e do tear; vê que as fâmulas também às tarefas se apliquem. Aos homens troianos - e sobretudo a mim - incumbe-nos a guerra’.” Ilíada VI, 484-493
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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Rehab

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Me contou de uma pena que sofrera em Atenas, onde ficou limpo na marra: “quinze dias bati a cabeça na parede; o sangue escorria pelos meus olhos e narinas. Quando o carcereiro aparecia, cuspia na cara dele”. Vindas dele, essas histórias possuíam qualidade épicas
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quarta-feira, 13 de maio de 2009

O ventilador de teto na estação científica

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à frente noventa e nove baleias mortas e arrancadas do canal esticadas na escuridão como carroças negras da Escandinávia

Mamões, bananas, açúcar, abacate: As placas de gelo caem do céu como carne azeda. Ele pousa uma mão na testa, a outra suada prende o pau marrom-borracha

Naquele iglu geodésico, com seu ar úmido de hibernação(...)com a metereologia silenciosa e a masturbação alucinada na neve
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terça-feira, 12 de maio de 2009

Nice

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Numa jornada de carro aparentemente interminável pela Riviera Francesa, recusei-me a parar para que ... pudesse urinar. Enquanto ela se contorcia no assento, eu lhe disse: “Agache aí e faça o que tem que fazer”, não tendo escolha ela pegou um copo de plástico, o encheu e depois o jogou pela janela. Um forte vento fez voar o conteúdo do copo no assento traseiro, borrifando o rosto de Niko, que estava sentado com fones de ouvido “enrolando um daqueles cones gigantes de haxixe”. Estava tão chapado que nem pestanejou, apenas disse: "Ora, um pouquinho de chuva por aqui?’Tudo bem, chove o tempo todo naquela porra da Bélgica," (...)

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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pavitch e o estímulo ao Saque

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Apenas trabalho com uma espécie de dicionário de cores e é o espectador quem cria, a partir desse dicionário, frases e livros, ou seja, imagens. Tu também poderias proceder do mesmo modo escrevendo. Não se poderia oferecer ao leitor um dicionário cujas palavras constituiriam um livro, deixando-lhe a tarefa de compor um conjunto a partir dessas palavras:
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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Roma

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Beba a graça dos quartos esvaziados pelos tremores, os súbitos relances de empatia com os mortos, a imprecisão dos encontros no tempo
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e observe do chão, mesmo que estejas caído, a forte batida provocada por um descuido dos motoristas que pensavam se as quatro cadeiras estariam arrumadas disciplinadamente ou se aquela conversa sobre calções listrados e imóveis em andares altos levaria à uma digna aposentadoria
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não aceitando qualquer das sugestões acima, nem bares, nem moças arfantes, nem museus com fotografias de revolução, então seguir para um quarto de hotel barato, não tão barato, mas discreto
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um hotel que tenha no ar uma coisa de destino, uma melancolia de esquadros procurando o zero e um vidro que esconda o sol, a cidade, as casas e que emane o aroma que te faria contente ao meu lado
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claro e estreito é o espaço que divide as grades da chancelaria
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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Le Restaurant

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Com um violoncelo adentrou o salão. Portava um sabre do século XVIII, pistola no coldre e uma enorme maçaneta em prata. Com precaução, tirou o sabre da cintura e entregou ao maître. Há sete dias que ninguém entrava no salão, a não ser por engano. O maître lhe trouxe uma mesa de madeira escura, uma cadeira e lhe entregou um pequeno caderno laranja junto de um lápis; nele desenhou um cais e as tabernas em que tripulações de diferentes bandeiras quebravam garrafas na cabeça umas das outras
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domingo, 3 de maio de 2009

Tristes Trópicos

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Estranha a vida desses motoristas-virtuoses, sempre prontos para os mais delicados consertos, improvisando e apagando as pistas por onde passavam, expostos a ficar semanas no meio do mato, no lugar onde o caminhão quebrou, até que um caminhão concorrente passe para dar o alerta em Cuiabá, de onde se pedirá a São Paulo ou ao Rio que envie a peça quebrada. Enquanto isso, eles acampam, caçam, lavam roupa, dormem e esperam.
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(195-196)

Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841