quinta-feira, 31 de maio de 2007

- Platão e a Música -

.

"O Homem bom, o homem feliz - pois ser feliz é ser bom - é sempre o homem justo, o homem harmonioso, o homem que almeja a beleza e ambiciona criá-la, quer em descendência viva, quer em obras de arte, quer em nobres ações...

Beleza é a senha de imortalidade!
Criando uma obra de beleza,
vencemos a morte!"



------ // ------



- Não se deve confiar em um homem que não tenha música na alma, porque seu espírito é atrofiado, suas paixões desequilibradas e sua noção do certo e do errado, sempre errada. A música é o princípio fundamental que preserva o mundo de cair num caos de incoerência. É a alma do universo exatamente como os planetas e as estrelas são o seu corpo. Sem ela, a Terra seria carvão consumido e o céu, um punhado de Cinzas mortas -


quarta-feira, 9 de maio de 2007

- O Lamento das Gerações -

.


I

Naum 3 : 7


“Por ocasião da morte de Cambises

Farei eu com que os povos de lábios puros

D’além dos rios do Kush

Escutem a mensagem profética de Naum

Entre outubro e dezembro será já o tempo de se ouvir.”


Filhos da prostituição eterna

Esse é mais um lamento, cantado como lamento!


As cidades Tirânicas impuras roem cada nossa manhã

já a capital da fronteira norte morre em ruínas santas


Amontoados cegos esses reinos de pavor humano

no mercado negro como lixo dos subúrbios que não dormem e não encerram


Ó terra inteira de mundos distintos

Silêncio diante da face desses seus monstros de borbulhar

ali diante de nós as peças da cidade erguidas sobre o crime

e credores que passam e abusam

impunes de quem viola as assinaturas


A vós que abreis caminho pra dentro dos mares

nos dias de trompa e aurora:

A vós devemos ser arautos;


A vós sensatos e confortáveis que ficam em casa

aguardando méritos de outrem para comprá-los

Empilhai-vos e amontai-vos em seus mundinhos de lustres e paqueras

secai ao sol em suas piscinas de cloro e eucalipto


Lamento, cantado como lamento

em terras de Macau a Gibraltar

de Vladivostok a Patagônia

subindo desde o cabo até o Maghreb


II

As cidades entregues as matanças e manchetes

repletas de fraudes comboios vermes e vielas

A mesma seiva dos carros a galope

das vítimas sem conta com grande raiva nas pálpebras

o mundo repleto de imundície e infância

Múltiplas orgias de todas as prostitutas hábeis e sedutoras na organização das nações

Oráculos carregados nas lápides e encruzilhadas e cadeias novas na terra abandonada


São enxames esse tenentes soldados são enxames esses lados viciados são enxames

Sim estou para reduzir a fumaça em seus carros para fundir seus ídolos esculpidos

Esses versos são escudos bravos de tinto vermelho escarlate;

Faíscam e rangem por todos os ferros desalinhados da esteira automática que suga


Investido com uma fúria mecânica e elétrica

me arremesso sobre as praças e alamedas como incêndio

um antro onde se trocam jarras de vinho e cerveja morna

por amuletos profanos de signos e benção


Ruína total das cidades consagradas

Barcelona Londres Leipzig Istambul e Tel-Aviv

Seus êxitos como ganhos de meretrizes

Suas torrentes gordurosas de óleo e contrabando

Suas balanças fraudulentas seus pesos falsificados:


Desgraças desses ceifadores de mansardas

desses príncipes de gala a traduzir finanças


Trêmulos estão os homens que não tem um muro que os proteja

A terra em breve um deserto por culpa de seus desculpados habitantes

Ensurdecidos pelo ouro fácil das serpentes

Seduzidos pelo temor que lhe inspiram seus grandes patrimônios

O mundo se retorce em dor e grita como a mulher que dá à luz sem o parto

Já é uma cidade tão grande que são necessários três anos para atravessá-la


Esse é um lamento, cantado como lamento

Cantado como lama nas ruas descalças lama nas ruas calçadas

lama nas ruas sem nomes sem placas

Lamento de inocência e de assombro;


O ajuntamento indisciplinado de tudo que estava disperso

O corte na barba dos jovens profetas da tarde

O próprio sinal dos tesouros findados

dos sábios desaparecidos todos os sábios

dos bárbaros ancestrais nas casas das avós maternas

de tudo que era assim mesmo devorado nos lanches e muralhas


III

De noite no quarto vazio o noivo e seu par só de sandálias


Gerações longínquas de lamentações e prantos semelhantes

Vai, reclama agora dessa filha da bandoleira

Vai ver que ela ainda se arrepende desses trapos

Vai ver que ela coroa esses teus jejuns essas tuas renúncias

Vai ver que agora esses teus méritos escolásticos vão te servir de alguma coisa...


Vai ver que esse lamento, cantado como lamento,

Não é nem um lamento


Vai ver se se está cercado de alianças muito instáveis

quando queremos ser talvez as tais fábulas estelares

tais avatares de beleza incomum sem juramentos e promessas

Césares de sacrifícios estúpidos que nos louvam a vaidade mas


Que direi eu a meus avós quando encontrá-los?

Que como uvas no deserto, eu cá sozinho ressequei?

Que como a chave que cai pelo bolso da calça, eu me perdi?

Que o sono descia forte sobre mim e eu aquecido já não despertava?


Na terra, no final de tudo, porei fim a todas essas rapinas

Estarei de pé no baluarte

A calçar de terra essas nações em cólera

Os palcos palanques púlpitos tablados altares tribunas estrados,

A insolência das linguagens pérfidas que habitam os senados

Calada a voz de todos os enviados


É um lamento sério, cantado como lamento sério

É um lamento triste e delirante


O dilacerado momento de castigo como fogo ardente

A massa em lamentos avança e fermenta

jorra como luz dos porres destilados e dantescos

Homéricos transviados nos tubos de vacina e aço

pilotando holocaustos de cabelos brancos

desastres revirados como panelas ao fogo


IV

Já nos leitos de trigo e dinares e rublos e sestércios

numerosos os que fabricam dores e seus cuidados

os que vendem moedas pra te cobrar em espírito

aqueles filhos bastardos das chácaras de luxo europeu

vestidos de arrepio, de poeira e de resina


Nus nos rochedos expostos das luxuosas mansões

póstumas tubulações nos aterros e esgotos da Metrópole

ossos de lenha especiarias queimadas e toda a sorte de ferrugens agarradas ao braço

delira o mundo em violentas sensações pesadas


É um lamento, cantado como lamento que passa

um lamento de parábolas e versos de bronze incandescente

versos vigorosos a altura de palácios de cômodos compostos

nações de mercadores e idolatria

terras de sonetos canônicos e liras nas cerimônias


e tudo mais que existe é uma poeira assentada

uma nuvem de gente anônima rasgando o mundo


berços gavetas brinquedos e História espinha abaixo no meu corpo



ai ai


ai de ti, ai de mim, ai de nós

Tudo um só rio, uma só onda, um só arrastado horror

e a merda toda misturada à água e aos cereais...


Esse é um lamento cantado como lamento

Lamento abstrato de orgia e assassinato


Lamento do bispo rouco em adultério que aguarda o exílio no cais

Lamento dos vapores que são bandidos em Calcutá e Recife


O Lamento de assombro das gerações vindouras:


Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841