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"O Homem bom, o homem feliz - pois ser feliz é ser bom - é sempre o homem justo, o homem harmonioso, o homem que almeja a beleza e ambiciona criá-la, quer em descendência viva, quer em obras de arte, quer em nobres ações...
Beleza é a senha de imortalidade!
Criando uma obra de beleza,
vencemos a morte!"
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- Não se deve confiar em um homem que não tenha música na alma, porque seu espírito é atrofiado, suas paixões desequilibradas e sua noção do certo e do errado, sempre errada. A música é o princípio fundamental que preserva o mundo de cair num caos de incoerência. É a alma do universo exatamente como os planetas e as estrelas são o seu corpo. Sem ela, a Terra seria carvão consumido e o céu, um punhado de Cinzas mortas -
quinta-feira, 31 de maio de 2007
- Platão e a Música -
quarta-feira, 9 de maio de 2007
- O Lamento das Gerações -
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I
Naum 3 : 7
“Por ocasião da morte de Cambises
Farei eu com que os povos de lábios puros
D’além dos rios do Kush
Escutem a mensagem profética de Naum
Entre outubro e dezembro será já o tempo de se ouvir.”
Filhos da prostituição eterna
Esse é mais um lamento, cantado como lamento!
As cidades Tirânicas impuras roem cada nossa manhã
já a capital da fronteira norte morre em ruínas santas
Amontoados cegos esses reinos de pavor humano
no mercado negro como lixo dos subúrbios que não dormem e não encerram
Ó terra inteira de mundos distintos
Silêncio diante da face desses seus monstros de borbulhar
ali diante de nós as peças da cidade erguidas sobre o crime
e credores que passam e abusam
impunes de quem viola as assinaturas
A vós que abreis caminho pra dentro dos mares
nos dias de trompa e aurora:
A vós devemos ser arautos;
A vós sensatos e confortáveis que ficam em casa
aguardando méritos de outrem para comprá-los
Empilhai-vos e amontai-vos em seus mundinhos de lustres e paqueras
secai ao sol em suas piscinas de cloro e eucalipto
Lamento, cantado como lamento
em terras de Macau a Gibraltar
de Vladivostok a Patagônia
subindo desde o cabo até o Maghreb
II
As cidades entregues as matanças e manchetes
repletas de fraudes comboios vermes e vielas
A mesma seiva dos carros a galope
das vítimas sem conta com grande raiva nas pálpebras
o mundo repleto de imundície e infância
Múltiplas orgias de todas as prostitutas hábeis e sedutoras na organização das nações
Oráculos carregados nas lápides e encruzilhadas e cadeias novas na terra abandonada
São enxames esse tenentes soldados são enxames esses lados viciados são enxames
Sim estou para reduzir a fumaça em seus carros para fundir seus ídolos esculpidos
Esses versos são escudos bravos de tinto vermelho escarlate;
Faíscam e rangem por todos os ferros desalinhados da esteira automática que suga
Investido com uma fúria mecânica e elétrica
me arremesso sobre as praças e alamedas como incêndio
um antro onde se trocam jarras de vinho e cerveja morna
por amuletos profanos de signos e benção
Ruína total das cidades consagradas
Barcelona Londres Leipzig Istambul e Tel-Aviv
Seus êxitos como ganhos de meretrizes
Suas torrentes gordurosas de óleo e contrabando
Suas balanças fraudulentas seus pesos falsificados:
Desgraças desses ceifadores de mansardas
desses príncipes de gala a traduzir finanças
Trêmulos estão os homens que não tem um muro que os proteja
A terra em breve um deserto por culpa de seus desculpados habitantes
Ensurdecidos pelo ouro fácil das serpentes
Seduzidos pelo temor que lhe inspiram seus grandes patrimônios
O mundo se retorce em dor e grita como a mulher que dá à luz sem o parto
Já é uma cidade tão grande que são necessários três anos para atravessá-la
Esse é um lamento, cantado como lamento
Cantado como lama nas ruas descalças lama nas ruas calçadas
lama nas ruas sem nomes sem placas
Lamento de inocência e de assombro;
O corte na barba dos jovens profetas da tarde
O próprio sinal dos tesouros findados
dos sábios desaparecidos todos os sábios
dos bárbaros ancestrais nas casas das avós maternas
de tudo que era assim mesmo devorado nos lanches e muralhas
III
De noite no quarto vazio o noivo e seu par só de sandálias
Gerações longínquas de lamentações e prantos semelhantes
Vai, reclama agora dessa filha da bandoleira
Vai ver que ela ainda se arrepende desses trapos
Vai ver que ela coroa esses teus jejuns essas tuas renúncias
Vai ver que agora esses teus méritos escolásticos vão te servir de alguma coisa...
Vai ver que esse lamento, cantado como lamento,
Não é nem um lamento
Vai ver se se está cercado de alianças muito instáveis
quando queremos ser talvez as tais fábulas estelares
tais avatares de beleza incomum sem juramentos e promessas
Césares de sacrifícios estúpidos que nos louvam a vaidade mas
Que direi eu a meus avós quando encontrá-los?
Que como uvas no deserto, eu cá sozinho ressequei?
Que como a chave que cai pelo bolso da calça, eu me perdi?
Que o sono descia forte sobre mim e eu aquecido já não despertava?
Na terra, no final de tudo, porei fim a todas essas rapinas
Estarei de pé no baluarte
A calçar de terra essas nações em cólera
Os palcos palanques púlpitos tablados altares tribunas estrados,
A insolência das linguagens pérfidas que habitam os senados
Calada a voz de todos os enviados
É um lamento sério, cantado como lamento sério
É um lamento triste e delirante
O dilacerado momento de castigo como fogo ardente
A massa em lamentos avança e fermenta
jorra como luz dos porres destilados e dantescos
Homéricos transviados nos tubos de vacina e aço
pilotando holocaustos de cabelos brancos
desastres revirados como panelas ao fogo
IV
Já nos leitos de trigo e dinares e rublos e sestércios
numerosos os que fabricam dores e seus cuidados
os que vendem moedas pra te cobrar em espírito
aqueles filhos bastardos das chácaras de luxo europeu
vestidos de arrepio, de poeira e de resina
Nus nos rochedos expostos das luxuosas mansões
póstumas tubulações nos aterros e esgotos da Metrópole
ossos de lenha especiarias queimadas e toda a sorte de ferrugens agarradas ao braço
delira o mundo em violentas sensações pesadas
É um lamento, cantado como lamento que passa
um lamento de parábolas e versos de bronze incandescente
versos vigorosos a altura de palácios de cômodos compostos
nações de mercadores e idolatria
terras de sonetos canônicos e liras nas cerimônias
uma nuvem de gente anônima rasgando o mundo
berços gavetas brinquedos e História espinha abaixo no meu corpo
ai ai
ai de ti, ai de mim, ai de nós
Tudo um só rio, uma só onda, um só arrastado horror
e a merda toda misturada à água e aos cereais...
Esse é um lamento cantado como lamento
Lamento abstrato de orgia e assassinato
Lamento do bispo rouco em adultério que aguarda o exílio no cais
Lamento dos vapores que são bandidos em Calcutá e Recife
O Lamento de assombro das gerações vindouras:
quinta-feira, 26 de abril de 2007
- Soneto em sala de aula -
.
Conto em vão no tempo
que lento demora e insiste
a hora do agora que prende
e inútil apressado desiste
Agüento contanto que seja
do lado de dentro onde mora
a párticula que move os ponteiros
dos romances de guerra que adora
Contando, os minutos não passam
Esperando, quando mando que venham
A morte que enuncia fracassos
Salas velhas figuras de lenha
Ansiosos no sistema de laços
Na sala de aula um calabouço de letras
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quarta-feira, 18 de abril de 2007
- O recomeço -
Doze de Abril de Mil Duzentos e Quatro
O
0 fim da última grande coleção de literatura antiga em Bizâncio
O fim da última grande coleção de literatura Antiga
0 fim da última grande coleção de Literatura
O fim da última grande Coleção
0 fim da última Grande
O fim da Última
0 Fim
O
0 Gênesis
O gênesis da Primeira
0 gênesis da primeira Parca
O gênesis da primeira parca Dispersão
0 gênesis da primeira parca dispersão de Ignorância
O gênesis da primeira parca dispersão de ignorância Atual
0 gênesis da primeira insignificante dispersão de ignorância atual em Vegas
O
Doze de Abril de Dois Mil e Sete
terça-feira, 17 de abril de 2007
- A providência -
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É tarde no sábado da cidade-satélite
Estou levantando a minha herança
Estou levantando a velha casa
Estou levantando a ruína dos bisnetos
Estou levantando numa cor ocre romana
Estou levantando
Sentado detrás do seu balcão prateado
o repórter elétrico anuncia em voz alta:
“A reunião do Copom aprovou hoje
- com unanimidade -
um aumento de 0,25 na taxa Selic”
O careca reclama, o motorista não liga, eu observo
Sozinhos a passos de trote
toxicômanos passeando nas vielas
esculpidos seus negros seios nos pós de giz
agredidos pelo mármore nas faces brancas do nariz
Cultuando deuses-espelhos
notas
cartões de plástico
giletes
riscos
meiotas
Filetes
alva antítese cromática dos homens de vício
(Branco para os hindus só se usa em dia de luto, no réquiem remoto dos astros vencidos, no açúcar disperso das esferas tingidas, marchando sob divisões Panzer do nordeste polar)
O espírito que tomba da antena
Em Beirute
O menino de cabeça rachada na Laje
O corpo tombado na calçada quebrada
em Milwaukee
Ele Caído, um pouco abatido
Eu cá me levanto e ajudo
(Estou levantando)
- (...) ; (...) -
- Chega o domingo pronto na cidade-satélite -
- Chega um domingo pronto nascida de satélite -
pronto
- nacidadesatélite -
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segunda-feira, 16 de abril de 2007
- A foto perdida do Marechal -
-
- O historiador pernambucano José Inácio de Abreu e Lima no capítulo XII de seu livro, Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil de 1844, aponta o ataque a salvador como o estopim da crise no Exército Patriótico; tivesse respeitado o acordo e permanecido na defensiva por mais tempo, Marechal Carleto poderia ter, definitivamente, expulsado os portugueses do Brasil .
- A ruptura do acordo de paz fez com que os franceses retirassem seu apoio aos Patriotas e fortaleceu a aliança entre lusos e ingleses.
- Segundo Abreu e Lima, nas vésperas do natal de 1826 o Grande Exército Imperial Português, comandando por um obscuro Coronel Franklin e auxiliado por artilheiros ingleses, irrompeu nas margens do Paraguaçu.
O corpo principal das forças de Carleto se encontrava envolvido no ataque a Salvador e as tropas do Tenente Campos Bastos falharam em impedir a travessia inimiga sobre o rio.
O Marechal, em franca desvantagem, apressou-se em recuar tropas de Salvador e Itaparica até a cidade de Valença, já atacada na noite de reveillon pelos canhões e morteiros do exército Imperial. Diante da precariedade de suas posições, os Patrióticos demoliram todas as pontes da cidade e recuaram para a inacessível Ilha de Boipeba.
Abandonados pelas tropas, os habitantes de Valença foram trucidados pelas forças portuguesas: mulheres foram estupradas até a exaustão, crianças foram surradas e executadas, e os edifícios foram todos arruinados, ficaram de pé apenas a velha igreja amarelada de Nossa Senhora do Amparo, o cruzeiro na praça maior, as balsas de canoa, o reboco atravessado e os enxames.
- Carletistas ainda sustentaram a luta através de emboscadas e escaramuças nos mangues quw cercavam a ilha, mas no começo de abril os portugueses dominaram o canal de Tinharé e o todo o complexo labiríntico de rios e meandros que protegiam as Forças Patrióticas.
A ilha foi cercada, as tropas desertaram em massa e não restou alternativa ao Marechal: na manhã do domingo de páscoa, Carleto se entregava com seus oficiais às forças portuguesas e foi enviado num veleiro militar inglês para o forte do Morro de São Paulo e posteriormente para o Rio de Janeiro.
- Nas celas úmidas e escuras em que foi encarcerado, teve tempo suficiente para pensar e repensar toda sua vida centenas de vezes e após doze anos no cárcere passou a ditar suas memórias para mim que me encontrava preso por deserção na marinha.
Foram quatro anos em clausura vivendo sob o mesmo teto mofado.
Quando fui organizar suas memórias, já estava há alguns anos sem notícias do Marechal e morava novamente em Montpellier.
-
O que torna muito complicado esse relato é poder distinguir a verdade histórica dos fatos narrados por Carleto, das lendas que ele próprio criava em torno de sua pessoa, até porque o próprio não aceitava que duvidassem de uma palavra sua.
Tentarei, portanto, escrever da forma mais imparcial que o meu discernimento e pesquisa permitem:
Segue então a história de Carleto Gaspar Simões:
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domingo, 15 de abril de 2007
- O Exílio -
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Estou só de passagem essa noite
Ficarei fora por um tempo
Mas volto de novo pra você e a amo
a amo
Musa das cartas escritas nos trens sobre os joelhos
- Lindo Capullo de Aleli -
Para a que de branco trabalha
Eu, buscando o inalcançável
Te vi ali sozinha, dançando sorrindo do outro lado
Amo o encanto que tão perto enxerguei naquela noite
Desesperadamente me pus a correr para alcançá-la
Você, a rosa mais brilhante, numa hora em que todo o resto se apagou
O movimento de seus pés, a aura de luminosidade ao seu redor
Sorriso só visto nas imagens dos deuses
De tudo que já escutei, você é a canção mais bela
Todo amor que já tive, perto desse tudo é nada
Esse universo antes sem graça se acende sob seus passos
Mundo novo, era de luz, benção divina que me alegra
És tudo sob o sol, a palavra mágica que não sei enunciar
A paisagem mais bonita pela qual já atravessei
Minha vida, meu tesouro, meu canto, meu amor encontrado
Própria resposta as preces que ergo desde menino
Alma indescritível que se entrelaça ao meu corpo e brilha
que se confunde com a realidade do mundo tamanha a mágica
Se espalha, cresce, inunda e me toma por inteiro
Reflete o desejo mais profundo, mais sincero e mais febril
Beijo de novela, incomparável, como dos casais que via em minha infância
Da vida não espero mais nada pois a profecia se cumpriu
Canção de amor da minha vida
mais linda que todas de Tom e Vinícius
Linda centelha de amor que se expande até o infinito
Santo
Deus!!!
É todo o céu que se apresenta diante dos meus olhos
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- As quatro verdades do Buda -
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Me inclinei para girar a torneira,
enchi o balde,
recolhi o tapete,
coloquei o balde no chão,
tomei impulso
e com um chute certeiro,
derrubei o balde com toda água que tinha dentro...
Peguei minha mochila,
chave e carteira
e fui pra Bahia.
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- Insônia - A.C.
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"Estou escrevendo versos sinceros,
versos a dizer que não tenho nada a dizer,
versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda
E a vida toda fora deles e de mim!"
A.C.
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quinta-feira, 12 de abril de 2007
- Miscelânea -
-
" Aqueles que já dominaram a arte de ler, o fizeram apenas pela metade se a ela não acrescentaram as habilidades ainda mais sutis de pular trechos e folhear. "
A.B.
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quarta-feira, 11 de abril de 2007
12 de Abril de 1204
-
O fim da última grande coleção de literatura antiga em Bizâncio
O fim da última grande coleção de literatura Antiga
O fim da última grande coleção de Literatura
O fim da última grande Coleção
O fim da última Grande
O fim da Última
O Fim
O
terça-feira, 10 de abril de 2007
- Sobre o Carletismo Histórico -
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A saga Carletista tem que ir até o fim; desbravar pântanos e planícies, cercar cidades como um Ciro ou um Bonaparte, reproduzir a voz iluminista que ecoa sobre os hemisférios rubros: uma nação independente do Império do Brasil com uma Constituição própria e uma bandeira. Carleto deve ser a síntese do déspota carismático, o que some e desaparece renasce acende e ressurge e seu vulto é sempre um mistério evidente Bárbaro cretino e arrogante que decreta leis a beira de rios remotos renuncia ao comando em poças de lama na selva abandona tudo por uma cortesã do teatro espanhol e desiste do mundo em Ilhéus.
REPÚBLICA CARLETIANA (1823-1835)
As referências históricas ao período Carletista na Bahia são praticamente inexistentes. Quase todas as fontes que mencionavam esses eventos ocorridos na Bahia entre 1823 e 1835 foram sistematicamente destruídas ao longo do período regencial e do Reinado de Dom Pedro II.
Tenho conhecimento de apenas dois autores que citam o nome do General Carleto:
1.
“... General Carleto Gaspar Simões admitiu que teria de sitiar a cidade de Salvador. Ele reuniu canhões e batelões carregados de morteiros e, por seis semanas, a cidade foi bombardeada. O ataque foi tão intenso que a população fez recolher-se em cavernas sob as igrejas. Cercada e incomunicável, Salvador ficou sem alimentos e munição. Nos primeiros meses de 1823 as doenças matavam cada vez mais pessoas. Diante dessa situação, o Comandante Português permitiu a saída dos moradores e cerca de 10 mil pessoas deixaram a capital da província.
Os defensores imperiais mantiveram seus postos, mas Madeira de Mello via sua provisão de víveres reduzir-se cada vez mais, e seus homens começavam lentamente a esfaimar-se.
Em 3 de julho, sabendo que não tinha esperanças de socorro, o comando português pediu termos de rendição ao General...”
2.
O Folclorista mineiro João da Silva Campos, em sua Coleção de contos populares de 1876, curiosamente menciona uma marcante atuação de Carleto, ainda Tenente, numa refrega perto da cidade de Trancoso, quando protagonizara um curiosa intervenção num assalto aos acampamentos da resistência portuguesa:
"... e o homem sozinho e furioso de nome Carleto Gaspar caiu com estrondo sobre os homens e a soldadesca d'el-rei deu para trás com precipitação, ante os repetidos golpes do estranho soldado que, ao demais, parecia blindado contra as balas (...) Mais tarde explicaram os derrotados a causa de haverem cedido terreno àqueles...”
Sigo na Pesquisa.
A PAX CARLETISTA
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domingo, 8 de abril de 2007
- Canto Báltico IV -
IV
Tenho aqui
Um pote com Maná na Terra de Canaã
O ideal ortodoxo do Romantismo Alemão
Baianismo-Beat-Dionisíaco
Lírica persa em forma de paisagem
“ópios édens analgésicos”
A estética Plana oscilante do Orgasmo
Sob um tempestade de flechas gritadas das ameias
Invoco o Deus da Jericó Celeste:
A divindade surda ignora o chamado
Eu, colérico, impiedoso, cruel
Quase um Cesário Fracassado
Prometo o saque aos soldados,
Noite em que as provisões se esvaziam:
O fosso é largo
Os carros de boi exaustos
A linha de suprimentos enfraquecida
Os recrutas bebem tudo que acaba
Já não há para comer
O oficial não disfarça;
Reúne os homens e anuncia:
“Glória eterna ao primeiro que galgar as fortificações”
E os homens se enganam natos
Em meio aos destroços de setas e varetas
Em escadas quebradas nos tombadilhos trilhos e arautos
Galgando sobre o filho caçula da concubina assíria
Pedra sob os muros brancos e tostados da Tebas condenada
Erguida sob a pilha de homens desnudos sob telhas e carvão
O cadáver do menino como escada apodrecida para a Polis
Das sete portas cerradas sobram três
A Pedra de Palermo
O Papiro de Turim
A Pedra de Rosetta
O Canto Báltico das aldeias maias
Canto Cerrado das Agulhas Negras.
Canto amarrado entre a rede e a parede.
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sábado, 7 de abril de 2007
- Canto Báltico III -
III
.I.
No mictório de ladrilho azul-piscina
Um vômito de sensações intrusas
Jorrando um mar de caravelas lusas
No toilette imundo uma suína
Entranhas da humanidade encarregada
Ser cansado, meu ventre uma baderna
Sobre mim uma clarividência na golfada
ó senhor olímpico do mármore e do Cobre,
Cerdas vivas podres nos cascalhos
Chama de semente turva de alga nobre
Veredas e eclusas para os oceanos vastos
Escrotos lodos nos esgotos rodos pelos pastos
.II.
Caipora urbano das colunas de aço e montes de brita
Boitatá das vielas penumbras dos Bastos Bosques
O mar vermelho que se encerra, que se ergue aos toques
Carregamento de consolos apreendido na Serra das Antilhas
Animais extintos na Tasmânia desolada
Obcecada com guerras e epopéias
O jogador que sempre quer um pouco mais!
Viciado de veia em civilizações peninsulares
Colecionador de Rios e arbustos pragmáticos
Seduzido pela raça cósmica que esculpi divindades nas encostas
De um Tibet em Ramos ou Irajá
Espaço tenebroso sob a cama esses tais mitos
Antigos matos escuros, laços dardos lençóis
Estradas turvas nevadas, igrejas ventos sem voz
Nunca o palácio de pedra bandido
O centro de sua nação em outra nação
quero lhe falar de assaltos
Já não tenho Deuses para me salvar
Ao homem pós-moderno só lhe resta o ópio
Festas da alta sociedade na Manhattan dos anos 40
O amor desgraçado na melancolia medieval italiana
A filha virgem do sultão da babilônia que jura por Alah
As matemáticas
Pólvoras
Astronomia etrusca
Cantando Édipo e Enigmas já devorados
Cantando a amaldiçoada lei da vingança privada.
O excesso nas drogas
o suicídio
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terça-feira, 3 de abril de 2007
- Canto Báltico II -
II
O Herói Trágico escreve uma ode à sua amada
Bebendo água de poça e comendo papa de papel timbrado
Escreve versos com cera de vela derretida e pastosa.
Em trinta e nove meses na sombra da greta infuso
terminado o primeiro volume o mais selvagem
Em doze completo o segundo e derradeiro
Em mil a prosa de retorno ao estaleiro a estiagem
A autor morto recria a tradição e a obra
Glória das que se perderam e que nunca se acharão
O escritor recria os tratados que hoje são apenas títulos
Poetas altos do silêncio que pronunciaram senão duas frases
Angústia da Influenza
Algo sobre um Robinson Crusoé
Trancado num apartamento sem janelas
A beira do mar, mas sem o céu
Morto pela maré no cativeiro russo da Sibéria
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segunda-feira, 2 de abril de 2007
- Canto Báltico I -
I
No Garimpo além
Minha mãe é a Rússia inteira e mais a Ásia
Não há palavra a orar
Só o que me alcança é ver e prezar
O estrangeiro se recolhe no banheiro da pensão discreta
De rochas em pontas e pias papéis alface
Vinte metros até a próxima emboscada
O rastafari guarda
cantando segredos a pantera intrusa
Dois charutos magnos
Todos cantando Nice Time
O rastafari refrigera os peitos
Acende
Um fósforo
Uma fresta
A Fera foge ferida a ferro
E Segue cantando o fogo
Brigas de faca
Tocaia na curva oportuna
Cantando putas ensebadas
bebedeiras festas sujas
Dançando manhãs folgadas
Fortuna finadas faustos deslizes
Sulcos profundos insinuados nas dragas
Campeonatos de baralho nas paredes descascadas
Cantando Estátuas embaixadas, bares vícios pragas
Bastardos do esplendor das minas velhas
Arruinados nas florestas secas e etéreas
Mortos no Cativeiro sinfônico
Apodrecidos já nascidos
Crescidos fundo nos abismos
Mais velhos que os santos homens santos da Mongólia
Cantando decerto um Chico Buarque de Holanda das Estepes
Com Latas de Skol meio vazias meio cheias por toda Banda Oeste
Vai minha canção, vai por sobre as Serras do país!
Vai Sacro Império fantástico das tribos do semi-árido...
Narrativa de fogo e tempestade nas Bahias do agreste
Matita Perê imortal o Aleph Rosa da Cunha Sertão
Patroa descansando acesas velas cendidas no capoeirão
Velas pagadas em Pinhos de Riga manguezais e touros
"A crítica literária apenas mais uma triste ciência social"
H.B.
sexta-feira, 30 de março de 2007
- Ctrl C / Crtl V -
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Século oitavo Xenofonte me conta contos de Bocaccio:
Ruelas tortuosas da Europa medieval
Umas 15 mil embarcações nos portos do rio amarelo
Uma dependente de heroína vive um drama de amor nas Malvinas,
Porcelanas Ming estraçalhadas no mapa
Ferrovias no Punjab com tijolos de Harapa
Mercadores de Veneza no Mar Cáspio
Suposto local de sepultamento dos reis magos na Pérsia,
Casamento de crianças mortas.
Queimadas efígies de escravos,
Dinheiro e objetos domésticos
Vastos salões e halls deixados.
Embora soubesse das intenções dos mongóis de invadir o Japão,
ditado a um certo Rustichello, em uma prisão de Gênova, em 1298.
Despojados de suas ambições e de suas vidas.
A léguas e léguas de pestilência, desolação e morte.
A península itálica
já não cabia mais entre os limites das muralhas e o vale
Perigosas viagens que duravam anos,
Enfrentando estepes e terras inexatas
Os covis das feras, sepulcros de passaros tártaros
Vidros, cristais, uvas, Romas, camelos, Pavões.
No extremo mais ocidental da Grande Muralha.
As fachachas de magma dos vastos desertos de Gobi e a cordilheira
Desde o final da dinastia Tang até início da dinastia de Cinco Períodos
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terça-feira, 27 de março de 2007
- SÃO -
São
Calais
Cavaleiros teutônicos
Hanseáticos
Bálticos
Náuticos
São
Toulouse
Moribundos Pneumônicos
Asiáticos
Estáticos
Trágicos
São
Perpignan
Gueixas queixas deixas que estejas
Em paz
Vejas cerejas bandejas na mesa
De Champollion
Lion
Corteja o imperfeito
Acalma a berraria
Tudo é raro um tanto um jeito
Na Crônica vazia
Dialetos de Bordas Recheadas
Amuletos embrulhados em pano de seda
Qualquer verso que não seja mera repetição de um outro poema
sábado, 24 de março de 2007
- Para Nelson Pereira dos Santos -
Minha infância, Fortaleza
Meu alimento, minha presa
À distância, sem firmeza
Gentileza não esqueça por hoje a limpeza
porque a esperteza convexa preza por mais tristeza
Sisudeza esqueça a natureza a pobreza
que com certeza sua beleza e nobreza
é alteza
Para pegar uma japonesa baronesa da empresa da mesa inglesa burguesa
Princesa Dinamarquesa
Observo...
Deplorável Inafiançável Inflável
Bonecos Marvel
Descarto o parto no quarto do lagarto
e aparto o enfarto
Essa Algazarra essa marra
que farra bizarra alcaparra
que fanfarra
Gambiarra esbarra e escarra
Desgarra da jarra e narra com garra
a barra da cigarra
Esparta descarta a lagarta na quarta.
Farta carta guarda a bombarda vanguarda de Marta
Reza pra ter preza
Reveza com justeza
Enfeza embeleza a brabeza
distância não põe mesa
Que venha a Correnteza!
By Ero & Gand 03/2007
terça-feira, 6 de março de 2007
- I -
( SOB EFEITO DE BEBIDAS FERMENTADAS)
A estrada acaba aqui
Daqui pra frente só areia e pedra
Encurralados na santidade de um homem que foi à Meca
O deserto desaparece
Atraca a Mercedes Benz em um antigo castelo
Arquipélago de crises essa década
Desertos, Tomahawks, aviões evacuados
Adeus Icebergs, Adeus Grandes Geleiras
Adeus Terras brancas do Kilimanjaro
Adeus Grande Barreira de Corais
Adeus baixios do Rio Paraguai
O Uirapuru cala,
Villa Lobos faz aniversário
O Tiê Sangue cadê?
Papagaios que nossos avós avistaram...
Se Deus autoriza, eu afundo tudo que é baixo
Federação de Cidades-estado
Caminho pelo leito seco do oceano
Em plano declive
Alcanço a pé as Cagarras
Fumo um Cohiba no mirante das Fossas Abissais
Quero uma cruz de pedra na praia lá no fundo
Quero uma Colônia de Férias
Rio de Janeiro 2007 Férias Findadas
Pastelarias chinesas da Voluntárias da Pátria
Morenas de saia curta na Conde de Bonfim
Lançamentos piratas na Avenida Copacabana
Trânsito na Jardim Botânico passando o Parque Lage
Burburinho noturno nos bares da Farani
Blitz na entrada de São Cristóvão, perto da estação
Baderna Tiros Correria Flamengo Campeão
Não posso viajar por hoje, estou sem Money
Avenida Brasil, Espinha Dorsal da Urbe
Pescadores de Domingo na Perimetral
Ciência ancestral dos tumultos
Turba
Acordos informais na FioCruz Manguinhos
O Russinho,cara de pau na Central, acende um baseado no vagão
O Paisana com a esposa na prainha, finge que não vê nada
Arre rodízios de pizza, japonês, churrasco, crepes, Self service
Manga cacau açaí morango Laranja Umbu
Arre motéis casas de samba Itaipava Itacoatiaras
Saio pra cortar o cabelo
Peço pra só aparar, saio revoltado, sorrindo
Finjo que gostei
Paro pra comer na Lapa Rua Gomes Freire
Carne assada com arroz no Carioquinha
Seu Antônio faz questão que eu não pague...
De forma alguma, Seu Antônio...
Panelas descansam no restaurante de expediente encerrado
O cozinheiro de calça jeans sem uniforme fuma
O telefone mudo, já não desperta a jovenzinha exausta
Os bêbados dormem roncos na vidraça
O som das ruas cariocas
O blábláblá das britadeiras
Os guardadores de carro por toda parte
Os Cretinos Os desalmados
Serrando mármore às oito horas da manhã
Redução de marcha no Circular
Quitanda, circo e Colômbia nos Sinais de Trânsito
O carro entra sem ligar a seta
O Outro vai na esquerda a trinta por hora
O guarda olha rezando para que estejam errados
Um córrego cinzento brota do asfalto
Fontes termais num romance Tcheco
Organizadas nas arquibancadas dos estádios
Facções no circo em Constantinopla
Todo torcedor um Visigodo
Medellín-Rio 1993
De tanto espirrar e coçar os olhos
Adormeço no Bus
Grande apresentação de uma companhia teatral espanhola no Scala
Concreto aço e vidro: o Edifício Central Softwares e Gigas piratas
Brutalidade e solidão no apartamento dois quartos na Glória
O interfone não funciona faz dois meses...
Companhias de abastecimento, provedores de internet,
Concessionárias de pedágio, operadoras de celular...
Fios roubados, números clonados
Contas devassadas, golpes, canos estourados
Infiltrações no vizinho de cima
Reunião de Condomínio, advertências,
Porteiros, garçons de má vontade...
De um esplêndido apartamento na Barra da Tijuca
Ele contabiliza seus lucros
Ações da Vale Submarino
Aracruz e Embraer
Promovido na empresa, o salário é sete mil e trezentos reais
mais plano de saúde
A parcela do carro é mil e seiscentos
A conta do celular dá uns trezentos e cinqüenta
O seguro é três e quatrocentos à vista
O aluguel vale dois e duzentos
Comprou um aparelho de DVD portátil
Um Notebook dividido em dez vezes
E um celular com câmera e filmadora
Já tinha uma máquina humilde 6.2 megapixels
Dois cards de 512 Mega
Ainda não tem um I-pod
Assim que comprar um,
Vai voltar a correr e malhar
O Banco, diante da promoção do rapaz
E de sua renda superior a dez salários mínimos,
Aumentou seu cheque especial para dois mil reais
Os juros são os melhores do mercado
Você contabiliza Lucros
As declarações do Presidente do Federal Reserve
Apavoram os investidores
Crise no mercado imobiliário norte-americano,
Excesso de liquidez, correções, reajustes...
Ele realiza
Resgata seus investimentos
É hora de levar a vida a sério
Sem riscos demasiados sem aventuras
Aplicações integrais em Fundo de Renda Fixa
Converso com os amigos
Temos projetos, futuro e talento
Temos munição suprimentos
Olhos negros e claros
Temos juventude
Feito pureza de criança que dorme...
- II -
Aqui essa noite de março em Juiz de Fora
Imprimo hieróglifos no papel timbrado...
Cabe aos descendentes ler o que lhes foi guardado
Um cão,
A arma,
Um lugar seguro pra passar a noite
Sozinho em alguma mata fechada das serras
Só.
Escrevo uma extensa carta para um filho desaparecido
Deixo notícias pros que não sabem o meu nome
Idéias vêm e desaparecem com o espetáculo de vaga-lumes
Milícias de Nassau tomam a vila Lusitana
Cavernas ocultas do Jalapão
Barrancos de argila no Tapajós
Enseadas perdidas na Rio-Santos
Ausência dos mapas
Rios sem nome
Tomados pela febres
Sem poder roubar galinhas
Sem ter mais utilidade
Capturados.
Meu exército de Búfalos montados
Búfalos de duas toneladas
A Bufálaria do baixo Amazonas
E cada um dos caboclos grita a terra de seus ancestrais
Sou do Juruá
Sou doTrombetas
Sou do Xingu
Sou do Rio Negro
Sou do Araguaia
Eu sou aqui de Marajó...
Se faço a guerra, o faço por natureza
e não por lei ou ideal
Correria atrás de índios na floresta
Repúblicas de Negros livres nos sertões do Maranhão
Pergaminhos da lei queimados no meu escritório em Lençóis
A geografia triangular de Salvador
Constantinopla dos trópicos
Tudo cercado com Muralhas de rocha!!!
Foi tarde que eu percebi
Que o vosso mundo ainda é longe
Desterrados os que não sabem de Xangô Iemanjá
Os marinheiros que próximos de ti passaram ao largo
Oxossi, Iansã, Obá
Almoçar
Um prato servido a quatro reais com refresco;
Lanchar em Caxambu no Parque das águas é de graça...
Domingo não se paga entrada;
Cerveja gelada no bar à noite em Jericoaquara
Beira do mar, o crooner toca Oceano.
Grande Bordel que é a vida
Encontrando suas amantes em pensões imundas de Recife
Onde moscas Gordas e verdes picam todos os hóspedes
Onde os Galos e coelhos da Dona Branca cagam todo o corredor
Onde a gritaria é cerimônia
Seu Carneirinho está de fora
Freta barcos em Porto de Galinhas
Anunciando a tempestade o vento que vem de Sudoeste
Ele vai pra casa mais cedo esse dia
Tenho um segredo guardado nas mãos
Glória em Copacabana em 2007 é ganhar no Amazônia King
Pego meu taco de sinuca e ponho a ficha na mesa
Meu jogo é esse! Só dou porradão!
Se ganho, é na fé e na cagada
Esse é meu segredo
E sempre ganho...
Volto pra casa num executivo da São Geraldo
“Bem-vindos ao Rio de janeiro. Rodoviária Novo Rio.”
Mal estar na Zona Portuária
Do Olimpo ao Hades, Via Governador Valadares
Franca decadência das Terras do Paraíba
Ipê Amarelo, Jacarandá
Tabebuia Pau-Mulato
Embaúba...
C7M Am7/11 Dm7 G7M/9 Am7/9
Como um espírito de revolta
Que retorna ao seu velho castelo demolido
De mãos lavadas
Chego ao Aeroporto Antônio Carlos Jobim
A linha Vermelha não me dá Boas Vindas
“Jogue suas botas ao chão forasteiro.
Delicie-se no vinho do inferno!!!”
Diz o Policial na revista
Fumo um hollywood Verde e fico calado
A espera...
Na mala do taxi
O chapéu esquecido
O casaco roubado
O livro emprestado
Uma canção Eslava da Abissínia...
A espera, acendo outro cigarro
Sigo esperando...
Parado ...
E não há o que fazer senão fumar mais um...
sábado, 3 de março de 2007
- CANÇÃO ESLAVA -
Isso sim é uma canção eslava
Compilação de antigas cantigas
Trancado num mausoléu
Cercado de crânios
Em Bukhara não me protege a bandeira jesuíta
Os relógios caseiros são como nos bálcãs
Inexistem
Divas no fundo do vale do mundo
Avós tristes
Derradeiras Cordilheiras
A paz da mulher grávida está de luto
Jamais me levem aos penhascos
Ainda sonho estar na fronteira
Marcado pelos traços do cárcere
Quero saber o crime que os levou aquele lugar
Um senhor de idade avançada alerta
É vedado aos presos cerrar os olhos
Bem desagradáveis certas paisagens
Em minha face gravados serros vulcões
Arauto das Civilizações Equatoriais
Escondido em ânforas pelos quartos
Fogos de artifício dos feriados babilônicos
Lido nas salas de Códices pré-colombianos
Manuscritos de papoulas
Fósforos do Hotel Varadero
A guerra me chamou
Balas de revólver
Cavidades dos órgãos melancólicos
Mensageiros que não dizem a verdade
A manhã toda olhamos ao redor da Fortaleza
Sem reforços, quem virá nos salvar?
Um deus Negro ou um Deus Bárbaro?
Tesouro árido dos séculos
Palavras, credos, farmácias
O brando deleite dos órgãos sexuais
Vagões reservados, embriaguez e olvido.
O artista durante a tarde esboçava
Um ex-capitão da marinha mercante
Com as duas mãos rudes cruzadas sobre o colo
Amante dos mares azulados e das longas travessias
Pensava ser um delírio mercenário
Uma delicada euforia dos meus vinte e dois anos
Whitman tece conselhos
Transformado em qualquer presença ou verdade humana
Vou para a fronteira cruzando os charcos e alagadiços do Mato Grosso do Sul
Como explicar meus dentes brancos num pântano de desdentados?
Viúvas insones me observam desconfiadas
A terra não é árida mas o sono o é
Centelhas de brilho mais ao norte em Manaus
Estou de passagem pela noite
Provérbios da língua portuguesa
Riqueza maior que as Avenidas de Manhattan
Na Infantaria aprendi a hierarquia, as listras, medalhas
Indicações...
Nos morros de nossa cidade
As grandes leis são cumpridas e acatadas sem discussão
Não creio que dure...
Mato a aula de literatura e mergulho no mar para estudar
Eterno equilíbrio inacessível da vida acadêmica
Paradoxos da curiosidade, antítese dos planos
Mística é a vida e a Guerra
Estoques, depósitos, transporte
Poetas, dicionários, enciclopédias, guias, ensaios
Necessito de suprimentos para meus poemas
Dependendo a distância que estou, não me alcançam
Acampo junto à fogueira no Parque Nacional
É dezembro na Bahia, Monte Pascoal, Caraíva
Um grande campo de batalhas onde logo entraremos em ação
Na terceira noite avançamos nossas tropas sobre o Forró
Era um belo início de verão
Lá pelas tantas entregaram as armas e renderam-se
Com a Bahia e portas secretas
Tenho uma curiosa sensação de identidade
Com o barco de pesca, o quarto do beliche
O Livro na estante, o anel nos dedos
Brisa soprando e ela dormindo de dia
Chopin Wagner Albinoni
Badalar de sinos barrocos
Baden Chico Jacob
Súbita iluminação de afeto
Tudo que eu jogo no cesto
Se cair certo ela me ama
Tapeçarias do palácio de inverno
A dança ao redor do fogo
A música infinita de Antônio Brasileiro
Versos de estudante que precisam ser guardados para a velhice
O jovem latino pensando em Constantinopla
Divina experiência de ser vivo
Na metade do caminho, os vinte anos já passaram
Apenas a vida do homem sabe o que é sexta feira
Rezar, rezar, rezar
A prática tem que se repetir
A guia de iemanjá
O terço italiano
As pequenas estátuas do Buda
Os cristais quebrados da Chapada
Só a fé salva nesse mundo
Ergo meus olhos sobre o céu escurecido
E é o amor e a paz que desejo
Madrugada, silêncio nas águas
Se o navios de papel e os barcos não voltarem
Eu apago as velas
O assombro corre meu corpo como orgasmo
Agora no Rio Paris Roma ou Salvador
Tremulam bandeiras nas pocilgas, escolas igrejas e mansões
Tudo se dissipa engolido pelo escuro da guerra
E até o cheiro de limão que não se larga dessa terra
Escorre em valas cheias de mato e lamaçais
Guerras de desencontradas paixões
O inferno que se repete e é apenas o ensaio
As mães choram sozinhas
Varandas sem vista, cadeiras quebradas
História desgraçada essa da imundície humana
É tal o horror que desses nossos hemisférios emana
Que aqueles lumes vivos ainda reluzindo
Ficam vagos, fugitivos
A selvageria dos cruzados
Fez da fortuna de Clio uma tristeza
Mercadores Venezianos que Borges descrevia
Rebanho de olhos turvos, crueza
Esquecida sua antiga imagem, ó menino Jesus
E aqueles lobos vorazes
Prontos a incendiar qualquer pastagem
“Socorro Roma, Grande Capital!!!”
“Quanta riqueza aqui vos espera”
Mas é gente humana que já se desvia
Ardendo todos na mais profunda esfera
Nos últimos círculos das torturas Dantescas.
Gloriosa alma que se fala
Perdida quinhentos anos antes de Platão viver
De onde tirou essa alma Homero?
Pra onde foi Virgílio,
Obra inacabada, sempre renascida
As luzes triunfantes de uma Roma Imperial.
Néctar dos deuses, Hidromel...
Trocados pelo sem gosto da hóstia
Nascido nos Mosteiros do Monte Athos
Aprendido nas liturgias da igreja ortodoxa
Conhecedor de Tucídides e Heródoto
Como aquele que chega na festa
E não conhece a ninguém
Escrever sempre com sono
Nutrir esperanças de ser grande antes de se deitar
Oscilar entre a religião e a psicanálise
Pra quem vivia de música aquilo era desvario
Paisagens imensas botes pequenos
Perdidos como náufragos em algum lugar sem terra a vista
Milton Nascimento, ao lado me sussura:
“Se engrandece pela fé que os vôos da arte são mais baixos”
Êêê tempo apressado quando se está contente
Sobre as muralhas de Cartagena eu te lia um poema do amigo Pedro
Entusiasmado você me perguntava:
“Você também é do Leme?”
Reservado, eu explicava que tinha nascido Lido,mas meu espírito era Leme e tal
E ele fingia não ligar pra esses detalhes
“É, Lido é leme praticamente”
E propunha uma cerveja no ambulante torcedor do Colo Colo
Na estrada de Alfenas uma casa abandonada
A estrada inacessível, remota
Perdida como todas as estrelas...
Mas aquela imagem dizia alguma coisa
Sim...
Passado de gente morta
Carregaste aquela casa de recordação
De alma de gente que não tem pra onde ir
Voz suave que ecoa das ruínas
Aliviai teu pranto, tristeza das flores arrancadas
Cansaço de quem dorme sobressaltado
A vida sem festas é um longo caminho sem hospedaria
Me sinto um cano perdido nas entranhas de um grande edifício
Após Camões não se pode ser nada
Tímidas missões dos navegadores antigos
Feitos menores de povos do passado
Abençoadas cidades da lusitânia
Vocês, nessa faixa estreita de terra
Ofuscando os orientes
Defino com o fim de embelezar
À sombra de uma figueira
Na inútil tentativa de acender um cigarro
Qual seria a história de Melquíades?
E os detalhes das guerras do Coronel Aureliano?
São muitas lacunas...
Na vida...
Esquecida a lâmpada apagada..
Nem de longe essa mágoa se desfaz
Sozinho, um homem não pode ficar
Lá embaixo na rua, passa o 592
Carroça mágica que enche de ansiedade
Os dias de quem mora no Leme
Bosques de bambus das manhãs seguintes
Um graveto estala atrás dos homens
“É UM TIGRE!!”
Farejava carne humana
E o menino,
coitado,
desde pequeno gaguejava...
Entardecia.
Triste, agarrei o azul daquela enseada e fiz um verso
Mesmo flutuando sobre um barco negro, saqueado por piratas
Nas cataratas do Nilo antes de Assuã
Nas corredeiras do Mekong antes de 68
E nós, tendo que buscar caminho pelas margens,
Represar, diques, atalhos
É preciso ir da foz às cabeceiras
Estrangeiro, ele aguarda na estação
Peregrino, sentado embaixo do letreiro
Viajante, o cabelo desalinhado e seboso
Ignorante, não sabe o país que está
Selvagem, nunca viu os mapas
Mendigo, pro reino dos bons ele se apresta
Largado, ele espera...
E não há espera maior
que a da fé.
Marechal Carleto Gaspar 1841
