quinta-feira, 31 de maio de 2007

- Platão e a Música -

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"O Homem bom, o homem feliz - pois ser feliz é ser bom - é sempre o homem justo, o homem harmonioso, o homem que almeja a beleza e ambiciona criá-la, quer em descendência viva, quer em obras de arte, quer em nobres ações...

Beleza é a senha de imortalidade!
Criando uma obra de beleza,
vencemos a morte!"



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- Não se deve confiar em um homem que não tenha música na alma, porque seu espírito é atrofiado, suas paixões desequilibradas e sua noção do certo e do errado, sempre errada. A música é o princípio fundamental que preserva o mundo de cair num caos de incoerência. É a alma do universo exatamente como os planetas e as estrelas são o seu corpo. Sem ela, a Terra seria carvão consumido e o céu, um punhado de Cinzas mortas -


quarta-feira, 9 de maio de 2007

- O Lamento das Gerações -

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I

Naum 3 : 7


“Por ocasião da morte de Cambises

Farei eu com que os povos de lábios puros

D’além dos rios do Kush

Escutem a mensagem profética de Naum

Entre outubro e dezembro será já o tempo de se ouvir.”


Filhos da prostituição eterna

Esse é mais um lamento, cantado como lamento!


As cidades Tirânicas impuras roem cada nossa manhã

já a capital da fronteira norte morre em ruínas santas


Amontoados cegos esses reinos de pavor humano

no mercado negro como lixo dos subúrbios que não dormem e não encerram


Ó terra inteira de mundos distintos

Silêncio diante da face desses seus monstros de borbulhar

ali diante de nós as peças da cidade erguidas sobre o crime

e credores que passam e abusam

impunes de quem viola as assinaturas


A vós que abreis caminho pra dentro dos mares

nos dias de trompa e aurora:

A vós devemos ser arautos;


A vós sensatos e confortáveis que ficam em casa

aguardando méritos de outrem para comprá-los

Empilhai-vos e amontai-vos em seus mundinhos de lustres e paqueras

secai ao sol em suas piscinas de cloro e eucalipto


Lamento, cantado como lamento

em terras de Macau a Gibraltar

de Vladivostok a Patagônia

subindo desde o cabo até o Maghreb


II

As cidades entregues as matanças e manchetes

repletas de fraudes comboios vermes e vielas

A mesma seiva dos carros a galope

das vítimas sem conta com grande raiva nas pálpebras

o mundo repleto de imundície e infância

Múltiplas orgias de todas as prostitutas hábeis e sedutoras na organização das nações

Oráculos carregados nas lápides e encruzilhadas e cadeias novas na terra abandonada


São enxames esse tenentes soldados são enxames esses lados viciados são enxames

Sim estou para reduzir a fumaça em seus carros para fundir seus ídolos esculpidos

Esses versos são escudos bravos de tinto vermelho escarlate;

Faíscam e rangem por todos os ferros desalinhados da esteira automática que suga


Investido com uma fúria mecânica e elétrica

me arremesso sobre as praças e alamedas como incêndio

um antro onde se trocam jarras de vinho e cerveja morna

por amuletos profanos de signos e benção


Ruína total das cidades consagradas

Barcelona Londres Leipzig Istambul e Tel-Aviv

Seus êxitos como ganhos de meretrizes

Suas torrentes gordurosas de óleo e contrabando

Suas balanças fraudulentas seus pesos falsificados:


Desgraças desses ceifadores de mansardas

desses príncipes de gala a traduzir finanças


Trêmulos estão os homens que não tem um muro que os proteja

A terra em breve um deserto por culpa de seus desculpados habitantes

Ensurdecidos pelo ouro fácil das serpentes

Seduzidos pelo temor que lhe inspiram seus grandes patrimônios

O mundo se retorce em dor e grita como a mulher que dá à luz sem o parto

Já é uma cidade tão grande que são necessários três anos para atravessá-la


Esse é um lamento, cantado como lamento

Cantado como lama nas ruas descalças lama nas ruas calçadas

lama nas ruas sem nomes sem placas

Lamento de inocência e de assombro;


O ajuntamento indisciplinado de tudo que estava disperso

O corte na barba dos jovens profetas da tarde

O próprio sinal dos tesouros findados

dos sábios desaparecidos todos os sábios

dos bárbaros ancestrais nas casas das avós maternas

de tudo que era assim mesmo devorado nos lanches e muralhas


III

De noite no quarto vazio o noivo e seu par só de sandálias


Gerações longínquas de lamentações e prantos semelhantes

Vai, reclama agora dessa filha da bandoleira

Vai ver que ela ainda se arrepende desses trapos

Vai ver que ela coroa esses teus jejuns essas tuas renúncias

Vai ver que agora esses teus méritos escolásticos vão te servir de alguma coisa...


Vai ver que esse lamento, cantado como lamento,

Não é nem um lamento


Vai ver se se está cercado de alianças muito instáveis

quando queremos ser talvez as tais fábulas estelares

tais avatares de beleza incomum sem juramentos e promessas

Césares de sacrifícios estúpidos que nos louvam a vaidade mas


Que direi eu a meus avós quando encontrá-los?

Que como uvas no deserto, eu cá sozinho ressequei?

Que como a chave que cai pelo bolso da calça, eu me perdi?

Que o sono descia forte sobre mim e eu aquecido já não despertava?


Na terra, no final de tudo, porei fim a todas essas rapinas

Estarei de pé no baluarte

A calçar de terra essas nações em cólera

Os palcos palanques púlpitos tablados altares tribunas estrados,

A insolência das linguagens pérfidas que habitam os senados

Calada a voz de todos os enviados


É um lamento sério, cantado como lamento sério

É um lamento triste e delirante


O dilacerado momento de castigo como fogo ardente

A massa em lamentos avança e fermenta

jorra como luz dos porres destilados e dantescos

Homéricos transviados nos tubos de vacina e aço

pilotando holocaustos de cabelos brancos

desastres revirados como panelas ao fogo


IV

Já nos leitos de trigo e dinares e rublos e sestércios

numerosos os que fabricam dores e seus cuidados

os que vendem moedas pra te cobrar em espírito

aqueles filhos bastardos das chácaras de luxo europeu

vestidos de arrepio, de poeira e de resina


Nus nos rochedos expostos das luxuosas mansões

póstumas tubulações nos aterros e esgotos da Metrópole

ossos de lenha especiarias queimadas e toda a sorte de ferrugens agarradas ao braço

delira o mundo em violentas sensações pesadas


É um lamento, cantado como lamento que passa

um lamento de parábolas e versos de bronze incandescente

versos vigorosos a altura de palácios de cômodos compostos

nações de mercadores e idolatria

terras de sonetos canônicos e liras nas cerimônias


e tudo mais que existe é uma poeira assentada

uma nuvem de gente anônima rasgando o mundo


berços gavetas brinquedos e História espinha abaixo no meu corpo



ai ai


ai de ti, ai de mim, ai de nós

Tudo um só rio, uma só onda, um só arrastado horror

e a merda toda misturada à água e aos cereais...


Esse é um lamento cantado como lamento

Lamento abstrato de orgia e assassinato


Lamento do bispo rouco em adultério que aguarda o exílio no cais

Lamento dos vapores que são bandidos em Calcutá e Recife


O Lamento de assombro das gerações vindouras:


quinta-feira, 26 de abril de 2007

- Soneto em sala de aula -

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Conto em vão no tempo
que lento demora e insiste
a hora do agora que prende
e inútil apressado desiste

Agüento contanto que seja
do lado de dentro onde mora
a párticula que move os ponteiros
dos romances de guerra que adora

Contando, os minutos não passam
Esperando, quando mando que venham
A morte que enuncia fracassos

Salas velhas figuras de lenha
Ansiosos no sistema de laços
Na sala de aula um calabouço de letras

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quarta-feira, 18 de abril de 2007

- O recomeço -



Doze de Abril de Mil Duzentos e Quatro

O

0 fim da última grande coleção de literatura antiga em Bizâncio

O fim da última grande coleção de literatura Antiga

0 fim da última grande coleção de Literatura

O fim da última grande Coleção

0 fim da última Grande

O fim da Última

0 Fim

O

0 Gênesis

O gênesis da Primeira

0 gênesis da primeira Parca

O gênesis da primeira parca Dispersão

0 gênesis da primeira parca dispersão de Ignorância

O gênesis da primeira parca dispersão de ignorância Atual

0 gênesis da primeira insignificante dispersão de ignorância atual em Vegas

O


Doze de Abril de Dois Mil e Sete



terça-feira, 17 de abril de 2007

- A providência -

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É tarde no sábado da cidade-satélite


Estou levantando a minha herança

Estou levantando a velha casa

Estou levantando a ruína dos bisnetos

Estou levantando numa cor ocre romana


Estou levantando


Sentado detrás do seu balcão prateado

o repórter elétrico anuncia em voz alta:


“A reunião do Copom aprovou hoje

- com unanimidade -

um aumento de 0,25 na taxa Selic”


O careca reclama, o motorista não liga, eu observo


Sozinhos a passos de trote

toxicômanos passeando nas vielas

esculpidos seus negros seios nos pós de giz

agredidos pelo mármore nas faces brancas do nariz

Cultuando deuses-espelhos


notas

cartões de plástico

giletes


riscos

meiotas

Filetes

alva antítese cromática dos homens de vício


(Branco para os hindus só se usa em dia de luto, no réquiem remoto dos astros vencidos, no açúcar disperso das esferas tingidas, marchando sob divisões Panzer do nordeste polar)

O espírito que tomba da antena

Em Beirute

O menino de cabeça rachada na Laje


em São Paulo

O corpo tombado na calçada quebrada

em Milwaukee


Ele Caído, um pouco abatido

Eu cá me levanto e ajudo


(Estou levantando)


- (...) ; (...) -


- Chega o domingo pronto na cidade-satélite -

- Chega um domingo pronto nascida de satélite -


domingo

pronto


- nacidadesatélite -




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segunda-feira, 16 de abril de 2007

- A foto perdida do Marechal -

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Em outubro de 1826 as Forças Patrióticas de Carleto firmaram o acordo de paz que definia os limites definitivos da República Carletiana. Ao norte a fronteira se estendia ao longo da margem sul do Paraguaçu, a oeste ultrapassava as serras e planaltos até oSão Francisco e ao sul seguia o curso sinuoso do Rio Doce.

- O historiador pernambucano José Inácio de Abreu e Lima no capítulo XII de seu livro, Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil de 1844, aponta o ataque a salvador como o estopim da crise no Exército Patriótico; tivesse respeitado o acordo e permanecido na defensiva por mais tempo, Marechal Carleto poderia ter, definitivamente, expulsado os portugueses do Brasil .


- A ruptura do acordo de paz fez com que os franceses retirassem seu apoio aos Patriotas e fortaleceu a aliança entre lusos e ingleses.


- Segundo Abreu e Lima, nas vésperas do natal de 1826 o Grande Exército Imperial Português, comandando por um obscuro Coronel Franklin e auxiliado por artilheiros ingleses, irrompeu nas margens do Paraguaçu.

O corpo principal das forças de Carleto se encontrava envolvido no ataque a Salvador e as tropas do Tenente Campos Bastos falharam em impedir a travessia inimiga sobre o rio.

O Marechal, em franca desvantagem, apressou-se em recuar tropas de Salvador e Itaparica até a cidade de Valença, já atacada na noite de reveillon pelos canhões e morteiros do exército Imperial. Diante da precariedade de suas posições, os Patrióticos demoliram todas as pontes da cidade e recuaram para a inacessível Ilha de Boipeba.

Abandonados pelas tropas, os habitantes de Valença foram trucidados pelas forças portuguesas: mulheres foram estupradas até a exaustão, crianças foram surradas e executadas, e os edifícios foram todos arruinados, ficaram de pé apenas a velha igreja amarelada de Nossa Senhora do Amparo, o cruzeiro na praça maior, as balsas de canoa, o reboco atravessado e os enxames.


- Carletistas ainda sustentaram a luta através de emboscadas e escaramuças nos mangues quw cercavam a ilha, mas no começo de abril os portugueses dominaram o canal de Tinharé e o todo o complexo labiríntico de rios e meandros que protegiam as Forças Patrióticas.

A ilha foi cercada, as tropas desertaram em massa e não restou alternativa ao Marechal: na manhã do domingo de páscoa, Carleto se entregava com seus oficiais às forças portuguesas e foi enviado num veleiro militar inglês para o forte do Morro de São Paulo e posteriormente para o Rio de Janeiro.


- Nas celas úmidas e escuras em que foi encarcerado, teve tempo suficiente para pensar e repensar toda sua vida centenas de vezes e após doze anos no cárcere passou a ditar suas memórias para mim que me encontrava preso por deserção na marinha.

Foram quatro anos em clausura vivendo sob o mesmo teto mofado.

Quando fui organizar suas memórias, já estava há alguns anos sem notícias do Marechal e morava novamente em Montpellier.


-

O que torna muito complicado esse relato é poder distinguir a verdade histórica dos fatos narrados por Carleto, das lendas que ele próprio criava em torno de sua pessoa, até porque o próprio não aceitava que duvidassem de uma palavra sua.


Tentarei, portanto, escrever da forma mais imparcial que o meu discernimento e pesquisa permitem:


Segue então a história de Carleto Gaspar Simões:




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domingo, 15 de abril de 2007

- O Exílio -

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Estou só de passagem essa noite

Ficarei fora por um tempo

Mas volto de novo pra você e a amo


a amo


Musa das cartas escritas nos trens sobre os joelhos

- Lindo Capullo de Aleli -

Para a que de branco trabalha


Eu, buscando o inalcançável
Te vi ali sozinha, dançando sorrindo do outro lado
Amo o encanto que tão perto enxerguei naquela noite
Desesperadamente me pus a correr para alcançá-la

Você, a rosa mais brilhante, numa hora em que todo o resto se apagou
O movimento de seus pés, a aura de luminosidade ao seu redor
Sorriso só visto nas imagens dos deuses

De tudo que já escutei, você é a canção mais bela
Todo amor que já tive, perto desse tudo é nada
Esse universo antes sem graça se acende sob seus passos
Mundo novo, era de luz, benção divina que me alegra

És tudo sob o sol, a palavra mágica que não sei enunciar
A paisagem mais bonita pela qual já atravessei
Minha vida, meu tesouro, meu canto, meu amor encontrado
Própria resposta as preces que ergo desde menino

Alma indescritível que se entrelaça ao meu corpo e brilha
que se confunde com a realidade do mundo tamanha a mágica
Se espalha, cresce, inunda e me toma por inteiro
Reflete o desejo mais profundo, mais sincero e mais febril

Beijo de novela, incomparável, como dos casais que via em minha infância
Da vida não espero mais nada pois a profecia se cumpriu

Canção de amor da minha vida
mais linda que todas de Tom e Vinícius
Linda centelha de amor que se expande até o infinito

Santo
Deus!!!

É todo o céu que se apresenta diante dos meus olhos

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- As quatro verdades do Buda -

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Me inclinei para girar a torneira,
enchi o balde,
recolhi o tapete,
coloquei o balde no chão,
tomei impulso

e com um chute certeiro,
derrubei o balde com toda água que tinha dentro...

Peguei minha mochila,
chave e carteira

e fui pra Bahia.

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- Insônia - A.C.

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"Estou escrevendo versos sinceros,
versos a dizer que não tenho nada a dizer,
versos a teimar em dizer isso,

Versos, versos, versos, versos, versos...

Tantos versos...

E a verdade toda
E a vida toda fora deles e de mim!"

A.C.

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- Constantinopla -

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quinta-feira, 12 de abril de 2007

- Miscelânea -

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" Aqueles que já dominaram a arte de ler, o fizeram apenas pela metade se a ela não acrescentaram as habilidades ainda mais sutis de pular trechos e folhear. "

A.B.

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quarta-feira, 11 de abril de 2007

12 de Abril de 1204

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O fim da última grande coleção de literatura antiga em Bizâncio

O fim da última grande coleção de literatura Antiga

O fim da última grande coleção de Literatura

O fim da última grande Coleção

O fim da última Grande

O fim da Última

O Fim

O

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terça-feira, 10 de abril de 2007

- Sobre o Carletismo Histórico -

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A saga Carletista tem que ir até o fim; desbravar pântanos e planícies, cercar cidades como um Ciro ou um Bonaparte, reproduzir a voz iluminista que ecoa sobre os hemisférios rubros: uma nação independente do Império do Brasil com uma Constituição própria e uma bandeira. Carleto deve ser a síntese do déspota carismático, o que some e desaparece renasce acende e ressurge e seu vulto é sempre um mistério evidente Bárbaro cretino e arrogante que decreta leis a beira de rios remotos renuncia ao comando em poças de lama na selva abandona tudo por uma cortesã do teatro espanhol e desiste do mundo em Ilhéus.


REPÚBLICA CARLETIANA (1823-1835)


As referências históricas ao período Carletista na Bahia são praticamente inexistentes. Quase todas as fontes que mencionavam esses eventos ocorridos na Bahia entre 1823 e 1835 foram sistematicamente destruídas ao longo do período regencial e do Reinado de Dom Pedro II.

Tenho conhecimento de apenas dois autores que citam o nome do General Carleto:


1.

A Conquista de Salvador pelas Forças Patrióticas de Carleto em 1823, a serviço do Imperador Dom Pedro I, é descrita pelo historiador pernambucano José Inácio de Abreu e Lima no capítulo oito de seu livro, Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil de 1844:


“... General Carleto Gaspar Simões admitiu que teria de sitiar a cidade de Salvador. Ele reuniu canhões e batelões carregados de morteiros e, por seis semanas, a cidade foi bombardeada. O ataque foi tão intenso que a população fez recolher-se em cavernas sob as igrejas. Cercada e incomunicável, Salvador ficou sem alimentos e munição. Nos primeiros meses de 1823 as doenças matavam cada vez mais pessoas. Diante dessa situação, o Comandante Português permitiu a saída dos moradores e cerca de 10 mil pessoas deixaram a capital da província.

Os defensores imperiais mantiveram seus postos, mas Madeira de Mello via sua provisão de víveres reduzir-se cada vez mais, e seus homens começavam lentamente a esfaimar-se.

Em 3 de julho, sabendo que não tinha esperanças de socorro, o comando português pediu termos de rendição ao General...”


2.

O Folclorista mineiro João da Silva Campos, em sua Coleção de contos populares de 1876, curiosamente menciona uma marcante atuação de Carleto, ainda Tenente, numa refrega perto da cidade de Trancoso, quando protagonizara um curiosa intervenção num assalto aos acampamentos da resistência portuguesa:


"... e o homem sozinho e furioso de nome Carleto Gaspar caiu com estrondo sobre os homens e a soldadesca d'el-rei deu para trás com precipitação, ante os repetidos golpes do estranho soldado que, ao demais, parecia blindado contra as balas (...) Mais tarde explicaram os derrotados a causa de haverem cedido terreno àqueles...”


Sigo na Pesquisa.


A PAX CARLETISTA

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domingo, 8 de abril de 2007

- Canto Báltico IV -


IV


Tenho aqui


Um pote com Maná na Terra de Canaã

O ideal ortodoxo do Romantismo Alemão

Baianismo-Beat-Dionisíaco

Lírica persa em forma de paisagem

“ópios édens analgésicos”

A estética Plana oscilante do Orgasmo


Sob um tempestade de flechas gritadas das ameias

Invoco o Deus da Jericó Celeste:

A divindade surda ignora o chamado


Eu, colérico, impiedoso, cruel

Quase um Cesário Fracassado

Prometo o saque aos soldados,

Noite em que as provisões se esvaziam:


O fosso é largo

Os carros de boi exaustos


A linha de suprimentos enfraquecida

Os recrutas bebem tudo que acaba

Já não há para comer


O oficial não disfarça;

Reúne os homens e anuncia:

“Glória eterna ao primeiro que galgar as fortificações”


E os homens se enganam natos

Em meio aos destroços de setas e varetas

Em escadas quebradas nos tombadilhos trilhos e arautos

Galgando sobre o filho caçula da concubina assíria

Pedra sob os muros brancos e tostados da Tebas condenada

Erguida sob a pilha de homens desnudos sob telhas e carvão

O cadáver do menino como escada apodrecida para a Polis


Das sete portas cerradas sobram três


A Pedra de Palermo

O Papiro de Turim

A Pedra de Rosetta


O Canto Báltico das aldeias maias

Canto Cerrado das Agulhas Negras.


Canto amarrado entre a rede e a parede.



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sábado, 7 de abril de 2007

- Canto Báltico III -


III


.I.


No mictório de ladrilho azul-piscina

Um vômito de sensações intrusas

Jorrando um mar de caravelas lusas

No toilette imundo uma suína


Metafísica intestinal pós-eterna

Entranhas da humanidade encarregada

Ser cansado, meu ventre uma baderna

Sobre mim uma clarividência na golfada


Através de seus caminhos e atalhos,

ó senhor olímpico do mármore e do Cobre,

Cerdas vivas podres nos cascalhos

Chama de semente turva de alga nobre

Veredas e eclusas para os oceanos vastos

Escrotos lodos nos esgotos rodos pelos pastos


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.II.


Caipora urbano das colunas de aço e montes de brita

Boitatá das vielas penumbras dos Bastos Bosques

O mar vermelho que se encerra, que se ergue aos toques

Carregamento de consolos apreendido na Serra das Antilhas

Animais extintos na Tasmânia desolada


A poesia é o consolo dessa criatura insone

Obcecada com guerras e epopéias

O jogador que sempre quer um pouco mais!

Viciado de veia em civilizações peninsulares

Colecionador de Rios e arbustos pragmáticos

Seduzido pela raça cósmica que esculpi divindades nas encostas

De um Tibet em Ramos ou Irajá


O suplício de Procusto, histórias de fantasma

Espaço tenebroso sob a cama esses tais mitos

Antigos matos escuros, laços dardos lençóis

Estradas turvas nevadas, igrejas ventos sem voz

Nunca o palácio de pedra bandido

O centro de sua nação em outra nação


Portugal ferido, com você uma última vez e

quero lhe falar de assaltos

Já não tenho Deuses para me salvar

Ao homem pós-moderno só lhe resta o ópio


Castelos nórdicos em mercados do Cairo

Festas da alta sociedade na Manhattan dos anos 40

O amor desgraçado na melancolia medieval italiana

A filha virgem do sultão da babilônia que jura por Alah

As matemáticas

Pólvoras

Astronomia etrusca


Cantando Édipo e Enigmas já devorados


Cantando a amaldiçoada lei da vingança privada.


Cantando os heróis mortos no cárcere


O excesso nas drogas

o suicídio


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terça-feira, 3 de abril de 2007

- Canto Báltico II -


II


O Herói Trágico escreve uma ode à sua amada

Bebendo água de poça e comendo papa de papel timbrado

Escreve versos com cera de vela derretida e pastosa.


Em trinta e nove meses na sombra da greta infuso

terminado o primeiro volume o mais selvagem

Em doze completo o segundo e derradeiro

Em mil a prosa de retorno ao estaleiro a estiagem


A autor morto recria a tradição e a obra

Glória das que se perderam e que nunca se acharão

O escritor recria os tratados que hoje são apenas títulos

Poetas altos do silêncio que pronunciaram senão duas frases


Angústia da Influenza

Algo sobre um Robinson Crusoé

Trancado num apartamento sem janelas

A beira do mar, mas sem o céu


Morto pela maré no cativeiro russo da Sibéria



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segunda-feira, 2 de abril de 2007

- Canto Báltico I -


I


No Garimpo além

Minha mãe é a Rússia inteira e mais a Ásia

Não há palavra a orar

Só o que me alcança é ver e prezar


O estrangeiro se recolhe no banheiro da pensão discreta

De rochas em pontas e pias papéis alface

Vinte metros até a próxima emboscada

O rastafari guarda

cantando segredos a pantera intrusa


Dois charutos magnos

Todos cantando Nice Time

O rastafari refrigera os peitos


Acende

Um fósforo

Uma fresta

A Fera foge ferida a ferro

E Segue cantando o fogo


Brigas de faca

Tocaia na curva oportuna

Cantando putas ensebadas

bebedeiras festas sujas

Dançando manhãs folgadas

Fortuna finadas faustos deslizes


Sulcos profundos insinuados nas dragas

Campeonatos de baralho nas paredes descascadas

Cantando Estátuas embaixadas, bares vícios pragas

Bastardos do esplendor das minas velhas

Arruinados nas florestas secas e etéreas


Mortos no Cativeiro sinfônico

Apodrecidos já nascidos

Crescidos fundo nos abismos

Mais velhos que os santos homens santos da Mongólia

Cantando decerto um Chico Buarque de Holanda das Estepes

Com Latas de Skol meio vazias meio cheias por toda Banda Oeste


Vai minha canção, vai por sobre as Serras do país!

Vai Sacro Império fantástico das tribos do semi-árido...

Narrativa de fogo e tempestade nas Bahias do agreste

Matita Perê imortal o Aleph Rosa da Cunha Sertão

Patroa descansando acesas velas cendidas no capoeirão

Velas pagadas em Pinhos de Riga manguezais e touros


"A crítica literária apenas mais uma triste ciência social"



H.B.



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sexta-feira, 30 de março de 2007

- Ctrl C / Crtl V -

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Século oitavo Xenofonte me conta contos de Bocaccio:

Ruelas tortuosas da Europa medieval

Umas 15 mil embarcações nos portos do rio amarelo

Uma dependente de heroína vive um drama de amor nas Malvinas,

Porcelanas Ming estraçalhadas no mapa

Ferrovias no Punjab com tijolos de Harapa


Mercadores de Veneza no Mar Cáspio

Suposto local de sepultamento dos reis magos na Pérsia,

Casamento de crianças mortas.

Queimadas efígies de escravos,

Dinheiro e objetos domésticos

Vastos salões e halls deixados.


Embora soubesse das intenções dos mongóis de invadir o Japão,

ditado a um certo Rustichello, em uma prisão de Gênova, em 1298.

Despojados de suas ambições e de suas vidas.

A léguas e léguas de pestilência, desolação e morte.

A península itálica

já não cabia mais entre os limites das muralhas e o vale


Perigosas viagens que duravam anos,

Enfrentando estepes e terras inexatas

Os covis das feras, sepulcros de passaros tártaros

Vidros, cristais, uvas, Romas, camelos, Pavões.

No extremo mais ocidental da Grande Muralha.

As fachachas de magma dos vastos desertos de Gobi e a cordilheira


Desde o final da dinastia Tang até início da dinastia de Cinco Períodos

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terça-feira, 27 de março de 2007

- SÃO -


São


Calais

Cavaleiros teutônicos

Hanseáticos

Bálticos

Náuticos


São


Toulouse

Moribundos Pneumônicos

Asiáticos

Estáticos

Trágicos


São


Perpignan

Gueixas queixas deixas que estejas

Em paz

Vejas cerejas bandejas na mesa

De Champollion


Lion

Corteja o imperfeito

Acalma a berraria


Tudo é raro um tanto um jeito

Na Crônica vazia


Dialetos de Bordas Recheadas

Amuletos embrulhados em pano de seda

Qualquer verso que não seja mera repetição de um outro poema




sábado, 24 de março de 2007

- Para Nelson Pereira dos Santos -


Minha infância, Fortaleza
Meu alimento, minha presa
À distância, sem firmeza
Gentileza não esqueça por hoje a limpeza
porque a esperteza convexa preza por mais tristeza
Sisudeza esqueça a natureza a pobreza
que com certeza sua beleza e nobreza
é alteza
Para pegar uma japonesa baronesa da empresa da mesa inglesa burguesa
Princesa Dinamarquesa
Observo...

Deplorável Inafiançável Inflável
Bonecos Marvel
Descarto o parto no quarto do lagarto
e aparto o enfarto

Essa Algazarra essa marra
que farra bizarra
alcaparra
que fanfarra

Gambiarra esbarra e escarra
Desgarra da jarra e narra com garra
a barra da cigarra

Esparta descarta a lagarta na quarta.
Farta carta guarda a bombarda vanguarda de Marta

Reza pra ter preza
Reveza com justeza
Enfeza embeleza a brabeza

distância não põe mesa
Que venha a Correnteza!

By Ero & Gand 03/2007

terça-feira, 6 de março de 2007

- CARTA A MEUS FILHOS -

- I -


( SOB EFEITO DE BEBIDAS FERMENTADAS)

A estrada acaba aqui

Daqui pra frente só areia e pedra

Encurralados na santidade de um homem que foi à Meca

O deserto desaparece

Atraca a Mercedes Benz em um antigo castelo


Arquipélago de crises essa década

Desertos, Tomahawks, aviões evacuados

Adeus Icebergs, Adeus Grandes Geleiras

Adeus Terras brancas do Kilimanjaro

Adeus Grande Barreira de Corais

Adeus baixios do Rio Paraguai


O Uirapuru cala,

Villa Lobos faz aniversário

O Tiê Sangue cadê?

Papagaios que nossos avós avistaram...


Se Deus autoriza, eu afundo tudo que é baixo

Faço ilha das favelas

Federação de Cidades-estado


Caminho pelo leito seco do oceano

Em plano declive

Alcanço a pé as Cagarras

Fumo um Cohiba no mirante das Fossas Abissais

Quero uma cruz de pedra na praia lá no fundo

Quero uma Colônia de Férias


Rio de Janeiro 2007 Férias Findadas

Pastelarias chinesas da Voluntárias da Pátria

Morenas de saia curta na Conde de Bonfim

Lançamentos piratas na Avenida Copacabana

Trânsito na Jardim Botânico passando o Parque Lage


Burburinho noturno nos bares da Farani

Blitz na entrada de São Cristóvão, perto da estação

Baderna Tiros Correria Flamengo Campeão

Não posso viajar por hoje, estou sem Money


Avenida Brasil, Espinha Dorsal da Urbe

Pescadores de Domingo na Perimetral

Ciência ancestral dos tumultos

Turba


Acordos informais na FioCruz Manguinhos

O Russinho,cara de pau na Central, acende um baseado no vagão

O Paisana com a esposa na prainha, finge que não vê nada

Arre rodízios de pizza, japonês, churrasco, crepes, Self service

Manga cacau açaí morango Laranja Umbu

Arre motéis casas de samba Itaipava Itacoatiaras


Saio pra cortar o cabelo

Peço pra só aparar, saio revoltado, sorrindo

Finjo que gostei


Paro pra comer na Lapa Rua Gomes Freire

Carne assada com arroz no Carioquinha

Seu Antônio faz questão que eu não pague...

De forma alguma, Seu Antônio...


Panelas descansam no restaurante de expediente encerrado

O cozinheiro de calça jeans sem uniforme fuma

O telefone mudo, já não desperta a jovenzinha exausta

Os bêbados dormem roncos na vidraça


O som das ruas cariocas

O blábláblá das britadeiras

Os guardadores de carro por toda parte

Os Cretinos Os desalmados

Serrando mármore às oito horas da manhã

Redução de marcha no Circular

Quitanda, circo e Colômbia nos Sinais de Trânsito

O carro entra sem ligar a seta

O Outro vai na esquerda a trinta por hora

O guarda olha rezando para que estejam errados


Um córrego cinzento brota do asfalto

Fontes termais num romance Tcheco

Organizadas nas arquibancadas dos estádios

Facções no circo em Constantinopla

Todo torcedor um Visigodo

Medellín-Rio 1993

De tanto espirrar e coçar os olhos

Adormeço no Bus


Grande apresentação de uma companhia teatral espanhola no Scala

Concreto aço e vidro: o Edifício Central Softwares e Gigas piratas

Brutalidade e solidão no apartamento dois quartos na Glória

O interfone não funciona faz dois meses...


Companhias de abastecimento, provedores de internet,

Concessionárias de pedágio, operadoras de celular...

Fios roubados, números clonados

Contas devassadas, golpes, canos estourados

Infiltrações no vizinho de cima

Reunião de Condomínio, advertências,

Porteiros, garçons de má vontade...


De um esplêndido apartamento na Barra da Tijuca

Ele contabiliza seus lucros

Ações da Vale Submarino

Aracruz e Embraer


Promovido na empresa, o salário é sete mil e trezentos reais

mais plano de saúde

A parcela do carro é mil e seiscentos

A conta do celular dá uns trezentos e cinqüenta

O seguro é três e quatrocentos à vista

O aluguel vale dois e duzentos


Comprou um aparelho de DVD portátil

Um Notebook dividido em dez vezes

E um celular com câmera e filmadora


Já tinha uma máquina humilde 6.2 megapixels

Dois cards de 512 Mega


Ainda não tem um I-pod

Assim que comprar um,

Vai voltar a correr e malhar


O Banco, diante da promoção do rapaz

E de sua renda superior a dez salários mínimos,

Aumentou seu cheque especial para dois mil reais

Os juros são os melhores do mercado

Você contabiliza Lucros


As declarações do Presidente do Federal Reserve

Apavoram os investidores

Crise no mercado imobiliário norte-americano,

Excesso de liquidez, correções, reajustes...

Ele realiza

Resgata seus investimentos

É hora de levar a vida a sério

Sem riscos demasiados sem aventuras

Aplicações integrais em Fundo de Renda Fixa


Converso com os amigos

Temos projetos, futuro e talento

Temos munição suprimentos

Olhos negros e claros

Temos juventude


Feito pureza de criança que dorme...




- II -


Aqui essa noite de março em Juiz de Fora

Imprimo hieróglifos no papel timbrado...

Cabe aos descendentes ler o que lhes foi guardado


Um cão,

A arma,

Um lugar seguro pra passar a noite

Sozinho em alguma mata fechada das serras


Só.


Escrevo uma extensa carta para um filho desaparecido

Deixo notícias pros que não sabem o meu nome

Idéias vêm e desaparecem com o espetáculo de vaga-lumes

Milícias de Nassau tomam a vila Lusitana


Cavernas ocultas do Jalapão

Barrancos de argila no Tapajós

Enseadas perdidas na Rio-Santos

Ausência dos mapas

Rios sem nome


Tomados pela febres

Sem poder roubar galinhas

Sem ter mais utilidade


Capturados.


Meu exército de Búfalos montados

Búfalos de duas toneladas

A Bufálaria do baixo Amazonas

E cada um dos caboclos grita a terra de seus ancestrais

Sou do Juruá

Sou doTrombetas

Sou do Xingu

Sou do Rio Negro

Sou do Araguaia

Eu sou aqui de Marajó...


Se faço a guerra, o faço por natureza

e não por lei ou ideal

Correria atrás de índios na floresta

Repúblicas de Negros livres nos sertões do Maranhão

Pergaminhos da lei queimados no meu escritório em Lençóis

A geografia triangular de Salvador

Constantinopla dos trópicos

Tudo cercado com Muralhas de rocha!!!


Foi tarde que eu percebi

Que o vosso mundo ainda é longe

Desterrados os que não sabem de Xangô Iemanjá

Os marinheiros que próximos de ti passaram ao largo

Oxossi, Iansã, Obá


Almoçar em Montes Claros não custou tão caro

Um prato servido a quatro reais com refresco;

Lanchar em Caxambu no Parque das águas é de graça...

Domingo não se paga entrada;

Cerveja gelada no bar à noite em Jericoaquara

Beira do mar, o crooner toca Oceano.

Grande Bordel que é a vida


Encontrando suas amantes em pensões imundas de Recife

Onde moscas Gordas e verdes picam todos os hóspedes

Onde os Galos e coelhos da Dona Branca cagam todo o corredor

Onde a gritaria é cerimônia

Seu Carneirinho está de fora

Freta barcos em Porto de Galinhas

Anunciando a tempestade o vento que vem de Sudoeste

Ele vai pra casa mais cedo esse dia


Tenho um segredo guardado nas mãos

Glória em Copacabana em 2007 é ganhar no Amazônia King

Pego meu taco de sinuca e ponho a ficha na mesa

Meu jogo é esse! Só dou porradão!

Se ganho, é na fé e na cagada

Esse é meu segredo

E sempre ganho...


Volto pra casa num executivo da São Geraldo

“Bem-vindos ao Rio de janeiro. Rodoviária Novo Rio.”

Mal estar na Zona Portuária

Do Olimpo ao Hades, Via Governador Valadares

Franca decadência das Terras do Paraíba


Ipê Amarelo, Jacarandá

Tabebuia Pau-Mulato

Embaúba...


C7M Am7/11 Dm7 G7M/9 Am7/9


Como um espírito de revolta

Que retorna ao seu velho castelo demolido

De mãos lavadas

Chego ao Aeroporto Antônio Carlos Jobim

A linha Vermelha não me dá Boas Vindas

“Jogue suas botas ao chão forasteiro.

Delicie-se no vinho do inferno!!!”

Diz o Policial na revista


Fumo um hollywood Verde e fico calado

A espera...


Na mala do taxi

O chapéu esquecido

O casaco roubado

O livro emprestado

Uma canção Eslava da Abissínia...


A espera, acendo outro cigarro


Sigo esperando...


Parado ...


E não há o que fazer senão fumar mais um...


sábado, 3 de março de 2007

- CANÇÃO ESLAVA -


Isso sim é uma canção eslava

Compilação de antigas cantigas

Trancado num mausoléu

Cercado de crânios

Em Bukhara não me protege a bandeira jesuíta

Os relógios caseiros são como nos bálcãs

Inexistem


Divas no fundo do vale do mundo

Avós tristes

Derradeiras Cordilheiras

A paz da mulher grávida está de luto

Jamais me levem aos penhascos

Ainda sonho estar na fronteira


Marcado pelos traços do cárcere

Quero saber o crime que os levou aquele lugar

Um senhor de idade avançada alerta

É vedado aos presos cerrar os olhos

Bem desagradáveis certas paisagens

Em minha face gravados serros vulcões


Arauto das Civilizações Equatoriais

Escondido em ânforas pelos quartos

Fogos de artifício dos feriados babilônicos

Lido nas salas de Códices pré-colombianos

Manuscritos de papoulas

Fósforos do Hotel Varadero


A guerra me chamou

Balas de revólver

Cavidades dos órgãos melancólicos

Mensageiros que não dizem a verdade

A manhã toda olhamos ao redor da Fortaleza

Sem reforços, quem virá nos salvar?

Um deus Negro ou um Deus Bárbaro?


Tesouro árido dos séculos

Palavras, credos, farmácias

O brando deleite dos órgãos sexuais

Vagões reservados, embriaguez e olvido.

O artista durante a tarde esboçava

Um ex-capitão da marinha mercante

Com as duas mãos rudes cruzadas sobre o colo


Amante dos mares azulados e das longas travessias

Pensava ser um delírio mercenário

Uma delicada euforia dos meus vinte e dois anos

Whitman tece conselhos

Transformado em qualquer presença ou verdade humana

Vou para a fronteira cruzando os charcos e alagadiços do Mato Grosso do Sul

Como explicar meus dentes brancos num pântano de desdentados?


Viúvas insones me observam desconfiadas

A terra não é árida mas o sono o é

Centelhas de brilho mais ao norte em Manaus


Estou de passagem pela noite
Provérbios da língua portuguesa

Riqueza maior que as Avenidas de Manhattan

Na Infantaria aprendi a hierarquia, as listras, medalhas

Indicações...

Nos morros de nossa cidade

As grandes leis são cumpridas e acatadas sem discussão

Não creio que dure...


Mato a aula de literatura e mergulho no mar para estudar

Eterno equilíbrio inacessível da vida acadêmica

Paradoxos da curiosidade, antítese dos planos

Mística é a vida e a Guerra

Estoques, depósitos, transporte

Poetas, dicionários, enciclopédias, guias, ensaios

Necessito de suprimentos para meus poemas

Dependendo a distância que estou, não me alcançam


Acampo junto à fogueira no Parque Nacional

É dezembro na Bahia, Monte Pascoal, Caraíva

Um grande campo de batalhas onde logo entraremos em ação

Na terceira noite avançamos nossas tropas sobre o Forró

Era um belo início de verão

Lá pelas tantas entregaram as armas e renderam-se


Com a Bahia e portas secretas

Tenho uma curiosa sensação de identidade

Com o barco de pesca, o quarto do beliche

O Livro na estante, o anel nos dedos

Brisa soprando e ela dormindo de dia

Chopin Wagner Albinoni

Badalar de sinos barrocos

Baden Chico Jacob

Súbita iluminação de afeto

Tudo que eu jogo no cesto

Se cair certo ela me ama


Tapeçarias do palácio de inverno

A dança ao redor do fogo

A música infinita de Antônio Brasileiro

Versos de estudante que precisam ser guardados para a velhice

O jovem latino pensando em Constantinopla

Divina experiência de ser vivo

Na metade do caminho, os vinte anos já passaram



Apenas a vida do homem sabe o que é sexta feira

Rezar, rezar, rezar

A prática tem que se repetir

A guia de iemanjá

O terço italiano

As pequenas estátuas do Buda

Os cristais quebrados da Chapada

Só a fé salva nesse mundo

Ergo meus olhos sobre o céu escurecido

E é o amor e a paz que desejo


Madrugada, silêncio nas águas

Se o navios de papel e os barcos não voltarem

Eu apago as velas


O assombro corre meu corpo como orgasmo

Agora no Rio Paris Roma ou Salvador

Tremulam bandeiras nas pocilgas, escolas igrejas e mansões

Tudo se dissipa engolido pelo escuro da guerra

E até o cheiro de limão que não se larga dessa terra

Escorre em valas cheias de mato e lamaçais

Guerras de desencontradas paixões

O inferno que se repete e é apenas o ensaio


As mães choram sozinhas

Varandas sem vista, cadeiras quebradas

História desgraçada essa da imundície humana

É tal o horror que desses nossos hemisférios emana

Que aqueles lumes vivos ainda reluzindo

Ficam vagos, fugitivos



A selvageria dos cruzados

Fez da fortuna de Clio uma tristeza

Mercadores Venezianos que Borges descrevia

Rebanho de olhos turvos, crueza

Esquecida sua antiga imagem, ó menino Jesus

E aqueles lobos vorazes

Prontos a incendiar qualquer pastagem

“Socorro Roma, Grande Capital!!!”

“Quanta riqueza aqui vos espera”

Mas é gente humana que já se desvia

Ardendo todos na mais profunda esfera

Nos últimos círculos das torturas Dantescas.


Gloriosa alma que se fala

Perdida quinhentos anos antes de Platão viver

De onde tirou essa alma Homero?

Pra onde foi Virgílio,

Obra inacabada, sempre renascida

As luzes triunfantes de uma Roma Imperial.


Néctar dos deuses, Hidromel...

Trocados pelo sem gosto da hóstia

Nascido nos Mosteiros do Monte Athos

Aprendido nas liturgias da igreja ortodoxa

Conhecedor de Tucídides e Heródoto

Como aquele que chega na festa

E não conhece a ninguém


Escrever sempre com sono

Nutrir esperanças de ser grande antes de se deitar

Oscilar entre a religião e a psicanálise

Em Arraial D’ajuda tocando a marcha fúnebre de um irmão

Pra quem vivia de música aquilo era desvario


Paisagens imensas botes pequenos

Perdidos como náufragos em algum lugar sem terra a vista

Milton Nascimento, ao lado me sussura:

“Se engrandece pela fé que os vôos da arte são mais baixos”


Êêê tempo apressado quando se está contente

Sobre as muralhas de Cartagena eu te lia um poema do amigo Pedro

Entusiasmado você me perguntava:

“Você também é do Leme?”

Reservado, eu explicava que tinha nascido Lido,mas meu espírito era Leme e tal

E ele fingia não ligar pra esses detalhes

“É, Lido é leme praticamente”

E propunha uma cerveja no ambulante torcedor do Colo Colo


Na estrada de Alfenas uma casa abandonada

A estrada inacessível, remota

Perdida como todas as estrelas...

Mas aquela imagem dizia alguma coisa

Sim...

Passado de gente morta

Carregaste aquela casa de recordação

De alma de gente que não tem pra onde ir

Voz suave que ecoa das ruínas

Aliviai teu pranto, tristeza das flores arrancadas


Cansaço de quem dorme sobressaltado

A vida sem festas é um longo caminho sem hospedaria


Me sinto um cano perdido nas entranhas de um grande edifício

Após Camões não se pode ser nada

Tímidas missões dos navegadores antigos

Feitos menores de povos do passado

Abençoadas cidades da lusitânia

Vocês, nessa faixa estreita de terra

Ofuscando os orientes


Defino com o fim de embelezar

À sombra de uma figueira

Na inútil tentativa de acender um cigarro

Qual seria a história de Melquíades?

E os detalhes das guerras do Coronel Aureliano?

São muitas lacunas...


Na vida...


Esquecida a lâmpada apagada..




Nem de longe essa mágoa se desfaz

Sozinho, um homem não pode ficar

Lá embaixo na rua, passa o 592

Carroça mágica que enche de ansiedade

Os dias de quem mora no Leme

Bosques de bambus das manhãs seguintes

Um graveto estala atrás dos homens

“É UM TIGRE!!”

Farejava carne humana

E o menino,

coitado,

desde pequeno gaguejava...


Entardecia.


Triste, agarrei o azul daquela enseada e fiz um verso

Mesmo flutuando sobre um barco negro, saqueado por piratas

Nas cataratas do Nilo antes de Assuã

Nas corredeiras do Mekong antes de 68

E nós, tendo que buscar caminho pelas margens,

Represar, diques, atalhos

É preciso ir da foz às cabeceiras


Estrangeiro, ele aguarda na estação

Peregrino, sentado embaixo do letreiro

Viajante, o cabelo desalinhado e seboso

Ignorante, não sabe o país que está

Selvagem, nunca viu os mapas

Mendigo, pro reino dos bons ele se apresta

Largado, ele espera...




E não há espera maior


que a da fé.

Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841