terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
I
.
FUMO UM GUDANG DE CRAVO E ESTOU TONTO
CAMINHANDO MUITO CEDO DE MANHÃ
PELAS TELHAS DE BARRO
NOS CONFINS DE UMA CIDADE ESLAVA
OLHO O TANQUE ABANDONADO PELAS MILÍCIAS
SUJEITOS DECENTES, ESSES SÉRVIOS
EM TÂNGER, FALANDO DA MATEMÁTICA EUCLIDIANA
DESCREVIAM O CAMINHO PELO GANGES VIRANDO À ESQUERDA NO BRAHMAPUTRA E SUBINDO ATÉ OS MONTES DA BIRMÂNIA;
APÓS A QUEDA DE BIZÂNCIO NÃO TINHAM PRA ONDE IR...
UM MENINO DE QUATRO ANOS MARCHA ATRÁS DA SENHORA DE PRETO
MAL SABE ELE QUE A PRÚSSIA DECLAROU GUERRA CONTRA PARIS,
QUE O EXÉRCITO JÁ SE APROXIMA DA CIDADE...
STENDHAL PASSEAVA PELO CAMPO
E NÃO ENTENDEU AQUELA MOVIMENTAÇÃO DE CAVALOS EM WATERLOO...
BOLÍVAR,COM SALVO-CONDUTO, SAIU AFUGENTADO PARA A JAMAICA
FORA ESCREVER CARTAS E TRATADOS
AO LADO DO CANSAÇO NA MOCHILA
OS SAPATOS FURADOS DE COURO DE TEJU
COM UMA PEDRINHA NO BOLSO DAS MURALHAS DE CARTAGO
COBERTO PELO RENDADO VERDE E BRANCO DA SENHORA EM BOGOTÁ
DESCANSANDO SOB O CARVALHO
O MOÇO
E O MAIS VELHO SONOLENTO
CASAS DE FAMÍLIAS RICAS E TEATROS
AS ARMADILHAS DO ÓPIO NAS ESTRADAS DO PALÁCIO
VIM PARA ATENAS E NÍNGUEM TOMOU CONHECIMENTO
ANTES SER DO BONDE SOM A POSSUIR TODO IMPÉRIO PERSA
CARLETO BRADAVA FURIOSO
"OS HOMENS AO FUGIR DA MORTE,
PERSEGUEM-NA. INSENSATOS;
TEMENDO A MORTE QUEREM ENVELHECER"
A CORAGEM FAZ PEQUENOS OS GOLPES DO DESTINO
“MEU IMPÉRIO JÁ BASTA”
O DESEJO DE TER MAIS DESTRÓI O QUE ESTÁ A MÃO,
COMO PARA O CÃO DE ESOPO
“A GUERRA CIVIL”, MEU BOM GENERAL, “É UM MAL PRA AMBAS AS PARTES,
POIS PARA VENCEDOR E VENCIDO A DESTRUIÇÃO É IGUAL”
“EU SEI DISSO, NOBRE CAPITÃO,
MAS EXISTEM PENSAMENTOS MAIS FORTES QUE NÓS
A LIBIDO É INTENSA AQUI NOS TRÓPICOS”.
AGRADÁVEL SAUDOSISMO LUSITANO
VARANDAS VERMELHAS DE FLORES NAS PRAIAS DE MADAGASCAR
CHUVEIROS DE ÁGUA QUENTE,
DE OLHOS FECHADOS E PENSANDO
PORQUE ESCREVER SE ISSO NUNCA TRARÁ O SUSTENTO
CONTO DEZENOVE BARCOS NAVEGANDO NA ENSEADA
JOGO O PIÃO NA AREIA E O DIA É FRIO E NUBLADO
LITERATURA, VÍCIO INGRATO
ANTOLOGIAS, COLETÂNEAS, CITAÇÕES, VERSOS
DESCUBRO O INVISÍVEL NO TRANSE DA SACERDOTISA
EM ROMA
JUDEUS NEGROS DA ABISSÍNIA ENRAIZADOS NAS MONTANHAS
PETRARCA A COPIAR SONETOS DE UM COLEGA DE OFÍCIO
MARCO ANTONIO ATUANDO COADJUVANTE NA OBRA DE SHAKESPEARE
COPTAS NO EGITO CAVANDO SUAS IGREJAS NA ROCHA;
NA MINHA PASSAGEM DAS HORAS
COLTRANE BOB E CAETANO
MORERÉ GUARDA VEADEIROS
GRANDE SERTÃO E VEREDAS INEXPLORADAS
PAIXÕES VIOLENTAS EM NAVIOS A REMO
AS PONTES IMPLODIDAS AO LONGO DO DANÚBIO
NA PORTA DO CASEBRE MEU CORAÇÃO DECIDIDO
A VIDA INTEIRA POR UMA BEBEDEIRA EM CRETA
ROMA PERMANECE
COM
COM SEUS LIVROS DE GENTE MORTA A FORMAR ERUDITOS
SUAS PROMESSAS DE GLÓRIAS E IMPÉRIOS.
TIBERIS FLUVIUS
O SOLDADO SE DESPEDE DA ALDEIA, ADEUS FELICIDADE RURAL, ADEUS MENINAS, ADEUS
A BLIETZKRIEG TEM HORA MARCADA,
NO ALTO DA TORRE VIGIANDO...
É O HOMEM QUE SE DEBRUÇA NA JANELA COMENDO UM BOLO PASSADO
TODOS SABEM POR LÁ:
É IMPERATIVO EXPLODIR O QUE PASSA
O SEMPRE ADIAR TORNA SEM FIM AS AÇÕES..
VOLTO AO MEU SONHO
FINJO NÃO SABER O QUE DIZER PRA ELA
DESFAÇO O FEITIÇO DOS ÍNDIOS NO ALTO JAVARY
RENEGOCIO O TRÁFICO DE PUTAS
SOU CANDIDATO POR SANTARÉM
INSISTO E NÃO SEI SE VAI DAR CERTO
MAIS COM OS VISIGODOS QUE COM MEU PAI
FETTUCINE A BOLOGNESA NA MESA
ESTOU NA CADEIRA QUE EU GOSTO
NUMA CABANA SOZINHO LONGE DO MUNDO
NUMA CABANA VAZIA LONGE DE DEUS
SEMPRE ALGUÉM POR TRÁS DA PORTA A ESCUTAR A VOZ
TIRO O ELMO PARA COMER O FETTUCINE
MANCHO A CAMISA BRANCA COMO QUEM DESPERDIÇA A VIDA
E FUMO O GUDANG DE MENTA PARA REFRIGERAR OS PULMÕES..
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II
O ATLÂNTICO À ESQUERDA
TRAZENDO NA MALA ESSA COLETÂNEA DE POEMAS
VOAR SOBRE O CANAL DO PANAMÁ
VER POR TERRA UM MAR QUE FOGE PRO OUTRO
ANJOS DEVORADORES OS OCEANOS
LIGANDO MICRÓBIOS E HECATOMBES
RESSOA O GRITO ANTIGO DOS GUERREIROS IMPLUMADOS
DO AÇO A DESTROÇAR AS LANÇAS DE LÁPIS-LAZULI
AS ACHAS DE OBSIDIANA
AS FACAS DE SÍLEX
OS MONGES NAS CATEDRAIS E SACERDOTES NAS PIRÂMIDES
CHITZEN-ITZA PALENQUE TIKAL UXMAL
GRIPADOS DE BOLHAS E MANCHAS PELO CORPO
COCEIRAS E FERIDAS NAS TRIBOS OCIDENTAIS
AS CASCAS DOS HOMENS DE CASTELA
PRA OESTE DAS MOLUCAS E ARÁBIAS
DESDE AS MATAS ESCURAS ACIMA DE VERA CRUZ
ATÉ AS ÁGUAS TRANSPARENTES DAS ANTILHAS HOLANDESAS
EPIDEMIAS, TÚMULOS DE ALDEIAS EM RUÍNAS
TARDES DE BALSAS LENTAS E LAGOSTAS MORTAS
À MESA COM FOME E CANSADO
DESCREVO PAISAGENS ANTES DA JANTA
ARRE ESTADOS DE SÍTIO, CALAMIDADES DA GUERRA,
CIDADES ABANDONADAS
RODES, MALTA E SIRACUSA
PULANDO O CARNAVAL DE VENEZIA DE BRAÇO ENFAIXADO
ENTRE DIAMANTINA, RECIFE E MONTEVIDÉU
UM RESTO DE CAFÉ NO COPO E O CIGARRO QUEIMANDO
ROMA, PENSAVAM OS HOMENS,
JAMAIS TERIA SEUS PRÉDIOS DE MÁRMORE INCENDIADOS
OS GERMANOS DE CUJAS CIDADES NEM SABEMOS OS NOMES
NÃO REFLETIAM MUITO SOBRE AS COISAS...
ERAM BÁRBAROS PORCOS E SANGUINÁRIOS..
NÃO ESCREVIAM SEUS NOMES
NÃO TINHAM LITERATURA
APENAS SE ENFASTIAVAM DE CARNE CRUA E TRIGO FERMENTADO...
PLANEJAVAM ASSALTOS...
MINHAS TROPAS SÃO COMO HUNOS
ATRAVESSAM COMO FOGO AS PAISAGENS
O MUNDO É CINZA POR NOSSOS CAMINHOS
“FECHEM AS PORTAS, TRANQUEM AS JANELAS E GUARDEM BEM SUAS CRIANÇAS!”
e tu...
GUARDA CONSIGO, QUERIDA, O BANCO DAS PRAÇAS PEQUENAS!
NÍNIVE A PÉROLA DO ORIENTE
NAS SAGRADAS LETRAS DE TUA GRAÇA
SE ORDENE O TEMPO DE MINHAS PALAVRAS
A UM DIA DE VANTAGEM, FELIZ, NO TOPO DA SERRA AO SEU LADO
Ó LINDA ADÉLIA PRADO:
“NEM BEM CHEGOU, FOI DIZENDO, OS OLHOS FIXOS EM MIM:
MINHA VIDA DÁ ROMANCE SEU CARLOS”.
ANOTANDO OS COMPROMISSOS NAS NOTAS DE SUPERMERCADO
A BOLSA UMA BAGUNÇA DE PAPÉIS AMASSADOS, CIGARROS RASGADOS E VIDROS DE PERFUME
ERA A PRIMEIRA VEZ QUE CANTAVA NUM TEATRO DAQUELA IMPORTÂNCIA
PRESO NO MUNDO ANTIGO IGUAL O MODERNO
NU NO QUE ME FAZ UM HOMEM BELICOSO
HELENA, A PUTA INSENSATA DAS PRAIAS DE HOMERO
O ÊXITO INQUESTIONÁVEL DOS DEUSES DA GRÉCIA CONTINENTAL
MAS É INÚTIL FALAR
NÍNGUEM COMPREENDE OUTRO TEMPO
O HISTORIADOR É SEMPRE UM DISSIMULADO
A HISTÓRIA SEMPRE FICÇÃO
DESDE ERAS DE IMEMORIAL COBIÇA
O MUNDO É FEITO PROSTITUTA
E O BÁRBARO É SEMPRE O IMPÉRIO
NO COMEÇO ERA O SANGUE NO CORPO VIVO DO CRISTO
HOJE É NAS RUAS, NAS CIDADES, NAS FAZENDAS
NOVAMENTE NA ANTIGUIDADE.
TODA HISTÓRIA HUMANA..
TIRO, DAMASCO, JERUSALÉM, STALINGRADO
O DONO DE UM BILHETE PREMIADO
O TAXISTA PORTUGUÊS
O PEREGRINO JUDEU
O SAQUEADOR DE DEPÓSITOS
A PUTA DIVORCIADA
O CRIADOR DE PAPAGAIOS
O COLECIONADOR DE ANTIGUIDADES
O ENGENHEIRO DE DILÚVIOS
O ESPECIALISTA
O ESCRAVO POR DÍVIDAS
O COVEIRO
UM DIA COM CHET BAKER
FUMANDO ÓPIO PARA BAIXAR A FEBRE
PROCURANDO LUZ NAS CANETAS NOVAS.
DISPERSO PELO ILÍCITO QUE CIRCULA
domingo, 25 de fevereiro de 2007
- O NAVIO -
WW.
Nada de trégua, bombas de sucção não vencem vazamentos...
O fogo avança pro paiol de pólvora,
atingiram uma das bombas...
Todos acham que estamos afundando.
Sereno, o pequeno capitão, não tem pressa
Não fala alto nem baixo
Seus olhos brilham mais que nossas lanternas.
Deitada e quieta jaz a meia-noite,
Dois cascos imensos imóveis no seio das trevas,
Nosso navio crivado de balas e afundando devagar...
Nos preparamos pra passar
Pro navio que conquistamos.
Capitão Pinheiro no tombadilho superior
Dando ordens com frieza...
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
- A RELVA -
Acredito que voltarei à terra daqui a cinco milênios
Bebendo hidromel numa taça de crânio
Fã de Shastas e Vedas
Batendo o tambor de pele de serpente
Aceitando os evangelhos e crucificados
Ajoelhado na missa
Em transe austero nos bosques
Eu, delirando e espumando em meus surtos de loucura.
Tenho biscoitos pra comer e chá
Vejo o bote chegando.
"Dromedaire Mon Amour"
A salvação..
WW.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
I
By Gibbon 2007
I
Verso Livre/ Norman Rockwell.
“Sol subiu: Trabalho
Sol desceu: Descanso.”
Ezra Pound
As nações todas são mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós
Tenho que viajar, sair
A rotina é a planície de Maratona pela manhã
Repetição, robótica, cansativa
A fuga de casa, silêncio de começo de mundo
Duas e quarenta e três da tarde num hotel imundo em Juazeiro
Sem conforto mas liberto..
Um Renault Clio, um Uno Mille,
Uma Lambreta, uma CG, 125,
Um fusca, um gol, uma bandeirante
É preciso ir por terra
(Novo jato da embraer)
“Q Q tu vai pedir?”
“Uma Coca Light, Por Favor!”
“Você não tinha largado esse vício?!”
“É... Traz uma Bohemia Gelada então”
E agora... Sobre o que escrever?...
( ... )
“Aeromoça, será que a senhora me pode me dar outra Bohemia?”
Hoje é quinta-feira a véspera do descanso
Sexta sábado e Domingo
Zaire Rondônia e Buenos Aires
Nada de livros, só quero ler revistas.
Boca seca, pé imundo, tarde da noite
Nem sinuca nem samba nem cinema
O Prometeu Acorrentado
II
.
Vai Lobato!
Pra escrever um livro é isso:
Joga no papel enrola e acende,
Depois escuta as vizinhas grisalhas nas janelas da Sabará Antiga
Cada dia é uma Pérsia que eu Conquisto
Mas segunda-feira a noite é imperdível, o Programa da Hebe é insuperável. Papo de correr do trabalho e chegar a tempo do programa:
“Hoje temos Negra Li, Marcelo Serrado, Sabrina Sato, Dinho Ouro Preto, Felipe Massa, Latino e Valéria Valença”.
Com a diferença de que não jogo no papel
Fumo direto no cachimbo
Me vêm assim a Assíria & Charlie Parker
A Guerra Civil em Angola & o Êre no programa do Chacrinha
A bacia hidrográfico do Rio Zambeze & o pescador na música de Caymmi
A sacada dos quartos de hotéis baratos & os jovens na tarde de procissão
A linha Vermelha interditada & as fábricas de sabão
Na Velha Havana...
Pudera eu ser o Aníbal da Presidente Vargas
Atravessar a grajaú-jacarepaguá como um soldado de Cartago nos alpes italianos
O Alighieri do Rio Cidade-Estado
Escrever em versos a Avenida Brasil e o Saint John Baptist
O Giotto dos muros da Central do Brasil e Leopoldina
Instaurar o classicismo na Francisco Bicalho.
Os trezentos de Esparta do Complexo...
Dia 2 de Feveireiro
No bearboug, no Bronx, no cais
no Chapéu Mangueira, no Leme,
e eu e eu e eu e eu e eu
sem me perguntar
No Leme
Lá por baixo
guiando a embarcação
Atracando em Óstia sem lanternas
A via Cavour parada para os dois navegadores
Da Gávea, Gregos gritam para Troianos:
“Abandonar o navio!”
Afundando a embarcação, me pergunto: Onde por acaso estariam os Cedros centenários da Fenícia??
Escutando Racionais, acordo e vejo o verão chegar
“Spinning, Ginástica Local, Tae BO, Gap, Musculação,
Step, Yôga, Pilates!
E eu querendo:
“Tragam o colírio para aliviar”
No dia químico do meu hemisfério
Me sonho um James Bond medieval
Servindo Don Lorenzo, o Magnífico
Dia 13 de Março
Recitando Ovídio poeta latino
“A morte próxima num barco mouro em Cadiz”
O poeta em sua última noite.
“ah, que desatino entre os francos e etruscos
Quando passo por entre suas mulheres, que desatino”
Mundo Novo, mais nobre das missões
Caminho como exilado pela Avenida Nossa Senhora de Nazaré o Círio de Belém, até a basílica...
Ergo louvores a santa do Paraíba do Sul e à seus nobres pescadores
Descendo a vida toda até os Saltos de Paulo Afonso
Encontrando debaixo do travesseiro, numa pensão vazia
As escrituras sagradas das sete quedas do Rio Paraná..
Rio Nilo, Noel Rosa da antiguidade
Horda Dourada nas festinhas de formatura
Villas-Boas das boates entupidas
Dom Quixote nas noites de falência
Dom Juan dos sambas e trapaças
Os palcos são anfiteatros e temos que chegar ao Ceilão antes das monções
A lareira de Circe queima a noite toda
Vou baixar todos os programas da Hebe no e-mule
Que ela me evoca as festas antigas nos Montes da Trácia
Me prejudica.
Seus versos são meus passos
E o saque literário é o gênese da poesia.
Moças fodidas e as bestas pesadas de sono
Bares Vazios na esquina do sinal
Festas nos portos perdidos em Macau
Guerras de bestas amansadas, de moças inocentes,
Terras de lenda de dilúvio,
Na hora que rezo pra dormir
Transborda em mim todo o espírito rapace que aniquila impérios
e é sempre involuntário
Sou eu,
o que derruba as muralhas
O que implode os edifícios
O que assusta as crianças
Mato os cachorros que latem
faço arder as avós
Faço arder de tudo...
Todos os livros proibidos...
Faço arder...
Na verdade não faço...
Mando fazer!
.
III
Escrevo de um palácio Minóico
Uma casa Neocolonial com portas de leões de Bronze,
Muralhas de prata maciça
colunas dóricas
E uma capela bizantina.
No chão da capela
Ajoelho e rezo pro Deus cristão
E em sonho antigo de prece atendida
Escrevo num hotel em Nairóbi 1942:
Preso no hotel pelas milícias
Todas as fronteiras encerradas
Parei na cama e decorei as capitais do mundo
Acendo um cigarro, folheio uma revista
E qual é mesmo a capital da Mauritânia???
Palavras impronunciáveis
O tronco lingüístico do Lácio
Guerra Civil
Pai e filho César e Pompeu
“Fireworks”
Grita o dono do Ritz
Hilton, Othon, Marriott, Sheraton, Meridien, Plaza
Arre, Grandes Hotéis de Nova York, Genebra, Viena
De cavalo, tanque, Jipe, Fokker
Serra Leoa Etiópia Costa do Marfim Congo Eritréia
A África Central é um bordel de aventuras militares,
atos de heroísmo imbecil e justificado
de pesadelos coletivos..
Vivos como judeus libertos dos campos na Polônia
Desterrados em nações sem portos
Banqueiros, Corretores, executivos,
Oscilações e boatos no Mercado
Advogados, promotores, juízes
Acumulação de dívidas e cheques pré-datados
Camelôs, contrabandistas e assaltantes
6 parcelas no cartão ou a vista com 20% descontado
Quero um emprego, uma bolsa de estudos
No Cairo, em Bombaim ou em Bogotá
Sou um olmeca faminto nas matas do Tinguá
Se tudo der certo
Parto em peregrinação tonight
Vou beber cachaça
Sozinho ou com quem quiser partir comigo...
IV
Vícios são caros
Quero escrever o poema da história humana
Vícios são caros e vazios
Cantar em versos os desvarios e desgraças
Vícios são tudo
O frio assassino das terras do ártico
A noite calada dos desertos de pedra
O acender um cigarro quando a polícia passa
Vivem na confusão que sou
todos os gladiadores, assaltantes e profetas
Meu bom-senso é um anfiteatro lotado
Cercado por ursos pardos da Sibéria
Como numa transformação
Empurro todos que estão a minha frente
E a escada monumental que leva ao alto das muralhas
é todo o tempo que me resta
Os homens que caem, agonizando nos ferros e estilhaços
Aguardam em desespero a salvação final
Mato todos que estão a minha frente
Os vícios são caros e perigosos
Incendiar palácios
Derrubar estátuas
profanar templos de deuses pagãos
A manhã seguinte ao saque se torna a mais cansativa
Derrubar paredes com marretas,
arrancar dos tetos as telhas de bronze,
executar, julgar, prender, soltar, cair
Vícios são Bons companheiros
Me toma de assalto uma espontaneidade Viking
Quero queimar, queimar, quebrar e furar
e nada de fundar dinastias, produzir herdeiros.
Almejo ser um rei Vândalo
Derrubando muralhas de cidades virgens ao saque
Conquistar Egitos em semanas sem sol
Ser aclamado libertador nas novas repúblicas
Agora, a partir de ontem
Me declaro homem-santo
Os vícios devoram os homens
E tudo que sobra em mim
é a guerra.
V
Onde está o mundo das preces sinceras na província??
Onde fica essa realidade das eras geológicas??
Que fazer de um corpo que é um só?
Sou uma pedra portuguesa jogada na sarjeta
E saúdo a Deus o grande absurdo do mundo
Vivo um profeta Sumério
E escrevo em versos o futuro
Por onde quer que eu atravesse
Estamos sempre procurando abrigo.
Rio de Janeiro começa tudo de novo
“A vida é uma grande feira
E tudo são barracas e saltimbancos
Todos os lugares são o mesmo lugar
Todas as terras são as mesmas
Toda manhã que raia,
Raia sempre no mesmo lugar
Chove muito, chove excessivamente...
Chove
E de vez em quando faz um vento frio...
Estou triste, muito triste,
Triste como se o dia fosse eu”
A.C. 10/12
Subitamente uma febre me toma
lamento não ter estudado mais no passado
Hoje, quero ser puro como um monge tibetano
Levar minhas letras aos cedros do líbano
às palafitas de Belém
Ensinar a mitologia aos povos
Riachuelo, Maracanã
Mudando de estação no Estácio
A milícia embaixo do colchão faz vigília
Legionário, Hoplita, Hussardo
Sou o negro João Cândido a bombardear essa porra de cidade maravilhosa
Era eu, abrindo as portas
Era eu
Pichei muros a vida inteira
E isso nunca foi sem razão
Mas por que faço não sei
Sinto as pernas cansadas
Já não canto e danço como outrora
Na linha vermelha
Atravessando o caju
A guerra é real pra toda mãe
De pixinguinha e Villa-Lobos ao Pagode com churrasco na Vila
“Skol 1 real!!!!”
E assim é a vida
Arregaçar as mangas
E cavar, cavar e cavar
Até encontrar o ouro no fundo
Luz e trevas nos charcos de Jequié
O trem apita em Corumbá madruga
Maré cheia em Mangue Seco venta
A chuva desaba e tudo é água
Sem-Terras Invadem a fazenda do Senador no Alagoas
Piratas, movidos a ópio, manobram 30º para oeste
Franceses abrem fogo contra a vila de Santos
No forte distante, do Morro de São Paulo,
O vigia dorme.
São corvetas, escunas, saveiros,
São traineiras, lanchas, galeras
Amanhã,
Devo vender a casa
Doar os móveis
Ir pra algum lugar longe na Serra
Quem me dera, fossem todos os rios o Madeira
Fossem todas as baías ignoradas
Fossem todas as coisas areia
Oro pelos que migram
Pelos que vivem da terra
Rezo pelos quartos amarelos,
pelos papéis de parede
Pelos que me fascinam
Penso em ti no silêncio
E será o dia:
Você sorrindo à minha alma
Por fim
Abandono devaneios
Romantismos
Mato todos em volta
Conquistamos a muralha nesse meio tempo
Com um sorriso maligno
Levanto o estandarte da vitória
e sou atingido por flechas mortais
Morro pra dizer o que é renascer
Esse é o sistema do Universo
Subo as Agulhas Negras
E espero ser chamado de volta
Penso nos otomanos e em todos os povos das estepes
Nas pedras imensas da arquitetura Inca
Nas línguas esquecidas pelas ilhas do Pacífico
Nas epidemias, pestes e massacres
A conquista da Índia
As guerrilhas no Hindu Kush
As agressões no Moçambique português
Me enjoa esse cigarro de menta
Mas é a droga que eu disponho
Na ficção moram todos os meus êxitos
Amo samba jazz e música cubana
Velas, óleo de cozinha, gasolina e óleo dois tempos,
minha lista de compras...
VI
I
Aqui renascem as palavras
O dia triste já finda a esta hora
Passo a terceira marcha
e os sinais estão todos fechados
Penso nos meus gastos, bem maiores que os rendimentos
Penso nos fundos de investimentos, nas taxas de juros,
Nas alíquotas do Imposto de renda, na flutuação do dólar,
nas metas de superávit, na política cambial, na queda da bolsa de Xangai
Tudo números
E dizem que pessoas de alta competência
devem estar cuidando para que tudo dê certo
- Britânicos torturam traficantes de ópio nos estaleiros de Basra
- As tropas da Frente Etíope de Libertação já ocupam posições importantes nos subúrbios de Mogadíscio
- A China cresce 10,9% em dois mil e seis e as importações aumentam 72%
Tribunais, Liminares, Hábeas-Corpus
Mandados, Varas, Notificações, Inquéritos
Reconhecimento de firma, Júri, procuradores, detetives
Banco dos réus, defensores públicos, sentenças, apelações, instâncias...
Arrumo as malas e parto no Costa Fortuna para Ilha Bela
Ninguém mais acredita naquele, meu bom General!
Só nos resta o Rei
O inimigo avança pelas trilhas entre as montanhas
Temos que recuar
São Petesburgo: duzentos mil russos
- U-BOATS – V–2 – AK-47 – M-16 – RPG 7 -
- PANZER – CHINOOK –
- KRUPP – LITTLE BOY – ENOLA GAY –
Trincheiras no Marne,
Franco-atiradores em Sarajevo
Desastre em Gaugamelos
Indenizações do pacto de Versalhes
Campos sombrios da Alemanha oriental
- HIDROGÊNIO –
Restaurantes abrem aos domingos e feriados
Bancos fecham às
Espera um pouco
Deixa eu acender...
O fósforo ta um pouco molhado...
Pronto.
II
Me tele transporto.
Tenho no meu camarote a viola caipira dos rancheiros
E todo ouro e diamante que trago do Arraial
Entre Vera Cruz e Londres
Descanso vinte e quatro horas nas selvas do Pantanal
Tesouros trancados nas cavernas da Bahia
Monto minha própria frota em Trafalgar
Coleciono borboletas nas horas vagas
Escrevo Romances Históricos depois da Meia-Noite
E nem em Harvard aprenderia o que essa cidade me ensina
Nesse exato instante
Morre o prisioneiro uzbeque que aguardava julgamento em Guantánamo
Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, Apollinaire...
Não li porra nenhuma
Dormia numa sinagoga em Gibraltar e fingia ser Judeu
Quando o rabino virou de costas,
roubei os saquinhos de açúcar e adoçante e enfiei nos bolsos.
Uma luz brilhava nos rochedos de Ceuta...
Imigrantes Argelinos atravessando pra Espanha...
Quero ir pra casa
Meu mundo não é de Oceanos
Sou o da vereda solitária
Do boi e da carroça
A estrela auto-existente amarela.
Um Ostrogodo que canta Bossa Nova
- Em7(9) C7M Am7(9) D7(13) G7M -
VII
Morreu numa quinta feira executado, após sobreviver à batalha de Maratona e ser considerado desertor.
Enterrado junto a seu cavalo, descansou três noites e partiu numa balsa para as águas do Ocidente. Foi viver entre os Hunos e Alamanos, passando anos desaparecido, a saquear e incendiar cidades.
Séculos depois em Constantinopla encontrou a Morte outra vez e teve que mudar seu nome para despistá-la.
Deus do Sal e dos sitiados, morria todas as décadas nos campos da Rússia e da Itália e vivo ou morto sempre foi e será o Deus dos que defendem muralhas.
- QUESTIONÁRIO -
- Em qual dos lugares abaixo você escolheria viver:
[ ] GRANDE LAGO DO URSO BRANCO
[ ] LAGO BAIKAL
[ ] RIO LENA
[ ] DESERTO DE GOBI
[ ] GROENLÂNDIA
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
- A FUGA -
Numa obscura clarividência noturna, decidiu fugir anônimo para a Europa e passou a juntar dinheiro escondido de seus oficiais
- VALES DO SÃO FRANCISCO -
O objetivo de Pinheiro era capturar as minas de diamante da Serra do Sincorá, avançando sem resistência pelos cânions do São Francisco.
- FÁBRICAS DE SABÃO -
Carleto argumentava que a industrialização era a única base para o verdadeiro Carletismo. Porém as indústrias existentes na Bahia, pequenas fábricas de cimento, vidro, papel, tinta, sabão, panos e velas de cera estavam completamente devastadas pela década de guerra.
Capitão Pinheiro, o comandante militar das tropas do ocidente, enviava cartas diárias,
- A CARTA -
Lhe atormentava a idéia da derrota, aquela resistência enfurecia-o:
“Deixe-me ver a carta Lobato”
A noite não conseguiu dormir, contava de um a cem e dobrava o dedo mindinho; contava de cem a duzentos e dobrava o seu vizinho; assim por diante, até completar mil e ter as duas mãos fechadas. Lá de cima escutava os tiros distantes e as descargas de artilharia.
- O MAUSOLÉU -
No topo da serra ergueram um enorme mausoléu de mármore branco; e Carleto ordenou a execução de todos os envolvidos na obra, para que ninguém soubesse ao certo a localização de sua sepultura. Mesmo depois desse episódio, o Marechal se declarou morto diversas vezes e numa ocasião teve a oportunidade de acompanhar disfarçado, seu próprio funeral.
Quando seu navio foi afundado perto de Ilhéus, Carleto desapareceu por muitos dias e foi encontrado nadando perto de Corumbau.
- A PREFEITURA -
Na noite do natal, ele entrou na prefeitura da cidade com pouco mais de duzentos homens e caiu sobre o tapete vermelho do gabinete do Alcaide; saqueado, sem cortinas, móveis ou lâmpadas;
Lá permaneceu deitado até a semana anterior ao carnaval, quando apareceu pela primeira vez em público aquele ano, e foi ovacionado pela multidão numa cidade que já estava praticamente reconstruída e onde marchavam agora seus regimentos de crianças, velhos e adolescentes.
- O BANQUETE -
Apresentava agora seus discursos no feriado nacional, num suntuoso cerimonial que exauria os cofres públicos com seus bordados de ouro, guardanapos de linho, talheres de prata e com as enormes variedades de vinhos, peixes e assados.
- A FEBRE -
CARLETO FUNDA O MAIOR JARDIM ZOOLÓGICO DA REGIÃO E ENCOMENDA QUATRO ELEFANTES INDIANOS.
Curado da febre da papoula, retirou-se para sua fazenda em Jequié e transferiu todos os ministérios e repartições públicas para a região. Vivia como um imperador e reinava absoluto sobre todas as terras compreendidas entre o São Francisco e o Oceano Atlântico. Seus cozinheiros eram franceses, seus alfaiates italianos e muitas de suas concubinas tinham sido trazidas do Rio de Janeiro.
- O QUADRADO -
“Marechal, é melhor procurarmos um lugar mais seguro para senhor” Uma tempestade se anunciava...
- O SANTO SEPULCRO -
A BAHIA DE SAUDADES HÁ DE CLAMAR: CARLETO!
Com suas insígnias de Barão de Caraíva, Carleto abriu caminho por entre as ruínas de Trancoso e foi o primeiro a adentrar os restos da igreja colonial.
- O INCÊNDIO -
Nada como depois da confusão do milagre na planície ensangüentada em que os vencedores se tornam fuga e abandonam para sempre as pastagens do sul. Nos mangues ao sul de Caravelas Carleto desistiu do avanço, evacuou a cidade e a incendiou junto com seus fantasmas.
- O ANCIÃO SOB A PEDRA -
Encontraram aquele ancião branco, curvado sob uma pedra nas profundezas da selva da Bahia; Estava imerso numa velhice tão avançada que lembrava histórias do século retrasado e já era muito idoso quando todos os avós eram crianças.
Vivia naquela posição há décadas e podia caçar sem tirar os pés do chão. Amigo da morte, comia carne crua e nos dias de chuva acendia uma luz fininha e seu cachimbo fumegava até o amanhecer.
Tentaram retira-lo dali algumas vezes, mas estava de tal modo agarrado a terra que se quisessem levá-lo dali teriam de levar junto a rocha imensa sob a qual ele morava.
Questionado sobre sua procedência, falou num português antigo; e hesitante repetiu umas poucas palavras da língua nova como quem fala um idioma estrangeiro.
Marechal Carleto Gaspar 1841
