terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

II


O ATLÂNTICO À ESQUERDA


TRAZENDO NA MALA ESSA COLETÂNEA DE POEMAS

VOAR SOBRE O CANAL DO PANAMÁ
VER POR TERRA UM MAR QUE FOGE PRO OUTRO
ANJOS DEVORADORES OS OCEANOS
LIGANDO MICRÓBIOS E HECATOMBES

RESSOA O GRITO ANTIGO DOS GUERREIROS IMPLUMADOS

DO AÇO A DESTROÇAR AS LANÇAS DE LÁPIS-LAZULI
AS ACHAS DE OBSIDIANA

AS FACAS DE SÍLEX
OS MONGES NAS CATEDRAIS E SACERDOTES NAS PIRÂMIDES

CHITZEN-ITZA PALENQUE TIKAL UXMAL

GRIPADOS DE BOLHAS E MANCHAS PELO CORPO

COCEIRAS E FERIDAS NAS TRIBOS OCIDENTAIS

AS CASCAS DOS HOMENS DE CASTELA
PRA OESTE DAS MOLUCAS E ARÁBIAS

DESDE AS MATAS ESCURAS ACIMA DE VERA CRUZ
ATÉ AS ÁGUAS TRANSPARENTES DAS ANTILHAS HOLANDESAS
EPIDEMIAS, TÚMULOS DE ALDEIAS EM RUÍNAS

TARDES DE BALSAS LENTAS E LAGOSTAS MORTAS


À MESA COM FOME E CANSADO

DESCREVO PAISAGENS ANTES DA JANTA

ARRE ESTADOS DE SÍTIO, CALAMIDADES DA GUERRA,

CIDADES ABANDONADAS


RODES, MALTA E SIRACUSA

PULANDO O CARNAVAL DE VENEZIA DE BRAÇO ENFAIXADO

ENTRE DIAMANTINA, RECIFE E MONTEVIDÉU

UM RESTO DE CAFÉ NO COPO E O CIGARRO QUEIMANDO


ROMA, PENSAVAM OS HOMENS,

JAMAIS TERIA SEUS PRÉDIOS DE MÁRMORE INCENDIADOS

OS GERMANOS DE CUJAS CIDADES NEM SABEMOS OS NOMES

NÃO REFLETIAM MUITO SOBRE AS COISAS...

ERAM BÁRBAROS PORCOS E SANGUINÁRIOS..

NÃO ESCREVIAM SEUS NOMES

NÃO TINHAM LITERATURA

APENAS SE ENFASTIAVAM DE CARNE CRUA E TRIGO FERMENTADO...


PLANEJAVAM ASSALTOS...


MINHAS TROPAS SÃO COMO HUNOS

ATRAVESSAM COMO FOGO AS PAISAGENS

O MUNDO É CINZA POR NOSSOS CAMINHOS

“FECHEM AS PORTAS, TRANQUEM AS JANELAS E GUARDEM BEM SUAS CRIANÇAS!”


e tu...


GUARDA CONSIGO, QUERIDA, O BANCO DAS PRAÇAS PEQUENAS!

NÍNIVE A PÉROLA DO ORIENTE

NAS SAGRADAS LETRAS DE TUA GRAÇA

SE ORDENE O TEMPO DE MINHAS PALAVRAS

A UM DIA DE VANTAGEM, FELIZ, NO TOPO DA SERRA AO SEU LADO


Ó LINDA ADÉLIA PRADO:

“NEM BEM CHEGOU, FOI DIZENDO, OS OLHOS FIXOS EM MIM:

MINHA VIDA DÁ ROMANCE SEU CARLOS”.


ANOTANDO OS COMPROMISSOS NAS NOTAS DE SUPERMERCADO

A BOLSA UMA BAGUNÇA DE PAPÉIS AMASSADOS, CIGARROS RASGADOS E VIDROS DE PERFUME

ERA A PRIMEIRA VEZ QUE CANTAVA NUM TEATRO DAQUELA IMPORTÂNCIA


PRESO NO MUNDO ANTIGO IGUAL O MODERNO

NU NO QUE ME FAZ UM HOMEM BELICOSO

HELENA, A PUTA INSENSATA DAS PRAIAS DE HOMERO

O ÊXITO INQUESTIONÁVEL DOS DEUSES DA GRÉCIA CONTINENTAL


MAS É INÚTIL FALAR

NÍNGUEM COMPREENDE OUTRO TEMPO

O HISTORIADOR É SEMPRE UM DISSIMULADO

A HISTÓRIA SEMPRE FICÇÃO

DESDE ERAS DE IMEMORIAL COBIÇA

O MUNDO É FEITO PROSTITUTA

E O BÁRBARO É SEMPRE O IMPÉRIO

NO COMEÇO ERA O SANGUE NO CORPO VIVO DO CRISTO

HOJE É NAS RUAS, NAS CIDADES, NAS FAZENDAS

NOVAMENTE NA ANTIGUIDADE.

TODA HISTÓRIA HUMANA..

TIRO, DAMASCO, JERUSALÉM, STALINGRADO

O DONO DE UM BILHETE PREMIADO

O TAXISTA PORTUGUÊS

O PEREGRINO JUDEU

O SAQUEADOR DE DEPÓSITOS

A PUTA DIVORCIADA

O CRIADOR DE PAPAGAIOS

O COLECIONADOR DE ANTIGUIDADES

O ENGENHEIRO DE DILÚVIOS

O ESPECIALISTA EM FEBRES TROPICAIS

O ESCRAVO POR DÍVIDAS


O COVEIRO


UM DIA COM CHET BAKER

FUMANDO ÓPIO PARA BAIXAR A FEBRE

PROCURANDO LUZ NAS CANETAS NOVAS.

DISPERSO PELO ILÍCITO QUE CIRCULA EM MINHAS VEIAS *






Um comentário:

demian jacob disse...

porra fera, gostei muito... vamo fazer um roteiro para um filme...

Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841