sexta-feira, 30 de março de 2007

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Século oitavo Xenofonte me conta contos de Bocaccio:

Ruelas tortuosas da Europa medieval

Umas 15 mil embarcações nos portos do rio amarelo

Uma dependente de heroína vive um drama de amor nas Malvinas,

Porcelanas Ming estraçalhadas no mapa

Ferrovias no Punjab com tijolos de Harapa


Mercadores de Veneza no Mar Cáspio

Suposto local de sepultamento dos reis magos na Pérsia,

Casamento de crianças mortas.

Queimadas efígies de escravos,

Dinheiro e objetos domésticos

Vastos salões e halls deixados.


Embora soubesse das intenções dos mongóis de invadir o Japão,

ditado a um certo Rustichello, em uma prisão de Gênova, em 1298.

Despojados de suas ambições e de suas vidas.

A léguas e léguas de pestilência, desolação e morte.

A península itálica

já não cabia mais entre os limites das muralhas e o vale


Perigosas viagens que duravam anos,

Enfrentando estepes e terras inexatas

Os covis das feras, sepulcros de passaros tártaros

Vidros, cristais, uvas, Romas, camelos, Pavões.

No extremo mais ocidental da Grande Muralha.

As fachachas de magma dos vastos desertos de Gobi e a cordilheira


Desde o final da dinastia Tang até início da dinastia de Cinco Períodos

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terça-feira, 27 de março de 2007

- SÃO -


São


Calais

Cavaleiros teutônicos

Hanseáticos

Bálticos

Náuticos


São


Toulouse

Moribundos Pneumônicos

Asiáticos

Estáticos

Trágicos


São


Perpignan

Gueixas queixas deixas que estejas

Em paz

Vejas cerejas bandejas na mesa

De Champollion


Lion

Corteja o imperfeito

Acalma a berraria


Tudo é raro um tanto um jeito

Na Crônica vazia


Dialetos de Bordas Recheadas

Amuletos embrulhados em pano de seda

Qualquer verso que não seja mera repetição de um outro poema




sábado, 24 de março de 2007

- Para Nelson Pereira dos Santos -


Minha infância, Fortaleza
Meu alimento, minha presa
À distância, sem firmeza
Gentileza não esqueça por hoje a limpeza
porque a esperteza convexa preza por mais tristeza
Sisudeza esqueça a natureza a pobreza
que com certeza sua beleza e nobreza
é alteza
Para pegar uma japonesa baronesa da empresa da mesa inglesa burguesa
Princesa Dinamarquesa
Observo...

Deplorável Inafiançável Inflável
Bonecos Marvel
Descarto o parto no quarto do lagarto
e aparto o enfarto

Essa Algazarra essa marra
que farra bizarra
alcaparra
que fanfarra

Gambiarra esbarra e escarra
Desgarra da jarra e narra com garra
a barra da cigarra

Esparta descarta a lagarta na quarta.
Farta carta guarda a bombarda vanguarda de Marta

Reza pra ter preza
Reveza com justeza
Enfeza embeleza a brabeza

distância não põe mesa
Que venha a Correnteza!

By Ero & Gand 03/2007

terça-feira, 6 de março de 2007

- CARTA A MEUS FILHOS -

- I -


( SOB EFEITO DE BEBIDAS FERMENTADAS)

A estrada acaba aqui

Daqui pra frente só areia e pedra

Encurralados na santidade de um homem que foi à Meca

O deserto desaparece

Atraca a Mercedes Benz em um antigo castelo


Arquipélago de crises essa década

Desertos, Tomahawks, aviões evacuados

Adeus Icebergs, Adeus Grandes Geleiras

Adeus Terras brancas do Kilimanjaro

Adeus Grande Barreira de Corais

Adeus baixios do Rio Paraguai


O Uirapuru cala,

Villa Lobos faz aniversário

O Tiê Sangue cadê?

Papagaios que nossos avós avistaram...


Se Deus autoriza, eu afundo tudo que é baixo

Faço ilha das favelas

Federação de Cidades-estado


Caminho pelo leito seco do oceano

Em plano declive

Alcanço a pé as Cagarras

Fumo um Cohiba no mirante das Fossas Abissais

Quero uma cruz de pedra na praia lá no fundo

Quero uma Colônia de Férias


Rio de Janeiro 2007 Férias Findadas

Pastelarias chinesas da Voluntárias da Pátria

Morenas de saia curta na Conde de Bonfim

Lançamentos piratas na Avenida Copacabana

Trânsito na Jardim Botânico passando o Parque Lage


Burburinho noturno nos bares da Farani

Blitz na entrada de São Cristóvão, perto da estação

Baderna Tiros Correria Flamengo Campeão

Não posso viajar por hoje, estou sem Money


Avenida Brasil, Espinha Dorsal da Urbe

Pescadores de Domingo na Perimetral

Ciência ancestral dos tumultos

Turba


Acordos informais na FioCruz Manguinhos

O Russinho,cara de pau na Central, acende um baseado no vagão

O Paisana com a esposa na prainha, finge que não vê nada

Arre rodízios de pizza, japonês, churrasco, crepes, Self service

Manga cacau açaí morango Laranja Umbu

Arre motéis casas de samba Itaipava Itacoatiaras


Saio pra cortar o cabelo

Peço pra só aparar, saio revoltado, sorrindo

Finjo que gostei


Paro pra comer na Lapa Rua Gomes Freire

Carne assada com arroz no Carioquinha

Seu Antônio faz questão que eu não pague...

De forma alguma, Seu Antônio...


Panelas descansam no restaurante de expediente encerrado

O cozinheiro de calça jeans sem uniforme fuma

O telefone mudo, já não desperta a jovenzinha exausta

Os bêbados dormem roncos na vidraça


O som das ruas cariocas

O blábláblá das britadeiras

Os guardadores de carro por toda parte

Os Cretinos Os desalmados

Serrando mármore às oito horas da manhã

Redução de marcha no Circular

Quitanda, circo e Colômbia nos Sinais de Trânsito

O carro entra sem ligar a seta

O Outro vai na esquerda a trinta por hora

O guarda olha rezando para que estejam errados


Um córrego cinzento brota do asfalto

Fontes termais num romance Tcheco

Organizadas nas arquibancadas dos estádios

Facções no circo em Constantinopla

Todo torcedor um Visigodo

Medellín-Rio 1993

De tanto espirrar e coçar os olhos

Adormeço no Bus


Grande apresentação de uma companhia teatral espanhola no Scala

Concreto aço e vidro: o Edifício Central Softwares e Gigas piratas

Brutalidade e solidão no apartamento dois quartos na Glória

O interfone não funciona faz dois meses...


Companhias de abastecimento, provedores de internet,

Concessionárias de pedágio, operadoras de celular...

Fios roubados, números clonados

Contas devassadas, golpes, canos estourados

Infiltrações no vizinho de cima

Reunião de Condomínio, advertências,

Porteiros, garçons de má vontade...


De um esplêndido apartamento na Barra da Tijuca

Ele contabiliza seus lucros

Ações da Vale Submarino

Aracruz e Embraer


Promovido na empresa, o salário é sete mil e trezentos reais

mais plano de saúde

A parcela do carro é mil e seiscentos

A conta do celular dá uns trezentos e cinqüenta

O seguro é três e quatrocentos à vista

O aluguel vale dois e duzentos


Comprou um aparelho de DVD portátil

Um Notebook dividido em dez vezes

E um celular com câmera e filmadora


Já tinha uma máquina humilde 6.2 megapixels

Dois cards de 512 Mega


Ainda não tem um I-pod

Assim que comprar um,

Vai voltar a correr e malhar


O Banco, diante da promoção do rapaz

E de sua renda superior a dez salários mínimos,

Aumentou seu cheque especial para dois mil reais

Os juros são os melhores do mercado

Você contabiliza Lucros


As declarações do Presidente do Federal Reserve

Apavoram os investidores

Crise no mercado imobiliário norte-americano,

Excesso de liquidez, correções, reajustes...

Ele realiza

Resgata seus investimentos

É hora de levar a vida a sério

Sem riscos demasiados sem aventuras

Aplicações integrais em Fundo de Renda Fixa


Converso com os amigos

Temos projetos, futuro e talento

Temos munição suprimentos

Olhos negros e claros

Temos juventude


Feito pureza de criança que dorme...




- II -


Aqui essa noite de março em Juiz de Fora

Imprimo hieróglifos no papel timbrado...

Cabe aos descendentes ler o que lhes foi guardado


Um cão,

A arma,

Um lugar seguro pra passar a noite

Sozinho em alguma mata fechada das serras


Só.


Escrevo uma extensa carta para um filho desaparecido

Deixo notícias pros que não sabem o meu nome

Idéias vêm e desaparecem com o espetáculo de vaga-lumes

Milícias de Nassau tomam a vila Lusitana


Cavernas ocultas do Jalapão

Barrancos de argila no Tapajós

Enseadas perdidas na Rio-Santos

Ausência dos mapas

Rios sem nome


Tomados pela febres

Sem poder roubar galinhas

Sem ter mais utilidade


Capturados.


Meu exército de Búfalos montados

Búfalos de duas toneladas

A Bufálaria do baixo Amazonas

E cada um dos caboclos grita a terra de seus ancestrais

Sou do Juruá

Sou doTrombetas

Sou do Xingu

Sou do Rio Negro

Sou do Araguaia

Eu sou aqui de Marajó...


Se faço a guerra, o faço por natureza

e não por lei ou ideal

Correria atrás de índios na floresta

Repúblicas de Negros livres nos sertões do Maranhão

Pergaminhos da lei queimados no meu escritório em Lençóis

A geografia triangular de Salvador

Constantinopla dos trópicos

Tudo cercado com Muralhas de rocha!!!


Foi tarde que eu percebi

Que o vosso mundo ainda é longe

Desterrados os que não sabem de Xangô Iemanjá

Os marinheiros que próximos de ti passaram ao largo

Oxossi, Iansã, Obá


Almoçar em Montes Claros não custou tão caro

Um prato servido a quatro reais com refresco;

Lanchar em Caxambu no Parque das águas é de graça...

Domingo não se paga entrada;

Cerveja gelada no bar à noite em Jericoaquara

Beira do mar, o crooner toca Oceano.

Grande Bordel que é a vida


Encontrando suas amantes em pensões imundas de Recife

Onde moscas Gordas e verdes picam todos os hóspedes

Onde os Galos e coelhos da Dona Branca cagam todo o corredor

Onde a gritaria é cerimônia

Seu Carneirinho está de fora

Freta barcos em Porto de Galinhas

Anunciando a tempestade o vento que vem de Sudoeste

Ele vai pra casa mais cedo esse dia


Tenho um segredo guardado nas mãos

Glória em Copacabana em 2007 é ganhar no Amazônia King

Pego meu taco de sinuca e ponho a ficha na mesa

Meu jogo é esse! Só dou porradão!

Se ganho, é na fé e na cagada

Esse é meu segredo

E sempre ganho...


Volto pra casa num executivo da São Geraldo

“Bem-vindos ao Rio de janeiro. Rodoviária Novo Rio.”

Mal estar na Zona Portuária

Do Olimpo ao Hades, Via Governador Valadares

Franca decadência das Terras do Paraíba


Ipê Amarelo, Jacarandá

Tabebuia Pau-Mulato

Embaúba...


C7M Am7/11 Dm7 G7M/9 Am7/9


Como um espírito de revolta

Que retorna ao seu velho castelo demolido

De mãos lavadas

Chego ao Aeroporto Antônio Carlos Jobim

A linha Vermelha não me dá Boas Vindas

“Jogue suas botas ao chão forasteiro.

Delicie-se no vinho do inferno!!!”

Diz o Policial na revista


Fumo um hollywood Verde e fico calado

A espera...


Na mala do taxi

O chapéu esquecido

O casaco roubado

O livro emprestado

Uma canção Eslava da Abissínia...


A espera, acendo outro cigarro


Sigo esperando...


Parado ...


E não há o que fazer senão fumar mais um...


sábado, 3 de março de 2007

- CANÇÃO ESLAVA -


Isso sim é uma canção eslava

Compilação de antigas cantigas

Trancado num mausoléu

Cercado de crânios

Em Bukhara não me protege a bandeira jesuíta

Os relógios caseiros são como nos bálcãs

Inexistem


Divas no fundo do vale do mundo

Avós tristes

Derradeiras Cordilheiras

A paz da mulher grávida está de luto

Jamais me levem aos penhascos

Ainda sonho estar na fronteira


Marcado pelos traços do cárcere

Quero saber o crime que os levou aquele lugar

Um senhor de idade avançada alerta

É vedado aos presos cerrar os olhos

Bem desagradáveis certas paisagens

Em minha face gravados serros vulcões


Arauto das Civilizações Equatoriais

Escondido em ânforas pelos quartos

Fogos de artifício dos feriados babilônicos

Lido nas salas de Códices pré-colombianos

Manuscritos de papoulas

Fósforos do Hotel Varadero


A guerra me chamou

Balas de revólver

Cavidades dos órgãos melancólicos

Mensageiros que não dizem a verdade

A manhã toda olhamos ao redor da Fortaleza

Sem reforços, quem virá nos salvar?

Um deus Negro ou um Deus Bárbaro?


Tesouro árido dos séculos

Palavras, credos, farmácias

O brando deleite dos órgãos sexuais

Vagões reservados, embriaguez e olvido.

O artista durante a tarde esboçava

Um ex-capitão da marinha mercante

Com as duas mãos rudes cruzadas sobre o colo


Amante dos mares azulados e das longas travessias

Pensava ser um delírio mercenário

Uma delicada euforia dos meus vinte e dois anos

Whitman tece conselhos

Transformado em qualquer presença ou verdade humana

Vou para a fronteira cruzando os charcos e alagadiços do Mato Grosso do Sul

Como explicar meus dentes brancos num pântano de desdentados?


Viúvas insones me observam desconfiadas

A terra não é árida mas o sono o é

Centelhas de brilho mais ao norte em Manaus


Estou de passagem pela noite
Provérbios da língua portuguesa

Riqueza maior que as Avenidas de Manhattan

Na Infantaria aprendi a hierarquia, as listras, medalhas

Indicações...

Nos morros de nossa cidade

As grandes leis são cumpridas e acatadas sem discussão

Não creio que dure...


Mato a aula de literatura e mergulho no mar para estudar

Eterno equilíbrio inacessível da vida acadêmica

Paradoxos da curiosidade, antítese dos planos

Mística é a vida e a Guerra

Estoques, depósitos, transporte

Poetas, dicionários, enciclopédias, guias, ensaios

Necessito de suprimentos para meus poemas

Dependendo a distância que estou, não me alcançam


Acampo junto à fogueira no Parque Nacional

É dezembro na Bahia, Monte Pascoal, Caraíva

Um grande campo de batalhas onde logo entraremos em ação

Na terceira noite avançamos nossas tropas sobre o Forró

Era um belo início de verão

Lá pelas tantas entregaram as armas e renderam-se


Com a Bahia e portas secretas

Tenho uma curiosa sensação de identidade

Com o barco de pesca, o quarto do beliche

O Livro na estante, o anel nos dedos

Brisa soprando e ela dormindo de dia

Chopin Wagner Albinoni

Badalar de sinos barrocos

Baden Chico Jacob

Súbita iluminação de afeto

Tudo que eu jogo no cesto

Se cair certo ela me ama


Tapeçarias do palácio de inverno

A dança ao redor do fogo

A música infinita de Antônio Brasileiro

Versos de estudante que precisam ser guardados para a velhice

O jovem latino pensando em Constantinopla

Divina experiência de ser vivo

Na metade do caminho, os vinte anos já passaram



Apenas a vida do homem sabe o que é sexta feira

Rezar, rezar, rezar

A prática tem que se repetir

A guia de iemanjá

O terço italiano

As pequenas estátuas do Buda

Os cristais quebrados da Chapada

Só a fé salva nesse mundo

Ergo meus olhos sobre o céu escurecido

E é o amor e a paz que desejo


Madrugada, silêncio nas águas

Se o navios de papel e os barcos não voltarem

Eu apago as velas


O assombro corre meu corpo como orgasmo

Agora no Rio Paris Roma ou Salvador

Tremulam bandeiras nas pocilgas, escolas igrejas e mansões

Tudo se dissipa engolido pelo escuro da guerra

E até o cheiro de limão que não se larga dessa terra

Escorre em valas cheias de mato e lamaçais

Guerras de desencontradas paixões

O inferno que se repete e é apenas o ensaio


As mães choram sozinhas

Varandas sem vista, cadeiras quebradas

História desgraçada essa da imundície humana

É tal o horror que desses nossos hemisférios emana

Que aqueles lumes vivos ainda reluzindo

Ficam vagos, fugitivos



A selvageria dos cruzados

Fez da fortuna de Clio uma tristeza

Mercadores Venezianos que Borges descrevia

Rebanho de olhos turvos, crueza

Esquecida sua antiga imagem, ó menino Jesus

E aqueles lobos vorazes

Prontos a incendiar qualquer pastagem

“Socorro Roma, Grande Capital!!!”

“Quanta riqueza aqui vos espera”

Mas é gente humana que já se desvia

Ardendo todos na mais profunda esfera

Nos últimos círculos das torturas Dantescas.


Gloriosa alma que se fala

Perdida quinhentos anos antes de Platão viver

De onde tirou essa alma Homero?

Pra onde foi Virgílio,

Obra inacabada, sempre renascida

As luzes triunfantes de uma Roma Imperial.


Néctar dos deuses, Hidromel...

Trocados pelo sem gosto da hóstia

Nascido nos Mosteiros do Monte Athos

Aprendido nas liturgias da igreja ortodoxa

Conhecedor de Tucídides e Heródoto

Como aquele que chega na festa

E não conhece a ninguém


Escrever sempre com sono

Nutrir esperanças de ser grande antes de se deitar

Oscilar entre a religião e a psicanálise

Em Arraial D’ajuda tocando a marcha fúnebre de um irmão

Pra quem vivia de música aquilo era desvario


Paisagens imensas botes pequenos

Perdidos como náufragos em algum lugar sem terra a vista

Milton Nascimento, ao lado me sussura:

“Se engrandece pela fé que os vôos da arte são mais baixos”


Êêê tempo apressado quando se está contente

Sobre as muralhas de Cartagena eu te lia um poema do amigo Pedro

Entusiasmado você me perguntava:

“Você também é do Leme?”

Reservado, eu explicava que tinha nascido Lido,mas meu espírito era Leme e tal

E ele fingia não ligar pra esses detalhes

“É, Lido é leme praticamente”

E propunha uma cerveja no ambulante torcedor do Colo Colo


Na estrada de Alfenas uma casa abandonada

A estrada inacessível, remota

Perdida como todas as estrelas...

Mas aquela imagem dizia alguma coisa

Sim...

Passado de gente morta

Carregaste aquela casa de recordação

De alma de gente que não tem pra onde ir

Voz suave que ecoa das ruínas

Aliviai teu pranto, tristeza das flores arrancadas


Cansaço de quem dorme sobressaltado

A vida sem festas é um longo caminho sem hospedaria


Me sinto um cano perdido nas entranhas de um grande edifício

Após Camões não se pode ser nada

Tímidas missões dos navegadores antigos

Feitos menores de povos do passado

Abençoadas cidades da lusitânia

Vocês, nessa faixa estreita de terra

Ofuscando os orientes


Defino com o fim de embelezar

À sombra de uma figueira

Na inútil tentativa de acender um cigarro

Qual seria a história de Melquíades?

E os detalhes das guerras do Coronel Aureliano?

São muitas lacunas...


Na vida...


Esquecida a lâmpada apagada..




Nem de longe essa mágoa se desfaz

Sozinho, um homem não pode ficar

Lá embaixo na rua, passa o 592

Carroça mágica que enche de ansiedade

Os dias de quem mora no Leme

Bosques de bambus das manhãs seguintes

Um graveto estala atrás dos homens

“É UM TIGRE!!”

Farejava carne humana

E o menino,

coitado,

desde pequeno gaguejava...


Entardecia.


Triste, agarrei o azul daquela enseada e fiz um verso

Mesmo flutuando sobre um barco negro, saqueado por piratas

Nas cataratas do Nilo antes de Assuã

Nas corredeiras do Mekong antes de 68

E nós, tendo que buscar caminho pelas margens,

Represar, diques, atalhos

É preciso ir da foz às cabeceiras


Estrangeiro, ele aguarda na estação

Peregrino, sentado embaixo do letreiro

Viajante, o cabelo desalinhado e seboso

Ignorante, não sabe o país que está

Selvagem, nunca viu os mapas

Mendigo, pro reino dos bons ele se apresta

Largado, ele espera...




E não há espera maior


que a da fé.

Marechal Carleto Gaspar 1841

Marechal Carleto Gaspar 1841